O governo aproveitou a ocasião do Dia da Indústria para trombetear, em 25 de maio último, medidas de renúncia fiscal para tirar o setor do acostamento. Primeira na fila dos contemplados com subsídios, a indústria automobilística hoje ofega sob 50% de ociosidade na capacidade nominal para montar 4,5 milhões de veículos, saldo inglório decorrente da demanda engessada por carros leves num ambiente de crédito e juros impraticáveis para uma classe média hiper endividada. Carros são a carótida do mercado de plásticos de engenharia e, face ao recesso no segmento, o reduto de polímeros nobres reforça a caça a outros portos mais seguros. Entre eles, a proeminência do Brasil como produtor de grãos e proteínas destaca as oportunidades em implementos agrícolas, hoje bafejado por demanda em brasa a ponto de, por vezes, sua indústria suar sangue para cumprir os prazos de entrega dos pedidos. Na ativa desde 1936 em Batatais, no oeste paulista, a Jumil integra a história dos implementos agrícolas nacionais como pioneira na fabricação de plantadoras adubadoras e do sistema pneumático de distribuição de sementes. Nesta entrevista, o gerente de inovação Túlio Sanzio Neves Bonfim comenta o bom desempenho da empresa na conjuntura atual e a contribuição dos plásticos para aguçar a excelência dos seus produtos.
Na trajetória de 87 anos da Jumil, quais as peças plásticas marcantes em seus modelos de plantadeiras, semeadoras, distribuidoras e equipamentos para hortaliças?
Destaco reservatórios de fertilizantes e sementes que foram substituídos de aço para polietileno (PE), os dosadores de adubo e os discos de sementes.
Quais as mais novas aplicações de plástico substituindo metal ou borracha em peças de seus implementos agrícolas?
Nos últimos anos, verificamos uma evolução muito grande nos chamados plásticos de engenharia. Permitem a utilização em diferentes aplicações como elementos de transmissão, protetores, condutores e até componentes estruturais. Entre os principais benefícios, podemos destacar a redução de massa, que permite maior economia de combustível, e o elevado desempenho de componentes, como em aplicações de intensa corrosão e abrasão. Não podemos deixar de ressaltar a contribuição desses materiais para a sustentabilidade, apoio verificável desde sua fabricação (os processos de transformação do plástico geram, na maioria das vezes, menos resíduos), passando pela utilização, manutenção (maior durabilidade, menor substituição) e reaproveitamento (o material de peça substituído por nova pode ser 100% reciclado).
A Jumil produz internamente e/ou terceiriza a fabricação de suas peças/componentes plásticos?
Hoje em dia, temos produtos fabricados internamente e outros comprados. As peças rotomoldadas são produzidas internamente, já as injetadas e sopradas são terceirizadas. A decisão por produzir internamente ou comprar passa por uma análise de custos e investimento.
Quais os tipos de plásticos mais consumidos em peças pela Jumil? Em média, qual o seu consumo do material no ano passado?
Devido à dimensão dos componentes (reservatórios de fertilizantes e sementes), PE é o material mais consumido pela Jumil, mas são significativas as quantidades utilizadas das composições baseadas em poliacetal (POM) e polipropileno (PP). Para PE, nosso consumo atingiu 340 toneladas em 2022, sendo 300 de resina virgem e 40 de material cinza.
O uso de plástico em peças de implementos agrícolas contribui para vantagens como zero corrosão, leveza das máquinas, economia de energia e de combustível. Para desenvolver aplicações de plásticos, a Jumil faz tudo sozinha ou tem ajuda de fornecedores das resinas?
Temos em nossa cadeia parceiros extremamente especializados, desde os fornecedores de matéria-prima até as indústrias de transformação. Todos os projetos contam com a contribuição e participação deles e a combinação de seus conhecimentos são a chave para o sucesso.
Qual o produto mais vendido pela Jumil em 2022 e para quais tipos de cultivo? E quais os principais lançamentos deste ano e seus diferenciais perante a concorrência?
A plantadora e adubadora JM 3080/3090 participou em 20% da receita de 2022 e a plantadora JM 8080/8090 TERRA respondeu por 19,9%. Ambos os equipamentos destinam-se ao cultivo de grãos de verão – ou seja, soja, milho, sorgo, algodão, feijão, entre outros.
Os principais lançamentos deste ano são os seguintes:
*TERRA T320: plantadora adubadora auto transportável, munida de depósito central de sementes e depósito longitudinal de fertilizantes, permitindo uma largura de transporte de 3,20 m. É ideal para transporte entre talhões ou rodoviário, sem perder a distribuição de peso ao longo do chassi da máquina e promovendo excelente corte de palha e plantabilidade. Disponível em versões de 15, 17, 19 e 21 linhas.
*EXPRESSA: plantadora só de sementes equipada com depósito central, permitindo uma largura de transporte de 3,2 m. Solução perfeita ideal para a condução entre talhões ou por modal rodoviário. Possui capacidade de 7.000 litros de sementes, promovendo uma autonomia de até 80ha sem necessidade de reabastecimento.
*GARRA: semeadora adubadora para cultivos de inverno com rendimento operacional 30% superior ao mercado. Disponível em 35 linhas com espaçamento de 17cm e opcional de kit de transporte longitudinal. Possui opcional de regulagem de capacidade do depósito, podendo alternar as capacidades de sementes e fertilizantes, possibilitando assim o plantio de adubo sem perda de rendimento operacional.
*PRECISA 8M³: distribuidor de fertilizantes e corretivos com capacidade de 8m³. Conta com comporta dupla de distribuição, permitindo o desligamento de um lado da máquina para a realização de operações de bordadura ou arremates.
*3080/3090 SUPERA: uma renovação visual e técnica da plantadora adubadora 3080/3090, nossa máquina de maior sucesso. Ganhou novos depósitos com maior capacidade de fertilizantes e sementes e melhor escoamento, além da renovação de todo o chassi.
Como avalia as perspectivas para suas vendas este ano?
Tivemos um triênio bastante satisfatório e estamos enfrentando um 2023 com alguns desafios de mercado, principalmente em relação à dificuldade de financiamento, altas taxas de juros e queda no preço de commodities, o que retira um pouco o apetite do produtor rural, principalmente porque o parque de máquinas sofreu grande renovação nos últimos anos. Tudo isso indica que o nosso cliente deve buscar inovação tecnológica, ressaltando a importância do investimento em lançamentos. Durante as feiras agro, a procura pelo novo portfólio soma cerca de 40% da receita dos eventos. No total, a Jumil aplicou cerca de R$12 milhões no desenvolvimento de novos produtos.