No século passado, não era raro encontrar no Brasil transformadores de plástico sem noção precisa da participação da energia elétrica em seus custos de produção, pois em regra trabalhavam de olhos fixos no preço da resina e encargos trabalhistas. Mas a piora da carga tributária e custos de geração, transmissão e distribuição renderam ao Brasil o renome de país de energia barata (dada a opulência de fontes) e conta de luz cara. Os transformadores de injetados foram então à caça de meios para domar as amargas despesas com eletricidade e, enfim, a ficha caiu para a conveniência da máquina elétrica, por muitos anos menosprezada por eles. Nesta entrevista, Michel Carreiro, gerente geral da subsidiária brasileira da Sumitomo-Demag, quintessência mundial das injetoras elétricas, revela como esta sensibilização pelo bolso catapultou as vendas domésticas de seus equipamentos em detrimento da procura esfriada pelas linhas hidráulicas, dependentes de maior consumo da cara eletricidade.
Por que, nos últimos 20 anos, o setor automotivo cedeu para embalagens a liderança nas compras de injetoras no Brasil?
Não é de hoje que o mercado de embalagens cresce a passos largos, pois as aplicações são cada vez mais abrangentes nos diversos produtos em todos os domicílios dos brasileiros. É crescente o avanço das embalagens plásticas injetadas na substituição de latas, vidros e papel, além de, em alguns casos, deslocar embalagens plásticas moldadas por outro processo, como sopro, termoformagem, etc. Este fato é um grande gatilho do progresso da injeção de embalagens frente a setores como o automotivo.
Outro fator a destacar: a forte queda no volume de produção de veículos no Brasil, mercado cujo ápice ocorreu de 2012 a 2014 e, desde então, navega em nível equivalente a quase a metade do volume de autos montados neste período.
Ao transpor esse quadro para o movimento das injetoras Sumitomo-Demag no mercado interno, constato que o setor de embalagens corresponde a cerca de 40% de nossas vendas anuais. Por sua vez, autopeças não chegam a 20%. Outros setores relevantes são os de peças técnicas e produtos de consumo em geral, mobilizando também em torno de 40% da comercialização de nossas injetoras.
Quais os tipos específicos de embalagens que mais demandam injetoras para expandir sua produção no Brasil hoje em dia?
Nas prateleiras do varejo, um grande destaque é o setor de alimentos, pois o consumidor mais exigente, enxerga um produto de categoria premium combinado por uma embalagem de maior requinte, caso do mercado de sorvetes e açaí. Além da qualidade melhor da embalagem rígida, sua combinação com processos de decoração, a exemplo da rotulagem no compartimento do molde da injetora (tecnologia In Mold Label/IML), atrai a percepção de um produto/apresentação de altíssimo padrão.
Ao lado dos alimentos, o setor da construção civil contribui intensamente para a injeção plástica ampliar seu espaço. A substituição de latas por baldes plásticos é um exemplo.
Quando as injetoras elétricas e híbridas tiraram as hidráulicas da liderança das vendas no Brasil e como é a relação entre essas duas tecnologias no movimento das máquinas da Sumitomo-Demag no país.
Este processo evolui há pelo menos 10 anos. No passado, a injetora elétrica era praticamente um nicho, máquina para poucas aplicações, como celulares, conectores, peças de extrema precisão e itens para área médico-hospitalar. O pioneiro na tecnologia é o Japão, onde a Sumitomo-Demag constrói máquinas elétricas há mais de 30 anos. Pouco a pouco, com o aumento da produção puxado pela demanda, em especial da Ásia e EUA, a Sumitomo-Demag ganhou competitividade a ponto de, hoje em dia, liderar no mundo a fabricação de injetoras elétricas. Devido às muitas vantagens perante as linhas convencionais, é crescente no mercado a busca por esta máquina, mesmo a preço um pouco acima dos modelos hidráulicos ou híbridos.
Em nossas vendas no Brasil vigora a proporção de 90 para elétricas diante de 10 para híbridas. Na Europa, a paridade é algo menor, mas depois da crise energética sofrida pelo continente desde 2022, por causa da guerra Rússia x Ucrânia instabilizando a disponibilidade de gás natural russo, o avanço da demanda europeia alavancou muito nosso negócio global de injetoras elétricas.
Qual a parcela da energia nos custos médios de produção de um transformador de injetados no Brasil?
Ao lado do gasto com matéria-prima, o da energia elétrica é a segunda maior parcela na composição de custos de produtos injetados em geral. Mesmo com sua matriz energética equilibrada, o Brasil ainda é um dos países de eletricidade mais cara. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), este custo quase dobrou nos últimos 10 anos. Para combater o encarecimento, a máquina elétrica se torna uma solução muito viável do ponto de vista de retorno de investimento, pois chega a economizar acima de 60% quando comparado a injetoras hidráulicas ou híbridas. Essa redução no consumo energético impulsionou a procura por esta tecnologia.
A máquina híbrida foi a ponte, para o mercado mundial, da injeção hidráulica para elétrica. Como essa transição já terminou, considera a linha híbrida a caminho da extinção?
Sem dúvida, essa transição da tecnologia da hidráulica para elétrica passou – e muito bem – a meio caminho pela linha híbrida. Foi uma evolução natural, de ajuste às novas exigências de aplicações mais complexas aliado ao apelo da economia energética. Mas vejo que as máquinas híbridas ainda têm um bom e longo papel a cumprir, pois ainda existem determinadas limitações em alguns modelos de elétricas, em especial o tema tamanho x força de fechamento. Máquinas elétricas de grande porte se tornam extremamente caras e por isso as híbridas ainda se mostram eficientes e viáveis economicamente.
Como a inteligência artificial poderá influir para aumentar a expressiva economia de energia proporcionada pelas injetoras elétricas?
A evolução da inteligência artificial na injeção de plásticos, vai passar, obrigatoriamente, pela tecnologia de máquinas elétricas. É praticamente uma simbiose, pois combina a extrema precisão com a melhoria de uma eletrônica capaz de operar e desenvolver a si própria em processos de ‘machine learning’. Uma tecnologia recém-lançada pela Sumitomo-Demag, o recurso activeMeltControl, ilustra o que a inteligência artificial pode entregar numa injetora elétrica. Ele efetua a compensação automática das variações de viscosidade da matéria-prima ciclo a ciclo, eliminando possíveis refugos nos próximos ciclos.