Diminuir o tempo do banho ajuda a baixar a conta da energia e água. Esta regra da economia doméstica virou notícia durante a crise hídrica, ainda não zerada no Sudeste, e quase ganhou força de lei na conjuntura atual para uma população cujo poder de compra empobreceu perto de 9% entre 2014 e 2016. Aliás, ela tem sido, ao pé da letra, uma ducha de água fria para a gaúcha Natiplast. Com portfólio puxado por registros e duchas higiênicas, especiais e individuais, o balanço da transformadora presidida por Gelson Oliveira hoje escapa por pouco de ir a pique. “O faturamento tende a permanecer estável este ano, amparado em dois carros chefes: a demanda do segmento de esteiras para automação e as parcerias de prestação de serviços na injeção de terceiros”, ele analisa. Entre os injetados fornecidos, constam utilidades domésticas e, neste ponto, o negócio da Natiplast conta com a escora da JR Oliveira, ferramentaria independente controlada pelo empresário e focada em moldes de injeção.
Oliveira não hesita em listar a atual depressão da economia como a pior que a Natiplast deglutiu em 16 anos de estrada. “É a mais grave por ser a mais longa; a empresa já acumula dois anos de quedas consecutivas em suas receitas”, assinala. Duchas e registros figuram na pesquisa mensal entre centenas de lojistas empreendida pela Associação Nacional do Comércio de Materiais de Construção (Anamaco). A entidade não abre ao público os dados da trajetória de cada uma das 63 categorias de produtos monitorados. Embora a expectativa, no plano geral, seja de reação nas vendas durante o semestre atual, a tiracolo do astral do mercado revigorado pela mudança de governo (ver seção 3 Questões), analistas do quilate de Luis Roberto Wenzel Ferreira, diretor de vendas, marketing e inovação do grupo Tigre, saúdam com reservas esta virada ensaiada sob a alegação de que ela parte de uma base de crescimento muito baixa – o exercício já recessivo em 2015.
Na esfera específica do mostruário da Natiplast, Gelson Oliveira informa que as vendas de suas duchas se mantêm 30% abaixo do normal, enquanto os filtros decloradores, devido ao seu maior valor agregado, acusam recuo da ordem de 50% em seu movimento nestes últimos dois anos de pindaíba econômica. “O segmento de esteiras para automação também revela declínio de até 30% em suas vendas neste biênio”, completa o industrial.
Na sede em Caxias do Sul, o parque fabril da Natiplast reúne 20 injetoras hidráulicas de pequeno e médio porte, seis desumidificadores, quatro misturadores, seis moinhos, quatro torres de resfriamento, um refrigerador de água e uma ponte rolante de três toneladas. Oliveira descarta a hipótese de reduzir a intervenção manual no processo não só por força da situação do caixa mas por peculiaridades da operação da Natiplast. “Como também injetamos para terceiros uma grande diversidade de artigos e por serem baixos os volumes que fornecemos de nossos produtos, tanto na linha de banho quanto no segmento de esteiras, não temos projetos de automação em vista”. No mesmo diapasão, ele insere terem sido postos no freezer pela recessão os planos de desenvolvimento de produtos e de renovação do parque industrial.
“No momento, processamos em média 26 t/mês de resinas, rodando com 60% de ocupação da capacidade contra 55% em 2015”, dimensiona Oliveira. “Mas noto uma tendência de melhora nos últimos meses”. Oxalá. •