Feliz ano velho

O mercado nacional de resinas retrocede sete anos no primeiro semestre
Marta Loss Drummond: consumo aparente de resinas deve cair 8%.
Marta Loss Drummond: consumo aparente de resinas deve cair 8%.

Projeções preliminares da MaxiQuim atestam que, com exceção de PET, o consumo aparente de todas as resinas fechou o primeiro semestre não só no vermelho inescapável face à recessão, mas dois dígitos abaixo do fiasco no mesmo período um ano antes. Marta Loss Drummond, especialista de inteligência de mercado para termoplásticos commodities da consultoria, desce na entrevista a seguir aos meandros do desempenho frustrante dos materiais no mercado doméstico em frangalhos. Maior referência: com a construção civil há mais de dois anos ao deus dará, o Brasil, antes importador constante de volumes não preenchidos com a oferta doméstica, virou exportador regular de PVC até dias melhores raiarem para os canteiros de obras. O mercado externo, por sinal, salvou os resultados no semestre passado da Braskem, único produtor no país de polietileno e polipropileno e o maior de PVC. Já no âmbito de PET e PS, dois polímeros às voltas com crônico excedente mundial, as exportações permanecem longe de ser o porto seguro onde hoje atracam as poliolefinas e o polímero vinílico. Marta Drummond também não espera para já a saída do vermelho do balanço das reinas. Nem poderia ser de outra forma. Apesar de colibris cantarem na mídia que a confiança está voltando aos investidores e daqui para a frente tudo será bem diferente com Temer, as ideias ainda não correspondem aos fatos.

PR- O consumo aparente das resinas no primeiro semestre evidencia uma volta ao patamar desse período de quantos anos atrás?
Marta Drummond– O consumo aparente estimado para o primeiro semestre de 2016 foi de cerca de 2,7 milhões de toneladas, queda de 13% em relação ao mesmo período de 2015 e aumento de 3% na comparação com o semestre anterior. O resultado está no mesmo patamar semestral de 2009. Cabe lembrar que, no segundo trimestre deste ano, o consumo de resinas aumentou 3% frente ao primeiro. Isso sinaliza possível reversão de tendência. Na comparação com o segundo trimestre de 2015, o consumo caiu 11%.

PR – Quais os destaques do consumo aparente de resinas no primeiro semestre?
Marta Drummond – Com o consumo doméstico enfraquecido e o dólar alto, as exportações de resinas foram favorecidas. Apesar de o preço de venda ser inferior ao praticado no mercado interno, foram principalmente as exportações que proporcionaram bons resultados à petroquímica. Destaque para isso é PVC, resina que possui na construção civil e infraestrutura seus principais consumidores. Ambos apresentaram queda na produção industrial de dois dígitos, cerca de 20%, no semestre passado comparado aos seis meses iniciais de 2015. É grave a queda do consumo doméstico de artefatos de vinil para a construção civil. Grandes transformadores têm diminuído a produção e realizado acordo de horas reduzidas com funcionários. No entanto, a produção da resina no Brasil aumentou na casa de 7% entre janeiro e junho e grande parte disso foi exportado.

O desempenho ruim também é observado em outros setores consumidores de resinas que produzem bens de consumo duráveis. Aí estão, por exemplo, a indústria automobilística e a de eletrodomésticos, grandes demandantes de polipropileno (PP) e poliestireno (PS), respectivamente. Em decorrência, essas resinas sofreram queda em relação a anos anteriores. Porém, o agronegócio, outro mercado importante para PP, apresentou bom desempenho. Entre os setores de transformados que se deram bem no primeiro semestre, fora da alçada de PP, foram aqueles voltados à exportação, como calçados e filmes de maior valor agregado.
O consumo de PET acusou melhora em embalagens como as destinadas a óleos vegetais e sucos. Já o mercado de refrigerantes, maior consumidor do poliéster, está em declínio, por questões ligadas às preocupações com a saúde e enfraquecimento do poder aquisitivo de classes sociais contempladas com incentivos nos últimos anos.

