“Imagine um mundo onde a oficina utilize impressão 3D para trocar o para-choque do seu carro após uma batida. Os mecânicos farão o download do design da peça pela internet e a produzirão na impressora enquanto você espera”. Para Paul Hodges, presidente da consultoria inglesa International eChem (IeC), essa comodidade não demora a se materializar e, como indício, aponta para a impressão 3D de peças de reposição de até 20 quilos já adotada pela fabricante de aviões Boeing. Luiz Fernando Dompieri, gerente geral no Brasil da 3D Systems, grife norte-americana do ramo, faz um contraponto. “Hoje em dia, a indústria aeroespacial utiliza a impressão 3D, principalmente de partes metálicas, porque os volumes de produção são baixos”. Nesses casos, diz, é possível economizar no investimento em ferramental e baixar custos nas operações. Além do mais, nota, a impressão 3D assegura mais flexibilidade para alterações de design, mediante ajutes no computador.
No setor plástico internacional, a impressão 3D ainda não ensaia voos futuristas para escantear a injeção, mas começa a ir além do cercado da prototipagem. Na Itália, por exemplo, a rediviva indústria de injetoras Sandretto, agora sob a batuta de controlador belga, já recorre à tecnologia 3D para fabricar determinados componentes metálicos de suas máquinas.
“Hoje em dia, leva-se de 15 a 36 horas para imprimir um para-choque, depender do tamanho e complexidade”, o porta-voz da 3D Systems exemplifica. “Na indústria automobilística, o aporte em molde para injeção é justificado. Uma montadora pode exigir 10 mil unidades por mês, então o investimento é amortizado de forma rápida”, Dompieri encaixa. Nos EUA, a empresa já imerge na concepção de uma impressora gerador de uma peça/min, diminuindo a demora atual do processo de construir um objeto de camada em camada.
As vendas da 3D Systems no Brasil foram alavancadas, de três anos para cá, com a chegada das impressoras de uso pessoal, que custam de R$ 6 mil a R$ 60 mil. O portfólio da 3D Systems também apresenta uma linha profissional, com modelos de porte intermediário e preços que variam de R$ 100 mil a R$ 1 milhão, bem como versões industriais, com máquinas que batem R$ 3 milhões. No mostruário, 100% importado, há modelos para todos os processos de impressão 3D, incluindo acumulação, que em regra usa acrilonitrila butadieno estireno (ABS) ou ácido polilático (PLA), por sinterização a laser, que molda poliamida (PA) em pó, e impressão de metais.
Kai Wender, diretor do escritório comercial no país da alemã Arburg, por ora o único fabricante de máquinas para transformar plástico com impressoras 3D no portfólio, faz coro a Dompieri e aposta no convívio das injeção com a tecnologia digital por um bom período ainda. “Com a impressão 3D é possível produzir peças plásticas funcionais, com geometrias refinadas, de forma individual ou em pequenas séries”, ele assinala. Essa novidade, ele antevê, vai mudar as etapas de desenvolvimento de produto. “O processo será mais dinâmico e diminuirá os intervalos entre criação, teste e comercialização”, Wender considera.
Freeformer, o equipamento de impressão 3D da Arburg, processa resinas convencionais como copolímero de acrilonitrila estiereno (ABS), elastômeros termoplásticos (TPE), policarbonato (PC) e poliamida (PA 12), cita Wender. A impressora conta com duas unidades de plastificação, podendo gerar peças de até dois componentes funcionais. A máquina é também indicada à produção de artefatos complexos, como os munidos de canais internos curvados ou de um elemento encaixado em outro de forma móvel, atributos ainda impensáveis na injeção, conclui o diretor.
Pela bola de cristal da Gartner Inc., empresa de pesquisa norte-americana, as vendas globais de impressoras 3D devem rondar 217.000 unidades este ano, acima do dobro do movimento de 2014. Nos EUA, a mesma fonte percebe em curso a massificação de modelos acessíveis, a preços inferiores a US$ 1.000. •