Escalada da capacidade e interação com a sustentabilidade diferem a empresa no reduto de sacos e sacolas
Apesar do sucesso desfrutado como soluções de envase, sacos e sacolas de saída de caixa integraram a primeira fornada de produtos plásticos repudiados pela economia circular, em razão do uso único, coleta trabalhosa e reciclagem mecânica mais complexa que a de recipientes rígidos. No Brasil, o grupo Extrusa-Pack é um ponto fora da curva em seu ramo, pela garra com que defende os sacos e sacolas da ira ambientalista, alinhando-os aos mandamentos da sustentabilidade através de iniciativas como o uso de reciclados, bioplásticos, materiais biodegradáveis ou a introdução de versões compostáveis de produtos seus, como sacolas. Com reações desse naipe e um marketing sem igual na cadeia plástica, com aparições constantes da empresa e seus lançamentos nas redes sociais e TV aberta, os saltos na produção e vendas da Extrusa-Pack destoam dos balanços setoriais que constatam calmaria na demanda nacional de sacos e sacolas flexíveis em geral. Nesta entrevista, a gerente comercial Gisele Barbin discorre sobre a contínua expansão da empresa e as oportunidades vislumbradas, em prol da economia circular, em recentes ajustes implantados e em vias de possível inserção nas legislações relativas às sacolas.
Além de cobrir melhor a demanda regional e do acesso aos benefícios fiscais e ao PE importado com isenções tarifárias, quais os chamarizes que levaram o grupo, desde o ano passado, a produzir flexíveis na Zona Franca?
Principalmente os incentivos fiscais e, a seguir, o atendimento do mercado do Norte. Toda a logística nos obriga a ter seis estoques e, consequentemente, muito capital investido: os materiais em transporte, estoque em Manaus de matéria-prima e de bobinas para impressão em São Paulo.
Qual a capacidade e o mix de produção da filial em Manaus?
A fábrica partiu com capacidade para fornecer 1.500 t/mês de bobinas para sacolas e sacos para lixo e já estamos às voltas com um projeto de ampliação. Alguns equipamentos foram transferidos de outras plantas do grupo. Realmente, investir em sacolas é no mínimo desafiador, dada a quantidade de leis limitando o uso e permitindo sua venda principalmente pelos supermercados. Sentimos, porém, que as sacolas diminuíram de peso, até porque suportam bem muita carga e, por buscarmos a economia de materiais aplicados, as espessuras foram reduzidas. O que nos faz transformar a mesma capacidade em quilos, mas aumentando a quantidade de unidades, precisando assim de mais tempo hora/máquina.
Em relação aos sacos para lixo, a concorrência é gigantesca. Aproximadamente 40% do share de mercado é composto por pequenas indústrias, segundo a consultoria Varejo 360. Buscamos apenas uma competitividade maior. O setor já se mostra um tanto saturado, com grande número de fabricantes oferecendo o mesmo produto para a mesma demanda. Não apresenta um ambiente favorável à entrada de novos participantes. Por isso desenvolvemos um mix diferenciado, sacos para lixo biodegradáveis, de fonte renovável (nota- PE Verde da Braskem), com essência e alças, inclusive em formato de sacolas, sendo utilizadas para amarrar. Trata-se de um desenvolvimento que traz uma praticidade incrível e foi patenteado pelo grupo. Por sinal, são os sacos com alças mais em conta da categoria.
Nos levantamentos recentes da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), a categoria sacos e sacolas, alvo de ofensiva ambientalista, está entre aquelas com desempenho insatisfatório, a ponto de sua participação no mercado de flexíveis vir declinando. Qual a visão do grupo sobre este cenário adverso e porque, mesmo assim, segue investindo no segmento, caso da planta em Manaus?
Realmente, o quadro é desafiador e por isso, aliás, a otimização da produção e a redução na carga tributária com os incentivos fiscais foram fatores prioritários na decisão de investir na Zona Franca. Esperamos que, com a permissão recentemente oficializada de adição de conteúdo de plástico pós-consumo reciclado (PCR) na norma técnica das sacolas, as críticas e leis de proibições ao seu uso diminuam. Afinal, trata-se de excelente solução para a economia circular, pois poupa matéria-prima virgem e fomenta a reciclagem e a reutilização do produto.
Além do recente investimento em Manaus, foi inaugurada em fevereiro último nossa segunda unidade de reciclagem de aparas e resíduos pós-consumo. Fica em Guarulhos, Grande São Paulo, agregada a uma das plantas de sacolas personalizadas do grupo. Nossa primeira recicladora opera no Parque Novo Mundo, na zona norte paulistana.
