Impasse geopolítico na petroquímica mundial

Setor sente o impacto do fim da globalização, nota o consultor Paul Hodges
Impasse geopolítico na petroquímica mundial

“Sempre há quem argumente que ninguém podia ter visto a tendência a caminho, quando seria o caso de se perguntar se tinha alguém olhando na direção certa”. Na edição de junho de eu relatório mensal, Paul Hodges, CEO da consultoria New Normal, sintetiza assim o choque com que o mercado vem absorvendo a brusquidão das mudanças em curso na geopolítica da petroquímica/química, indústria inundada em excedentes que jogam a Europa na linha de fogo, por falta de competitividade. “Em vigor nos últimos 30 anos, a globalização e a tese da economia como mãe das tomadas de decisões cederam lugar a um mundo mergulhado num jogo de soma zero, onde os ganhos de um decorrem das perdas de outro”, ele associa.

Antes dessa colisão com a vida real, relata Hodges, políticos e empresários confiavam que a demanda internacional favoreceria a manufatura em países emergentes e seu desenvolvimento sócio econômico, tornando bens de consumo mais acessíveis ao mercado ocidental, linha de raciocínio responsável pelo controverso ingresso da China, em 1997, na Organização Internacional do Comércio. Para Hodges, todas as certezas então norteadoras de investimentos petroquímicos pelos EUA desceram pelo ralo: a) o barril do petróleo se eternizaria em US$100; b) a China cresceria sempre dois dígitos ao ano; c) a globalização continuaria a regulamentar o comércio.

Pelo rastreio da consultoria Icis, o grosso do atual excedente mundial de PE, a resina mais consumida, provém da Ásia. Inclusa a China, o continente fechou 2023 com capacidade instalada da ordem de 62 milhões de t/a da poliolefina. Nesse contexto, Hodges enxerga a China numa encruzilhada entre a cooperação e confronto internacional e sua decisão afetará o mercado mundial por décadas. Em seu relatório, o consultor alerta para sinais de que a China pende para a confrontação, com base em observações dos empresários de que o conceito de parceria em negócios está sendo substituído por um foco ideológico, evidenciado no fortalecimento do controle do governo em companhias locais e na ênfase nas exportações chinesas de manufaturados como meio para reaprumar a economia  e a geração de emprego, alternativa hoje olhada de soslaio por  países concorrentes e, ao mesmo tempo, clientes da China.

Em meio a esse nevoeiro, Hodges percebe a indústria química/petroquímica da Europa ultra pressionada pelos custos voláteis de energia e importações ultra em conta minando preços e margens dos produtos do continente, empurrando-o para a desindustrialização, uma situação emergencial para políticos, empresários e investidores locais. “Os vencedores na Europa serão aqueles cientes da necessidade de uma grande mudança  no setor e de estratégias inovadoras para entregar faturamento e lucro”, pondera Hodges. “Não há tempo a perder”.

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