PS luta para quebrar o gelo

Estudo da consultoria Kantar World Panel fixa em 5,7% o recuo no de volume vendas de iogurtes em 2015 e aposta em bis este ano. Na linha branca, a associação Eletros aferiu queda da ordem de 10% nas vendas do semestre passado e antevê um balanço de 2016 abaixo de 2015, quando as vendas desabaram feio, na casa de 17%. O inferno astral dos iogurtes e geladeiras traduz um corte no oxigênio para dois pulmões de poliestireno (PS). “Quanto aos dois segmentos citados, nossa projeção para este ano é de estabilidade em relação a 2015”, pondera Rubèn Eduardo Madoery, diretor comercial da Videolar-Innova, produtora de estireno e PS. “Na primeira metade de 2016, o mercado para PS mostrou-se mais fraco que nos seis meses inicias do ano passado, em especial para a linha branca. Mas essa queda foi compensada por incrementos nas exportações da resina e, a propósito, o quadro geral também deve levar em conta a redução das importações”. Para o consumo brasileiro de PS no exercício completo de 2016, Madoery confia num saldo em linha com 2015. O diretor rechaça a interpretação de que a conjuntura nefasta para PS justificaria para sua empresa dar primazia às vendas de estireno, diminuindo os volumes destinados à polimerização. “Isso está fora de cogitação. A Videolar-Innova considera os dois materiais como seus principais produtos. Na realidade, buscamos alternativas nos dois segmentos”, completa Madoery. A concorrente Unigel não deu entrevista.

PR- Diante do excedente doméstico de PS e da prostração dos seus principais mercados, embalagens e geladeiras, a produção do polímero no primeiro semestre tornou-se um negócio secundário diante da demanda por estireno para a Unigel e Videolar-Innova?
Marta Drummond– A produção de PS apresentou queda no semestre passado, porém outros demandantes de estireno também observaram desempenho fraco, como os setores de tintas e do polímero expandido (EPS). Já no segundo trimestre de 2016, o mercado de PS apresentou aumento de 4% perante os três meses anteriores. As exportações de PS também contribuíram para melhorar os resultados, com alta de 51% no primeiro semestre frente ao semestre anterior.

Braskem: um semestre embaçado no mercado interno

Único produtor no país de polipropileno (PP) e polietileno (PE) e o maior dos dois fornecedores locais de PVC, a Braskem retrata em seus números as agruras do mercado interno no primeiro semestre. O drama adquire contornos de tragédia no cercado de PVC. A reboque da construção civil no atoleiro, a empresa fixou em 11% a queda do mercado brasileiro do vinil no primeiro semestre frente ao mesmo período no nada memorável 2015. Pela sua lupa, o movimento interno do vinil fechou em 500.583 toneladas na primeira metade do ano, aquém das 560.689 acumuladas de janeiro a junho de 2015. Do seu lado, a Braskem calcula suas vendas internas de PVC em 252.610 toneladas no semestre passado ou 8% abaixo das 275.559 registradas nos mesmos seis meses em 2015. Em suas plantas na Bahia e Nordeste, a empresa produziu 274.510 toneladas do vinil na metade inicial deste ano contra 262.382 no mesmo período no exerício anterior.
PE lidera, em capacidade instalada, o portfólio de resinas da Braskem. Na calculadora do grupo, sua produção conjunta das resinas linear e de alta e baixa densidades resultou em 1.329.400 toneladas no primeiro semestre deste ano contra 1.338.858 nos mesmos seis meses em 2015. Por sua vez, as vendas internas de PE fecharam a primeira metade de 2016 em 827.954 toneladas ou 7% inferiores às 886.835 computadas no semestre inicial de 2015.

Os indicadores de PP da Braskem também refletem a ausência da planta baiana de 125.000 t/a de homopolímero dos cálculos, pois a empresa informa que ela está em hibernação. No semestre passado, repassa a empresa, sua produção de PP totalizou 795.272 toneladas contra 759.385 no mesmo período em 2015. Já as vendas internas totalizaram 545.412 toneladas entre janeiro e junho último contra 583.111 no primeiro semestre do ano passado.

A Braskem trabalha com projeção de queda de 3,3% no PIB brasileiro em 2016. Seus volumes de exportação de poliolefinas estão, tal como os embarques brasileiros de PVC, no quadro montado pela consultoria MaxiQuim à página 22.