Flexíveis como os produzidos pelo grupo são hoje, na condição de resíduos pós-consumo, pouco valorizados pelos catadores na coleta e considerados onerosos e complexos de serem reciclados mecanicamente. O grupo Extrusa procura incrementar a sustentabilidade de seus sacos e sacolas recorrendo a PE de fonte renovável e a tintas base água de impressão. Quais os próximos passos nesse sentido?
O grupo Extrusa sempre adicionou aparas industriais aos produtos, com reciclagem própria garantimos a qualidade do grão. Esse know-how favoreceu a aplicação de plástico pós-consumo em até 100% em alguns sacos para lixo de maiores espessuras. E agora, com a permissão formalizada na regulamentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), pretendemos adicionar nas sacolas até 30% de PCR.
Biotipo sarado
Com cerca de 40 anos de milhagem de voo, o grupo Extrusa-Pack conta com sete fábricas – três na capital paulista, uma em Guarulhos (SP), uma em Resende (RJ), uma no Paraguai e a filial mais recente roda desde o ano passado em Manaus. Em média individual, elas produzem 3.000 t/mês de embalagens, um mostruário integrado por linhas de plástico virgem e reciclado, compostáveis, biodegradáveis, retornáveis e de papel. O grupo nacional conta ainda com centro logístico (SP), transportadora e dois centros de reciclagem de suas aparas e refugo pós-consumo, além de 70 lojas no país. Sob controle familiar, a empresa é presidida por Francisco Segundo Rodrigues e Juan Maria Barcos Rodriguez. Sucessores dos dois sócios também participam da administração do grupo e das fábricas, um efetivo que inclui Marcelo Paulo Rodrigues, Larissa Rodrigues, Leandro Barcos, Fabiana Barcos e o sócio Roberto Antônio Brito.
Plástico reciclado está mais caro que resina virgem e deve continuar assim por bom tempo, devido à superoferta mundial de PE e PP novos em folha. Como o grupo está considerando este fator encarecedor em sua eventual estratégia de, em apoio à sustentabilidade, aumentar o uso de reciclado em seus produtos e cujas vendas aliás são primordialmente movidas a preço?
Acreditamos numa manutenção de preço, pois, com o decreto do ano passado, fomentando as cooperativas de reciclagem, num cenário em que terão dupla renda comercializando crédito de carbono, outras irão surgir.
Também são estimulantes a inserção produtiva e a remuneração de cooperativas de catadores de materiais recicláveis na prestação de serviços de coleta, triagem e transporte de embalagens de plástico.
Percebemos, a propósito, um aumento na produção de equipamentos como lavadoras e recicladoras, a ponto de termos de aguardar meses pela nossa última aquisição. Com isso, imagino, há um aumento na oferta de PCR, o que contribuirá para balizar os preços.
É importante lembrar que está em discussão, no Ministério do Meio Ambiente, um decreto que institui um sistema de logística reversa de embalagens plásticas. O objetivo é aumentar a reciclagem do plástico e evitar o descarte inadequado nas ruas, rios e mares. A medida integra o Programa Lixão Zero e o Programa Nacional de Logística Reversa e está alinhada ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Por meio da logística reversa, as embalagens de plástico retornarão para o ciclo produtivo, com geração de empregos verdes, preservação de recursos naturais e redução da poluição ambiental.
Apesar dos esforços do grupo para destacar a sustentabilidade de seus produtos, o fato é que cresce a rejeição da opinião pública a flexíveis de uso único como sacos e sacolas. Supermercados, por exemplo, trombeteiam na mídia a intenção de substituir sacolas descartáveis assim que possível. Por quais motivos os desenvolvimentos de transformadores como a Extrusa Pack para alinhar seus sacos e sacolas com a sustentabilidade não são reconhecidos e sensibilizam o público final?
Acredito que a rejeição ao plástico de uso único se dá pelos ambientalistas – e com certa razão num caso específico em nosso segmento. Sacolas muito finas por exemplo não favorecem seu emprego como sacos para lixo, pois os consumidores têm preferido nossos produtos sustentáveis; são os que mais crescem em vendas.
Leis como as homologadas em Brasília, permitindo a aplicação de sacolas reutilizáveis nos comércios, favoreceram muito. Um dos artigos cita o seguinte em parágrafo único (alterado pela Lei 6864 de 2021). ‘Os estabelecimentos comerciais devem estimular o uso de sacolas reutilizáveis, assim consideradas aquelas que sejam confeccionadas com material resistente e que suportem o acondicionamento e o transporte de produtos e mercadorias em geral.’
O grupo Extrusa considera que, com a restrição das sacolas, veremos a necessidade de o consumidor comprar os sacos para lixo. Mas a ampliação se dará à medida em que houver necessidade, pois, como já mencionei, o mercado está bem saturado no momento.