Jornalistas do New York Times (NYT) entrevistaram o fino da elite ambiental no seminário híbrido anual Climate Forward (Reformismo Climático, em tradução livre), realizado em 24/9 em Nova York. Uma das últimas conversas do programa foi com Vicky Hollub, CEO da Occidental Petroleum (Oxy), petrolífera americana com bíceps em PVC. Logo no início, ativistas da ONG Climate Defiance (Desafio Climático) subiram ao palco esbravejando contra a presidente, como personificação de um setor explorador de fontes fósseis e carrasco da natureza. Após 40 minutos de gritaria e desfile de faixas e cartazes, os intrusos saíram algemados do auditório.
Ao retomar o fio da meada, Vicky Hollub não deixou barato. Disse que a mudança climática é a maior crise que o mundo já presenciou. Também reiterou preocupação com o futuro do planeta e a sorte dos prejudicados pelas calamidades causadas pelas emissões de gases de efeito estufa. O discurso transpirava bom mocismo verde até que, à certa altura, Vicky virou a mesa. Foi quando sustentou que o planeta deverá continuar a produzir e queimar petróleo e gás até a última molécula extraída do subsolo. Indagada se o mundo deveria parar de utilizar os dois derivados de fontes fósseis, a CEO não titubeou. “Isso só acontecerá no dia em que sairmos da produção desses combustíveis”. Vicky enfatizou reconhecer o peso da ação humana nas mudanças climáticas, em grande parte determinadas pela queima de combustíveis de fontes não renováveis. Em contrapartida, ela afirmou desejar que o mundo continue a usar a energia fóssil o quanto possível.
Hollub tentou compatibilizar suas posições opostas argumentando que dia virá em que teremos condições de usar petróleo e gás sem emissões danosas ao planeta. No embalo, ela encaixou que a Oxy investe em tecnologias embrionárias nesse sentido, caso da captura de dióxido de carbono direto da atmosfera. “Se conseguirmos lidar com as emissões, poderemos continuar a produzir petróleo e gás”, arrematou.
No artigo sobre o evento Climate Forward, o jornalista do NYT David Gelles pondera ser sedutora a promessa do petróleo e gás que não liberam gases econocivos. Mas na conjuntura atual, assinala, há poucos indícios de que a captura de carbono atinja o alto nível necessário para compensar as emissões provenientes da energia fóssil.
A franqueza de Vicky Hollub casa com nova postura de vips do petróleo/petroquímica sobre o sétimo céu do desenvolvimento sustentável. Em lugar das reverências de praxe à causa, um número crescente desses CEOs, à frente de empresas irmãs siamesas da circularidade, agora vai para o tudo ou nada. “Na vida real, a estratégia em curso da transição da energia fóssil para a limpa está falhando na maioria das frentes de atuação e a ‘fantasia’ da saída de cena do petróleo e gás deve ser abandonada enquanto a sua demanda continuar a crescer”. Noticiada pela consultoria Icis, essa ducha de água fria foi despejada em evento em março por Amin Nasser, CEO da Aramco, petrolífera e petroquímica saudita. A visão de Nasser, por sinal, endossa recente pronunciamento de Darren Woods, CEO da norte-americana ExxonMobil, ao sustentar que, na prática, ninguém topa pagar o preço caro da transição energética.
Por essas e outras, a vida real mostra que a lábia da sustentabilidade enleva a opinião pública mas não freia o crescimento da exploração de petróleo e gás. O mesmo ocorre na petroquímica. Exemplo: apesar da “plasticofobia” e da crônica superoferta de poliolefinas virgens, afetando inclusive a competitividade comercial dos grades reciclados de sustentabilidade tão enaltecida, os investimentos na cadeia seguem de vento em popa. A título de referência, a consultoria Icis distingue pelo menos sete projetos de crackers de eteno partem entre 2025 e 2027 na América do Norte, Bélgica, Oriente Médio, China e Coreia do Sul, totalizando 12.38 milhões de t/a.
Só mesmo Vicky Hallub explica. •