PR- Com sua operação a pleno, a PetroquímicaSuape instaurou superoferta doméstica de PET e, para piorar, as vendas de refrigerantes caíram perto de 5% no primeiro semestre e 20% de 2010 a 2015. Como vê o futuro de PET no Brasil?
Marta Drummond– O mercado brasileiro de PET deve se ajustar no médio prazo em termos de oferta e demanda. A importação vem caindo, sendo que no acumulado do primeiro semestre houve redução de 26% diante do mesmo período em 2015. De outro ângulo, dificilmente as exportações brasileiras de PET crescerão, pois a nível global vigora superoferta e consequentes preços baixos. Do lado positivo, vale considerar que PET deve ganhar mercado de outros materiais, como vidro e latas, através do desenvolvimento de mais aplicações e inovações em embalagens. O consumo aparente de PET deve se manter relativamente estável em 2016 comparado a 2015. Estimamos que ele volte a crescer na faixa anual de 5% nos próximos exercícios, a partir da retomada da economia. Vale salientar nessa análise o impacto do reciclado no mercado de PET. Afinal, trata-se da resina mais reciclada no país e algumas empresas já possuem permissão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para recuperar PET pós consumo pela tecnologia bottle to bottle (BTB), que permite o segundo uso em garrafas para envase de alimentos, exclusive água mineral. A tendência é que mais empresas consigam essa homologação da agência, tornando este reciclado premium uma concorrente à altura da resina PET virgem, em razão da qualidade e preço competitivo. Hoje em dia, a resina reciclada, inclusos recuperado convencional e BTB, representa cerca de 30% do mercado total de PET no país.

PR- Notou no primeiro semestre alguma alteração no volume de pré-formas habitualmente importado pelo Brasil?
Marta Drummond– Estimamos que o volume importado de pré-formas tenha caído cerca de 30% na primeira metade do ano frente ao mesmo semestre em 2015. Uma razão da queda foi o câmbio desfavorável a compras externas.

PET e o crepúsculo dos refrigerantes

Menina dos olhos de PET, os refrigerantes estão mesmo perdendo o gás. Relatório divulgado pelo Rabobank projeta que o mercado brasileiro desses carbonatados emplacará 13,5 bilhões de litros em 2025, abaixo dos 14,9 bilhões registrados em 2015. Para este ano, o estudo trabalha com vendas 4,5% menores que as aferidas no período passado e, em relação a 2017, a estimativa é de recuo de 0,7%, equivalente a 14,8 bilhões de litros. O banco atribui a descida da ladeira a uma mistura sulfúrica: corrosão na renda familiar aliada a mudanças nos hábitos de consumo, vento a favor para líquidos com aura de bebidas saudáveis. Aí está, por exemplo, o consumo ascendente de água mineral, imune às ferroadas da crise no bolso do povo, ou o anúncio feito em junho pela Ambev, Coca-Cola e Pepsi de substituir as vendas de refrigerantes em escolas por suco, água e lácteos. Procurados por Plásticos em Revista para analisar as vendas de PET no primeiro semestre e o crepúsculo dos refrigerantes, M&G e a Câmara Setorial dos Fabricantes de Pré-formas de PET da Associação Brasileira da Indústria do Plástico não quiseram falar.

PR- Com base no panorama de janeiro a junho, qual o prognóstico para o consumo aparente de resinas no semestre atual?
Marta Drummond– No segundo semestre, a maioria das resinas deve apresentar crescimento de demanda na comparação com o mesmo período de 2015. Na comparação com o primeiro semestre de 2016, algumas resinas devem apresentar leve melhora, como PP e PS. Em relação ao fechamento de 2016, esperamos que a queda em relação a 2015 seja na faixa de 8%, para o total de resinas. PVC é exceção, devendo continuar com desempenho fraco e, portanto, uma queda de dois dígitos é antevista no consumo nacional do vinil em 2016 versus o ano anterior.

No fio da navalha

Distribuidores lidam com maioria de clientes descapitalizados

fio

Pelo andar da carruagem, o balanço da distribuição de resinas fecha o ano em linha com o período anterior, prevê nesta entrevista Laércio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast) e da empresa Activas.Aparente empate com gosto de vitória numa conjuntura de crise, a estabilidade nos resultados embute um revés. Afinal, pente fino da consultoria MaxiQuim rastreou vendas de 378.000 toneladas pelos distribuidores no ano passado, volume estimado como mais de 7% inferior ao saldo de 2014. Para complicar, o contingente de clientes sem liquidez de caixa e engessados pelo crédito restrito e demanda em baixa se alastra feito zika, requerendo mais rigor dos distribuidores no monitoramento de suas carteiras. Mas há o que comomerar. Em seu depoiomento, Gonçalves confirma o avanço dos agentes autorizados sobre as importações declinantes e o encolhimento do efeivo de revendas autônomas na praça.

