O roteiro dos filmes de empacotamento automático aborda um casamento por conveniência: a conciliação da redução de custos, a cavaleiro da produtividade em linha, com o visual à altura para a embalagem dialogar com o público. Para essas expectativas convergirem para o sim dito no altar, a coextrusão tornou-se primordial no reduto, amarra Sérgio Carneiro Filho, diretor da SR Embalagens e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief).
Ao pé da letra, ele traduz no plano geral, empacotamento automático implica ganhos de velocidade, economia e diminuição da mão de obra no processo. Na calculadora de Carneiro, 70% dos volumes movimentados pela SR originam-se desse segmento. Embora a hipótese de expandir a capacidade para esses filmes não seja descortinada por ora, culpa da chuva de granizo na economia, a modernização continua a pipocar na produção. “Temos substituído monoextrusoras blown por coex, bem como a flexografia tradicional por gearless”, exemplifica o diretor da transformadora, geradora de flexíveis em Barretos (SP) e Três Rios (RJ). No pano de fundo, pesa outra consequência natural do progresso do mercado final. “Quando ocorre troca de sacaria convencional por filmes de empacotamento automático, a mudança de máquinas de corte por equipamentos de rebobinamento torna-se fundamental”, coloca Carneiro.
O dirigente percebe sofisticação dos requisitos com relação ao acabamento dessas películas nos últimos cinco anos. Nos grandes filões do empacotamento automático – leia-se alimentos como açúcar, cereais, grãos e farináceos–, a impressão saiu da base traço, normalmente com cores puras, para a base cromia, identificada por uma foto com composição de tons. “Hoje em dia virou exceção encontrar embalagem sem essas ilustrações elaboradas”, sublinha Carneiro.
Filmes de três camadas de poliolefinas dão conta do recado no empacotamento automático, julga o dirigente. “Afinal, essas embalagens acondicionam alimentos menos perecíveis. Portanto, agentes de barreira, como poliamida (PA), copolímero de etileno e álcool vinílico (EVOH) ou copolímero de cloreto de vinila e vinilideno (PVDC), tornam-se dispensáveis”. Nesse segmento, prossegue, domina o emprego de polietileno de baixa densidade linear (PEBDL), por vezes com grades avançados base metaloceno. “Aqui, novamente, a coextrusão faz a diferença. Podemos colocar na camada do meio um PE commodity e barato, indo ao encontro da tendência de redução de custos”, assinala Carneiro. Por sua vez, as demais camadas necessitam de características específicas. Enquanto a interior precisa assegurar soldabilidade ao pacote, pondera o transformador, a externa garante o visual e a capacidade de empilhamento das embalagens. Para evitar o risco de deslizamento nas pilhas de pacotes, a película deve contar com o coeficiente de atrito (CoF) estabilizado, atributo regulado por aditivo na resina.
De acordo com o porta-voz da SR, não há penetração forte de bobinas importadas para empacotamento automático, inclusive por conta do dinamismo do negócio dos produtos finais. “A encomenda dos filmes pode refletir o momento de alta nas vendas de determinada marca ou a decisão do fabricante de lançar uma embalagem promocional”, exemplifica Carneiro. Além do mais, alterações climáticas capazes de afetar a agricultura podem levar a rápidas mexidas no portfólio de alimentos ofertados, com reflexos de bate pronto nos pedidos de filmes de empacotamento automático. Por conta dessas variáveis e dos notórios entraves burocráticos e de infraestrutura, amarra o dirigente, uma embalagem importada demoraria demais para corresponder em cima do lance a tais mudanças pontuais.
Embora consolidado em alguns nichos, o mercado de empacotamento automático está longe da saturação, considera o industrial. Ele flagra oportunidades no acondicionamento de cortes de frango, bem como de ração animal, redutos nos quais a sacaria convencional tem forte presença, e na esfera do enfardamento ou unitização. “Tenho percebido forte viés nesse sentido”, afirma Carneiro. Em suma, os pequenos pacotes são acondicionados em outro maior, organizando as unidades da forma pretendida para a venda. A automação do processo, por sinal, estende-se até o final da linha. “Esteiras conduzem esses fardos a um robô incumbido da paletização. Por vezes, esses paletes ainda recebem acabamento com stretch”, completa o dirigente da SR.
