Após alardear ter passado o rodo em mais de 700 pesquisas científicas, a entidade Food Packaging Forum promove na mídia global a publicação recente de relatório com o propósito de desnudar um calcanhar de Aquiles na sustentabilidade dos plásticos. Em suma, o documento conclui que plásticos reciclados e reutilizados em embalagens de alimentos podem acumular e liberar produtos químicos danosos à saúde humana. Entre eles, constam disruptores endócrinos e carcinogênicos transpostos aos polímeros pós-consumo durante o processo de reciclagem. O release do relatório não desce a pormenores elucidando se o estudo se refere à reciclagem mecânica ou química, ou então, a alguma outra tecnologia de recuperação de sucata plástica ainda por ser homologada por agências regulatórias top of mind, como a norte-americana Food and Drugs Administration que, por sinal, já aprovou plásticos grau alimentício resultantes da reciclagem química e, no caso da mecânica, PET recuperado pelo processo bottle to bottle.
O relatório publicado pela renomada universidade de Cambridge também estende o tom alarmista às utilidades domésticas de plásticos. Sua análise trombeteia que talheres compostáveis são, em regra, constituídos de resina melamina formaldeído combinada com pós biodegradáveis ou fibras naturais, tipo bambu. Pois bem, apregoa este fórum arauto da inteligência científica, a melanina contamina o fígado e o emprego de fibras naturais diminui a estabilidade da resina termofixa, possibilitando sua migração.
Especializada ou não, a imprensa mundial, caso do segmentado portal Resource Recycling, tem mastigado e reproduzido sem pestanejar o release do relatório do Food Packaging Forum. Ele se apresenta como entidade sem fins lucrativos e devotada à partilha de imparciais informações científicas sobre materiais em embalagens de alimentos e o impacto da utilização deles no metabolismo humano. Com sede na Suíça, o fórum tem a idoneidade marcada por tantos buracos quanto os que granjearam fama aos queijos do país, conforme constatou Plásticos em Revista, ao que parece o único canal de mídia a se dar ao trabalho de vasculhar o site da entidade. Fato omitido pela imprensa: os doadores de recursos ao fórum, citados na sua apresentação institucional, são todos fabricantes de vidro – Bucher Emhart Glass, Consol, Owens Illinois, Vetropack, Verallia, Vidrala e BA Glass. E entre os demais contribuintes, a única referência a plásticos é o Plastic Solution Fund. Trata-se de projeto da entidade Rockefeller Philanthropy Advisors com a missão declarada de libertar o mundo da dependência dos plásticos, enxergados como materiais poluentes. Na vida real, portanto, dá o que pensar a isenção do Food Packaging Forum e sua transparência, tal como a origem das doações angariadas, leva jeito de vidro fumê.