PR – Como foi o semestre passado para a distribuição autorizada de PP e PE?
Gonçalves – Foi muito similar ao primeiro semestre de 2015. Apesar de o mercado dessas resinas ter caído cerca 10% , a distribuição não sentiu queda de igual impacto. Afinal, diminuiu o volume de materiais importados que entravam no Brasil via trade. Em decorrência, a distribuição oficial absorveu parte dessa quantidade, mantendo-se assim nos mesmos patamares de vendas registrados de janeiro a junho do ano passado.

PR – Quais as perspectivas para a distribuição neste último semestre?
Gonçalves – Acreditamos numa melhora. Entre os especialistas, há projeções de que essa queda de 10% apresentada até junho caia para um patamar de 5-6% nos seis meses finais. Fora isso, no pouco tempo de Michel Temer como presidente interino diversas medidas foram adotadas para garantir a retomada. Foram anunciadas ações fiscais e de política econômicas e uma reforma administrativa do governo, com cortes de despesas e redução de cargos comissionados. Essas medidas contribuíram para melhorar o humor de agentes econômicos, traduzido em projeções mais favoráveis para a recuperação da economia.

PR – A recessão e capacidade industrial ociosa influíram para aumentar, no primeiro semestre, a revenda de PE e PP por transformadores de São Paulo?
Gonçalves – Sim. Os grandes transformadores aproveitaram o movimento de desaparecimento das tradings para poder absorver parte desse volume e abastecer a revenda.

Meia volta, volver

Calejados com crises e retomadas em mais de 30 anos de ativa, Wilson Cataldi e Amauri dos Santos, dirigentes da Piramidal, mais antiga distribuidora da rede da Braskem, constaram queda de 6% em suas vendas de polietileno (PE) e polipropileno (PP) no primeiro semestre versus o mesmo período em 2015, reflexo da piora da recessão. “Para esta metade final do ano, acreditamos que os resultados serão similares aos aferidos nos primeiros meses”, eles adiantam. Na esfera da comercialização de todos os tipos de polímeros, Cataldi e Santos calculam que o varejo do plástico deve encolher entre 5% e 6% este ano. “Voltaremos aos patamares de 2012, mas apesar do recuo o número de distribuidores oficiais deverá ser mantido”.

No esforço de remar contra a maré, os dois agentes procuram lapidar a excelência em todas as facetas de sua operação. “No momento, a referência de nosso empenho em inovar no setor é o Piramidal Card, serviço que oferece facilidade no pagamento,sem anuidade e um limite de crédito adicional”, eles distinguem.
O varejo de poliolefinas tem presenciado a comercialização de excedentes por parte de grandes transformadores de São Paulo, em especial de filmes. Revender PP e PE, no caso, pinta como alternativa para esses industriais contrabalançarem sua produção em baixa,continuando assim a adquirir os altos volumes habituais de resina que lhes permitem negociar melhores condições de preços com a Braskem, único produtor no país de resinas poliolefínicas. “Trata-se de uma situação recorrente hoje em dia, mas limitada, pois o transformador de maior porte não terá capilaridade e estrutura para atender os pequenos e médios”.

PR – Proliferam como nunca no varejo de resinas os transformadores descapitalizados e sem acesso ao crédito. Como esse quadro tem afetado a distribuição?
Gonçalves – Os produtores de resinas têm sido muito mais rígidos quanto à concessão e a manutenção de linhas de crédito. A exigência da apresentação de garantias reais vem aumentando. Assim, muitos transformadores acabaram em dificuldades para manter o mesmo limite de crédito já estabelecido. Hoje em dia, a gestão do negócio deve ser capaz de responder rapidamente às tendências econômicas, variações nos custos dos recursos, mudanças na política de crédito e, acima de tudo, às flutuações ocorridas no desempenho creditício de cada cliente. A distribuição oficial tem mais flexibilidade para ajustar suas estratégias ou inventar novas aproximações e implementá-Ias em curto prazo. Apoiados nessa competitividade, os agentes autorizados absorveram o volume excedente que migrou desses grandes transformadores hoje sem crédito suficiente para adquirir a totalidade de sua demanda de matéria-prima na petroquímica.

PR – Com a queda brutal na produção de bens duráveis, em especial carros, qual a expectativa a curto prazo de sua distribuidora para a comercialização de plásticos de engenharia e especialidades importadas?
Gonçalves – A participação de especialidades no volume total da Activas gira em torno de 6,2%. Porém, muitos revendedores de materiais nobres não estão mais no mercado e seu movimento naturalmente migra para a distribuição autorizada. Projetamos até o final do ano uma participação que varia entre 7 a 10% para as resinas de engenharia no volume total vendido pela Activas.