Filmes como os de empacotamento automático incidem em 42% na receita de outro motor turbo do ramo, a transformadora paulista Epema, calcula seu presidente, Rogério Mani, também diretor da Abief. “Os filmes de empacotamento automático já comparecem em 75-80% do volume de flexíveis nas gôndolas dos supermercados”, ele situa. “Ou seja, estamos dando adeus aos tradicionais saquinhos plásticos”. Na retaguarda, Mani constata a velocidade crescente e menos perdas em linha com ajustes proporcionadas pela nova geração de automatizados equipamentos de envase e empacotamento. “Hoje em dia, deparamos com desafios como a busca de mais produtividade em linha e, para a embalagem, maior shelf life, resistência mecânica, leveza e qualidade de impressão”. Do lado das indústrias usuárias, o expert interpreta a intensa inclinação pelo uso dos filmes de empacotamento automático como prova da obsessão febril por decepar custos. Decorrência lógica da procura acentuada, a concorrência aumenta no segmento de filmes de empacotamento automático no ritmo ditado pelos investimentos dos transformadores “à margem do número de players”, enxerga Mani, aplaudindo o surto de aportes na tecnologia por resultar em qualidade e inovação. “O quadro de fornecedores desses filmes ainda é muito grande e, nos próximos anos, haverá um rearranjo natural no setor, seja por falta de investimentos ou desistência de alguns transformadores”, antevê o dirigente.
Entre bobinas laminadas e impressas, Mani calcula que os denominados filmes importados para processo final, inclusas no bojo as películas de empacotamento automático, abocanhem 10% do volume total do consumo brasileiro no gênero. “Nossos clientes de cacife global pressionam os transformadores aqui com base na competitividade internacional nesse ramo de filmes”, assinala Mani. “Não fossem a logística e a dependência de assistência técnica, as importações de bobinas seriam maiores pois, embora sejamos menos competitivos que os fornecedores do exterior, a indústria final daqui não pode arriscar parar a linha de empacotamento em razão de problemas técnicos de solução demorada”.
A alma do pacote
Poliolefinas bombeiam produtividade no empacotamento automático
Pelo sonar da Braskem, a caixa de força do país em poliolefinas, são cada vez mais estridentes os sinais emitidos pelos filmes de empacotamento automático. “A tendência é visível, em especial, no âmbito de itens da cesta básica, como arroz, feijão, sal e açúcar”, flagram José Augusto Viveiro e Fábio Agnelli, respectivamente gerentes comercial e de engenharia para polietilenos (PE) do grupo. “Também conta pontos a favor a exigência do coeficiente de fricção (CoF) estável para esses filmes, conferindo-lhes mais aptidão para operarem sob as velocidades crescentes de empacotamento”, eles assinalam. Quanto às indústrias finais, usuárias das películas, a dupla nota que elas têm feito carga sobre os transformadores pela redução das espessuras, caminho em linha reta para uma proporcional poda nos gastos. “Mas a necessidade de se aditivar e gastar mais tinta na impressão do filme mais fino resulta em preço superior por quilo da embalagem”, eles contrapõem.
Agnelli e Viveiros servem à mesa um prato quente e repleto de grades de PE para filmes de empacotamento automático. Entre as gemas do mostruário, eles distinguem a resina linear base metaloceno Flexus 9212XP. “Além da excelência no brilho, transparência, soldabilidade e propriedades mecânicas, ela aprimora a estabilidade de deslizamento dos filmes”, ressaltam ambos os especialistas. No embalo, enfatizam a entrada em campo de um quaterpolímero diferenciado pela soldabilidade e rigidez, o polietileno linear (PEBDL) Pluris 4303, talhado para empacotar papel higiênico, papel toalha e guardanapos.
Polipropileno (PP) também nada com PE na raia dos filmes de empacotamento automático. Sua seleção é condicionada por variáveis a exemplo da proteção da integridade do conteúdo acondicionado ou quesitos extensivos do formato da embalagem ou padrão de selagem. “Nos últimos anos, a Braskem desenvolveu resinas cujo desempenho na selagem ensejou ganhos de produtividade nas linhas de corte e solda e no empacotamento automático”, observam Arinaldo Zanotta e Marcus Trisotto, especialistas da área de engenharia e desenvolvimento de PP. Entre os avanços, eles destacam o grade randômico RP 225M e as resinas Symbios 4102 e 3102, seja para filmes tubulares ou de matriz plana. “Com a entrada de mais coextrusoras ao longo dos últimos cinco anos, tomaram corpo no mercado os filmes com características superficiais diferenciadas, possibilitando a conversão de embalagens de maior qualidade e produtividade do ponto de vista do empacotador”, constatam Zanotta e Trisotto.
Os carregadores do piano
Aditivos proporcionam ganhos estéticos e de produtividade
Filmes de empacotamento automático mobilizam perto de 25% do faturamento da componedora Aditive, calcula seu presidente João Ortiz Guerreiro. “É a única empresa no país dedicada apenas a masters de aditivos para termoplásticos”, ele sublinha.
