Nada bate o retorno mamão com açúcar do rentismo, com a Selic a 14.25% até o fechamento desta edição. Diante da opulência da taxa de juros e da segurança da aplicação, a ideia de se investir em manufatura quase beira a insanidade. Qual o nexo em aportar recursos em produção, tecnologia, mão de obra etc se a caramelada rentabilidade proporcionada pelo mercado financeiro flui fácil para o bolso, sem o stress, burocracia e incertezas característicos de empreendimentos industriais no Brasil?
A transformação de plástico é um caso exemplar da redução do poder de atrair investimentos, notada nas frentes em geral da manufatura nacional. Lógico que os investimentos no setor continuam fluindo, mas em regra com comedimento e ficam a cargo de empresas consolidadas, empenhadas em ampliar a escala e em manter ou aumentar market share. É raríssimo no Brasil que, hoje em dia, tais aportes de recursos provenham de novos entrantes na transformação de plástico. As razões incluem, além da sedução do rentismo, a polêmica e infundada reputação ambiental do plástico (pessimamente defendida) e o desinteresse dos jovens por fazer carreira nessa indústria, um problema também extensivo à dificuldade de empresários da primeira leva de fundadores de contarem com sucessores dispostos e preparados para perpetuar o controle familiar nas bem sucedidas empresas transformadoras que eles estão deixando.
Hoje em dia, a chamada geração Z dá as costas para graduação em cursos como Química ou Engenharia e fazer carreira em indústrias. Os jovens se identificam bem mais com as oportunidades de voar alto e rápido em serviços, TI e no mercado de capitais.
O Ranking Competitividade Brasil (2023-2024), elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), compara o país a economias que competem no mundo em produtos industriais semelhantes: Coreia do Sul, Países Baixos, Canadá, Reino Unido, China, Alemanha, Itália, Espanha, Rússia, Estados Unidos, Turquia, Chile, Índia, Argentina, Peru, Colômbia, México. O Brasil ficou em último lugar no ranking e os fatores que mais afetaram seu desempenho foram ambiente econômico; desenvolvimento humano e trabalho e educação.
O novo elemento a pretejar essa situação nefasta para indústrias como a da transformação de plástico atende por Donald Trump. Com a guerra comercial que instaurou, ele tem promovido a volta do reacionário protecionismo e o desmonte das cadeias de produção e suprimento transnacionais, infundindo por tabela extremo temor e insegurança nas intenções de investimentos produtivos – e o plástico participa de todas as frentes e vertentes da manufatura. Nessas horas, o capital de risco busca refúgio em posições ultra conservadoras no quarto do pânico financeiro, onde não se bota dinheiro em atividades dependentes de mão enfiada na graxa.
No Brasil de hoje, esse quadro piora, pois acrescido de um fogo cruzado que atordoa o empresariado fabril. De um lado, o governo, sedento por popularidade, busca estimular o consumo com medidas populistas de distribuição de renda e subsídios e com fobia a cortar gastos. Do outro lado, para combater o decorrente desequilíbrio nas contas públicas e a escalada da inflação e para refrear a demanda e a volatilidade do câmbio, o Banco Central faz uso da sua mantida independência elevando as taxas básicas de juros à estratosfera, para deleite dos rentistas. Da parte de quem se dedica a produzir para gerar riquezas e melhorar o padrão de vida do país, haja resistência a impacto.•