No rumo certo

No varejo nacional do plástico, os irmãos Marcos e Marcelo Prando se distinguem por serem os únicos distribuidores com braço na transformação. Ambos presidem a Replas, distribuidora de poliestireno (PS) e polipropileno biorientado (BOPP) da Videolar-Innova, e controlam a MM Indústria da Amazônia, produtora em Manaus de filmes shrink de polietileno e planos (cast) de PP. No passado recente, a Replas também era agente autorizada para comercializar PE da petroquímica saudita Sabic,que desistiu de exportar o polímero no Brasil. Para fechar essa lacuna em seu portfólio, Marcos e Marcelo informam que a Replas passou a atuar como revendedora independente de grades de PE importados de fontes como PTT, Formosa, Lotte Chemical, Aramco, Carmel, Quatofin e LyondellBasell.

Pela percepção dos irmãos Prando, as vendas de resinas da Replas registraram no semestre passado um resultado em linha com o período igual de 2015, estabilidade por eles atribuída à continuidade da prostração do mercado sentida com mais intensidade a partir dos seis meses finais do ano passado. Apesar da conjuntura, eles não jogam a toalha no ringue. “Do ponto de vista histórico, o consumo no segundo semestre tende a aquecer e as decisões políticas já adotadas pelo governo interino convergem para o equilíbrio da economia, aumentando a demanda”, argumentam Marcos e Marcelo. “Daí a nossa crença em números da Replas neste segundo semestre acima dos atingidos nos mesmos meses em 2015”.

PR – Como sua empresa lida com clientes que não estão conseguindo preencher as condições para honrar seus compromissos ?
Gonçalves – Neste momento de crise, clientes em dificuldades de pagar o que devem no prazo estabelecido são a grande maioria. Ainda assim, não deixam de comprar com a distribuição autorizada de uma hora para outra. Eles passam a adquirir matéria-prima por outras via. Por exemplo, pagamento à vista, Cartão BNDES ou até mesmo indicando o cliente dele para realizar a compra numa operação triangular. Em suma, essas empresas que hoje passam por maus bocados esforçam-se como podem para se manter no mercado. O efeito desse quadro, portanto, não é uma diminuição na carteira de clientes da Activas, mas o embarque de empresas descapitalizadas em outras condições de pagamento, selecionadas de acordo com o risco de cada cliente.

Parece que parou de piorar

Abiplast refaz para melhor as projeções para o ano. Mas o vermelho não sai dos números apenas com pensamento positivo.

parou

Edward Gibbons, historiador inglês, dizia que os triunfos do Império Romano continham as sementes da sua ruína. A indústria brasileira de transformação de plásticos hoje presencia o cumprimento deste mesmo destino debatendo-se nos escombros do legado de 13 anos de governos petistas. Para onde quer que o setor olhe, é alarmante o recuo aos patamares de consumo de anos atrás, demonstra nesta entrevista José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Os prejuízos apontados no balanço do primeiro semestre servem ao dirigente de trampolim para engrossar o coro do empresariado que clama por reformas a sério do novo ocupante do Planalto; caso contrário, o país e sua economia nunca deixarão de ser movidos a espasmos.

PR – Como avalia o desempenho da transformação no primeiro semestre deste ano ?
Roriz – A indústria de transformados plásticos apresentou no primeiro semestre de 2016 o pior resultado desde 2009, ano da última grande crise econômica. A produção física sofreu retração de -12,9%, o faturamento real recuou -13,5%, o consumo aparente caiu -13,9%, o setor fechou quase 6.000 postos de trabalho e o nível de utilização da capacidade instalada está em cerca de 61%. Confrontando o semestre passado com o mesmo período em 2015, houve recuo generalizado na produção física de alguns dos principais mercados consumidores de artefatos plásticos. Foi o que se viu, por exemplo, na retração de -21,2%, na queda de -27,0% no setor de eletroeletrônicos e de -16,0% em bens de capital em geral.

PR – Diante disso, o que se pode esperar do semestre atual?
Roriz – Apesar do comportamento preocupante dos transformados de janeiro a junho último, observa-se uma melhora na confiança no ambiente de negócios, em função das expectativas positivas. De acordo com sondagem da Abiplast junto a associados, espera-se melhora nas vendas, no nível de produção, custos e estoques a partir do terceiro trimestre. Em julho, as expectativas captadas pela Abiplast eram de queda de -6,2% na produção e, para o consumo aparente, estimava-se recuo de -6,8% para o final deste ano. No entanto, devido aos motivos citados, a Abiplast refez, no início de agosto, suas projeções para o fechamento de 2016. Foi quando aferiu uma melhora nos principais indicadores. Para a produção, por exemplo, estima-se agora retração de -5,1% em 2016 e no consumo aparente, queda de -5,6%.