No balanço da Aditive, os materiais mais procurados para filmes de empacotamento automático são os concentrados de aditivos antiblock, auxiliares de fluxo, antiestáticos e deslizantes, “além de masters de antioxidantes e para proteção e absorção de UV”, completa Ortiz. “Dispomos também da série ‘master integral’, fruto da combinação num único concentrado de diversos aditivos”, ele coloca. “Para máquinas de alta produtividade, o master dessa família que agrega antioxidantes e auxiliares de fluxo protege as propriedades mecânicas da embalagem final, assegura o controle da espessura dos filmes de empacotamento automático e diminui de modo significativo a frequência das paradas de equipamentos para sua limpeza”.
No balcão da catarinense Cristalmaster, o diretor Luiz Carlos Reinert distingue os préstimos de uma trinca de formulações. “Nosso master antibloqueio facilita a separação entre superfícies de embalagens, enquanto o concentrado antiestático reduz a resistência elétrica e auxilia no desbloqueio dos filmes”, expõe. “Esse desempenho dissipa a energia estática da película e evita a atração de finos para sua superfície, facilitando a soldagem”. Reinert completa o tripé com o master que alia auxiliar de fluxo e aditivo deslizante. “Reduz o atrito do material fundido com o equipamento e deixa mais lisas as superfícies”, sumariza. Na trincheira dos lançamentos, Reinert acena para filmes de empacotamento automático com master antiomicrobiano, contendo nanocomposto base zinco e atóxico, dotando o filme para empacotamento de prolongada proteção contra fungos de bactérias. Outra sacada recém chegada do pipeline da Cristalmaster: o master agente interfacial. “Melhora a adesão física e reações de químicas entre fases de misturas de materiais incompatíveis entre si”, esclarece. “Esse concentrado incrementa as propriedades mecânicas mesmo quando empregado em películas de espessuras reduzidas ou em formulações contendo aparas”.
A Engeflex também joga nas onze no time dos insumos auxiliares para filmes de empacotamento automático. “Temos a linha completa de concentrados de aditivos e formulamos a pedido os masters ‘combo’ reunindo os auxiliares requeridos pelo cliente”, assegura o diretor Thiago Ostorero.
Francielo Fardo, diretor superintendente da componedora paranaense Colorfix, marca de perto os filmes de empacotamento automático com os aditivos auxiliares de processo Slipfix. “Incorporados às resinas, eles reduzem bastante o coeficiente de fricção (CoF) entre duas superfícies em contato, afastando a hipótese de danos como devoluções e problemas na cadeia de produção”, coloca o dirigente. “CoF é a medida do nível de deslizamento da embalagem e Slipfix possui propriedades controladas de migração superficial, não havendo variação com mudança de temperatura ou embobinamento”.
Dona da pole em masters no Brasil, a Cromex azeita sua penetração nos meandros do empacotamento automático apostando em moléculas mais funcionais, indica Anderson Maia, gerente de inteligência e desenvolvimento de mercado da componedora paulistana, comandada pela família Wajsbrot. “Investimos no aumento da pureza para os clientes poderem reduzir a taxa de aplicação dos diferentes concentrados”, ele argumenta.
No circuito dos filmes de empacotamento automático, a Cromex ataca em quatro pontas. Na raia dos aditivos antibloqueio, cuja relação de atrito proporcionada facilita a abertura de embalagens, o gerente elege como estrela do mostruário o produto AB 50035. No compartimento dos auxiliares antiestáticos, toca em frente Maia, ele recomenda o material AE50025 para migração média/lenta e o AE50027 para as exigências de migração rápida. “São aditivos para evitar a aderência de partículas suspensas, como poeira, capazes de interferir no visual do produto exposto”, esclarece. Mas as vantagens desses aditivos não param aí. “No empacotamento de pós, como açúcar e sal, esses auxiliares afastam o risco de acúmulo de material na região da solda”, assinala Maia.
O arsenal da Cromex também é afiado pela linha de auxiliares de processo, a exemplo dos aditivos AX 5540 e AX 5848, especifica o executivo. “Visam evitar, durante o processamento da massa polimérica, que seus resíduos sofram aderência na parte metálica das máquinas de transformação”, explica o gerente. “Assim, esses aditivos barram a possibilidade de linhas de fluxo ou pontos pretos no material degradado”. No arremate, ele encaixa, o mesmo tipo de auxiliar, por prover maior estabilidade à massa fundida, reduz o cisalhamento dela e aumenta o brilho das películas. A marcação da Cromex sobre o nicho do empacotamento automático estende-se à impressão do filme, deixa claro Maia. “Tratam-se de soluções como aditivo CG 5094, desenhado para aprimorar a aderência de tintas na superfície dos filmes”, exemplifica. •