Fratura exposta

A balança comercial de resinas brasileiras fechou 2014 com déficit aproximado  de 560.000 toneladas no ano passado.  Aos olhos de Simone de Faria, sócia da consultoria 2U, tão cedo o Brasil não se livra dessa bola nas costas no comércio exterior. De um lado da balança, pesam o barril de petróleo a US$ 50, a rota do gás de xisto nos EUA e consequente barateamento internacional das resinas, além de deflação na Europa e China em desaceleração. Do outro, figuram a recessão brasileira, câmbio volátil e nas alturas, os entreveros de praxe quanto ao preço e disponibilidade de nafta, crise hídrica e de energia. Noves fora, ela constata, as importações de resinas tendem a recuar num primeiro momento. “Mas o dólar alto também influencia os custos internos e em dois meses os preços se estabilizam”, julga. “Assim, as importações devem voltar a participar do consumo interno nos mesmos patamares de 2014”. O transformador brasileiro, considera a analista, aprendeu a trabalhar com material importado e quer uma segunda opção de fornecimento de matérias-primas, “prática normal e saudável, principalmente pelas incertezas a que o mercado está submetido em relação à disponibilidade da resina doméstica”.
As importações de polietilenos (PE) rondaram a marca de 1 milhão de toneladas em 2014, desempenho atribuído pela consultora a um balaio indigesto. “O aumento dessas importações decorre de novas capacidades no mundo (ainda não computadas as unidades de PE pela rota do xisto nos EUA ), menor demanda,  produto nacional mais caro, falta de outros fornecedores locais, fortalecimento da cultura de importação no transformador, facilidades tributárias para revenda de importado, Real depreciado etc.”, ela assinala, chamando a atenção para o fato de que players importantes estejam ganhando terreno no Brasil, para suas futuras disponibilidades de PE atrelado à rota do gás de xisto.
Por essas e outras, Simone vê a cadeia plástica nacional com fratura exposta a tirambaços das importações de materiais e transformados “No plano geral, pois existem boas empresas no ramo, o grande problema da revenda de resina importada é a falta de estratégia de longo prazo”, aponta a consultora. “Quer ganhar dinheiro rápido e fácil, mais do que atender o cliente com bons serviços e não valoriza o produto. Seu negócio é vender muito e ganhar no giro”. O bicho pega, nota a especialista, quando houver queda de preços, como ocorreu nos últimos meses. “Aí as revendas autônomas perdem dinheiro e muitas vezes o interesse pelo negócio”, percebe Simone. “Na verdade, todos perdem, pois estão com custos de estoque mais elevados”.
Quanto ao horizonte de importações de transformados, Simone o considera o  risco mor para a cadeia brasileira do plástico. “A indústria de transformação está em situação bem ruim e sem perspectivas animadoras”, ela diagnostica. “Altos custos e juros, menor demanda, e inflação crescente têm levado a demissões e queda na produtividade, tornando o importado ainda mais competitivo. Nesse quadro, trazer o artefato produzido lá fora seguirá sendo mais interessante para a indústria final, mesmo com o dólar mais alto”. Haja energia para se tentar acender uma luz. •

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