Tal como acontece entre economistas, vez em quando os meteorologistas dão uma dentro. À entrada de janeiro, o consenso entre futurólogos do tempo nos EUA era de que o bicho iria apegar na temporada de furacões (1/6 a 30/11) deste ano. O acerto da percepção, relata artigo no site Icis, começou a ser confirmado na primeira quinzena de julho, quando a devastação deixada em sua rota pelo furacão Beryl privou de energia elétrica dois milhões de usuários no Texas, e, na medição da empresa de previsões meteorológicas Accuweather, sua passagem gerou estragos da ordem de US$ 28-32 milhões e paralisou quatro portos (Corpus Christi, Freeport, Texas City e Houston), por sinal cruciais para o desempenho da petroquímica norte-americana, efeito das plantas em grande parte sediadas nos estados do Texas e Louisiana, em particular na área da costa do Golfo do México.
Duas fontes norteiam a reportagem do portal Icis: a agência National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e um departamento focado em meteorologia – Tropical Weather & Climate – da Universidade do Estado do Colorado. Ambas as entidades concordam que, na primeira quinzena de julho, as temperaturas da superfície do mar já equivaliam aos altos índices habituais de setembro, pico da temporada dos furacões. Esta mudança atípica e o provável acréscimo ao quadro da presença do fenômeno La Niña (queda na temperatura superficial do Pacífico tropical, central e oriental), pode ensejar a entrada em cena de mais furacões, inclusive de categorias superiores ao nível com que o Beryl chegou do Caribe aos EUA, alertam os visionários das duas instituições.
Apenas para o período até o final de julho corrente, os meteorologistas da universidade do Colorado acreditam no surgimento de mais 11 furacões nos EUA, seis deles de nível de periculosidade acima da categoria 1 com que o Beryl entrou no país vindo do Caribe, lembra o artigo postado no portal Icis.
Pois é aí que mora o perigo. Exemplo: o Beryl não sustou a produção de petróleo e gás no Golfo do México. Mas, assinala a matéria no site Icis, um furacão mais potente pode danificar poços, cortar a fundo o suprimento de energia elétrica e paralisar terminais de etano e gás natural liquefeito. Essa hipótese implica formação de inesperado excedente norte-americano derrubando preços do gás e, reação em cadeia, do etano. O artigo frisa que portos texanos suprem de gás do petróleo liquefeito e de etano crackers dos EUA e do exterior e, se furacões forçarem interrupções prolongadas dos embarques, as repercussões na petroquímica global serão inevitáveis. No Brasil, a propósito, os furacões existentes não são, como os americanos, de origem climática.