Grupo Oben encaminha compra da Terphane

Conglomerado peruano se tornará o único produtor de BOPET na América do Sul
Terphane: América Latina mobiliza maior parcela das vendas de BOPET.
Terphane: América Latina mobiliza maior parcela das vendas de BOPET.

A corporação norte-americana Tredegar abriu setembro anunciando concordar em vender ao Grupo Oben, pelo montante de US$ 116 milhões livre da dívida da transação, um de seus dois negócios em flexíveis plásticos: a operação de filmes de PET biorientado (BOPET) concentrada na brasileira Terphane. A maior parcela da produção cabe à unidade em Pernambuco e a dos EUA comparece com a fração complementar. Para a formalização definitiva, a transação depende dos avais de órgãos regulatórios do Brasil e Colômbia. A Terphane se esquivou de responder as perguntas de Plásticos em Revista sobre o negócio, enquanto o peruano Oben é notório por não dialogar com a imprensa fora dos releases.

Em apresentação este ano à cúpula da Tredegar, José Bosco Silveira Junior, presidente da Terphane assinalou estar em curso, no período 2022-2023, o acréscimo à capacidade global de BOPET da ordem de 2 milhões de toneladas, volume que ele identifica como 40 vezes o tamanho da operação total da Terphane que, segundo acentuou, rodou a pleno entre 2019 e 2022. Indicadores liberados em agosto pela Tredegar delimitam que, entre julho de 2022 e julho de 2023, as vendas totais da Terphane (Brasil e EUA) atingiram US$ 152 milhões (73% provenientes da América Latina) e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US 16.4 milhões. Em retrospecto, as vendas em 2019 somaram US$ 134 milhões; em 2020, US$ 135 milhões; em 2021, US$ 140 milhões e em 2022, US$ 168 milhões. Eis a sequência dos indicadores anteriores de Ebitda: US$ 11.2 milhões em 2018; US$ 14.7 milhões em 2019; US$ 30.6 milhões em 2020; US$ 31.7 milhões em 2021 e US$ 27.5 milhões em 2022. Quanto aos volumes de vendas de BOPET registrados pela Tredegar, a Terphane comercializou 105 milhões de libras (cerca de 48.000 t) em 2019; 113 milhões (cerca de 51.000 t) em 2020; 105 milhões em 2021; 107 milhões (cerca de 49.000 t) em 2022 e, no exercício entre julho de 2022 e 12 meses depois, 97 milhões de libras (cerca de 44.000 t).

Além do zelo na gestão e produtividade, a Terphane floresceu no Brasil por ser a única produtora de BOPP no país, isolamento aliás fortalecido por uma profusão de direitos antidumping solicitados pela empresa contra importações concorrentes, pedidos em grande parte atendidos pelo governo. Em 2008, por exemplo, obteve da Câmara de Comércio Exterior a sobretaxa para BOPET trazido da Coreia do Sul, Índia e Tailândia. Em 2026 findam os cinco anos de vigência do antidumping aprovado para BOPET do Egito, Índia e China. O ano que vem é o último do quinquênio de duração da sobretaxa estipulada em 2019 para filmes do Bahrein e Peru.

Pois o único produtor de BOPET do Peru, listado pela Tredegar entre os maiores concorrentes internacionais da Terphane, chama-se Grupo Oben, justamente o futuro controlador dessa transformadora. Em cena desde 1991, ele revela em seu site orçar sua atual capacidade mundial de BOPET (exclusive Terphane) em 180.000 t/a. Mas seu poder fogo vai muito além: 500.000 t/a de filmes biorientados de PP (BOPP); 58.000 t/a de filme plano de PP (CPP); 40.000 t/a de filmes biorientados de poliamida (BOPA); 145.000 t/a de filmes metalizados; 5.000 t/a de coating; 33.000 t/a de termoformados. No seu portal, o Grupo Oben exibe sete plantas na América Latina e duas na Europa, um cálculo que, além de excluir a Terphane, não abrange a aquisição divulgada em julho da unidade mexicana de flexíveis (BOPP CPP, PE e metalizados) da marca Krista Films. Cliente cinco estrelas da alemã Brückner, maseratti da tecnologia global de extrusão, o Oben comprou duas linhas de BOPP e uma de BOPET entre 2020 e 2022.

No release sobre a venda da Terphane, Gonzalo Belaunde, CEO do Oben Group, destaca sua condição de produtora de BOPET no Brasil e nela enxerga uma plataforma para expandir a capacidade produtiva de outros filmes do seu conglomerado, como BOPP.  Se onde há fumaça há fogo, trata-se de cogitação perturbadora para os quatro produtores de BOPP no país (Vitopel, Polo, Valgroup e Innova), cuja capacidade total é arredondada por analistas em 200.000 t/a e atende o mercado interno, orçado em 180.000 t/a, com maquinário não renovado há mais de 10 anos, atesta fonte da Brückner. Do seu lado, o Grupo Oben é reconhecido por consultorias como o quarto produtor global de BOPP, é exportador regular do filme para o Brasil e, antes da pandemia, apregoou investimento não concretizado numa planta de 50.000 t/a de BOPP em São Paulo. Pelo visto, esta estreia no país acontecerá em Pernambuco e fica no ar uma incógnita: se a evolução da demanda  doméstica de BOPP (Oben domina este segmento no resto da América do Sul) será compatível com sua disputa por cinco produtores locais.

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