PR – Qual a consistência dos sinais de retomada e volta da confiança dos empreendedores trombeteados pelo governo?
Roriz – O cenário de retração da demanda, escassez dos empréstimos bancários e redução brusca dos investimentos na indústria permanece na economia. No entanto, existe uma melhora na expectativa do empresariado do setor plástico. Até o momento, a indústria transformadora, receosa diante da instabilidade econômica e política, não se sentia segura para tomar decisões capazes de expandir de fato seu negócio.Ao contrário, realizou ajustes para reduzir custos de produção, visando sobreviver em meio à crise. Com o retorno de um certo otimismo, o empresário tem sentido mais confiança para realizar ações de melhorias no negócio, como investimentos na produtividade ou novos caminhos para ampliar vendas e diminuir estoques.Vejo, portanto, um sinal de término da queda, gerando expectativa de retomada iminente.

PR – Quais as reformas consideradas primordiais e urgentes pela Abiplast para a economia não voltar aos voos de galinha e crescer linearmente?
Roriz – Tratam-se de ações estruturais nas seguintes áreas:
A. Política – ampla reforma com regras de compliance, para evitar crises políticas como a atual, com regras de transparência extensivas ao uso dos fundos partidários.
B. Trabalhista – atualização da CLT à realidade das formas de trabalho deste início do século XXI, findando com práticas como sobrepor as negociações salariais ao que determina a legislação.
C. Previdência – desvincular o piso previdenciário do salário mínimo; estabelecer idade mínima de aposentadoria em 65 anos para homens e mulheres; e igualar os regimes Urbano e Rural.
D. Fiscal – implementação de instrumentos de transparência das contas públicas e de limite para o crescimento do gasto público.
E. Tributária- simplificação da regras tributárias, redução da carga e adoção de desonerações para ampliar a competitividade da indústria.
F. Tarifária – revisão da lógica tarifária, priorizando setores de maior valor adicionado.

PR – Quando esta recessão passar, quais as mudanças que antevê no perfil da transformação de plástico no Brasil?
Roriz – A sociedade brasileira vivencia um momento de reestruturação. A indústria como um todo trata de se adaptar às transformações institucionais recentes. Ao longo das diferentes cadeias de valor, empresas como as transformadoras começam a notar as vantagens de incentivar uma cultura de melhores práticas relacionadas à integridade e proteção da concorrência. Com a crise, outro ponto vivido pelo setor foi a redução do número de empresas e do pessoal ocupado. Essa situação pode ter trazido um novo perfil de posicionamento às companhias e tende a mostrar que a consolidação é uma lógica necessária e inevitável para que as indústrias tenham maior expressão nos mercados.

PR – Por que as exportações brasileiras de transformados ainda não deslancharam a contento tendo o câmbio favorável para vendas externas?
Roriz– No fechamento de 2015, as exportações do setor aumentaram 8,9% em volume. Porém, a desvalorização cambial não é determinante para estimular as exportações de artefatos plásticos. Considerando que o câmbio é componente da formação dos preços da matéria-prima, as desvalorizações cambiais impactam diretamente em aumento nos preços das resinas, reduzindo assim a competitividade do setor.Fora isso, convenhamos que, estruturalmente, a indústria transformadora de plásticos não possui cultura exportadora.Seu coeficiente de exportação paira em torno de 5%.

PR – Por qual razão?
Roriz – Parte do setor ainda não conhece o mercado externo e/ou acredita ser alto o custo de uma estrutura para exportar. De acordo com o relatório “Manufacturing the future: the next era of global growth and innovation” (“Fabricando o futuro: a próxima era de crescimento e inovação em escala global”) elaborado em 2012 pelo Mackinsey Global Institute, mesmo países com alto índice de exportação, caso da Alemanha, embarcam apenas 20% de sua produção de manufaturados. De volta ao setor específico de transformados plásticos, uma peculiaridade generalizada entre suas indústrias é sua proximidade do mercado consumidor. Afinal, determinados produtos, principalmente os rígidos e ocos, possuem um custo de logística muito alto, desfavorecendo suas exportações. •

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