EUA: fim da energia movida a carvão ainda demora

Demais alternativas têm senões e exigem investimentos maciços
Termoelétrica a carvão em West Virginia: estado defende permanência de fonte de energia não limpa.
Termoelétrica a carvão em West Virginia: estado defende permanência de fonte de energia não limpa.

Varrido como poluidor irrecuperável dos domínios da economia circular, o carvão sente o golpe da rejeição e, embora sua demanda decline, não deve sair de cena a curto prazo do leque de opções de energia dos EUA, deixa claro artigo postado no site Inside Climate News. Pelo escrutínio da autarquia Energy Information Administration (EIA), usinas termoelétricas de carvão geraram 19,2% da eletricidade consumida no país em 2023 ou 19.7% abaixo do registro anterior. O recuo do carvão é atribuído, na voz corrente dos analistas, ao fato de as alternativas renováveis e o gás natural terem se tornado menos dispendiosas. Também há referências ao fato de a geração de eletricidade pelo gás ser mais fácil de operar que termoelétricas a carvão. “Se essas opções baratearem, nós as utilizaremos e se acarretarem benefício ambiental, melhor ainda”, sumarizou na reportagem Melissa Scott, diretora de pesquisa do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia. Daí também porque os EUA fecharam 2023 com capacidade de 184 gigawatts oriundas do carvão ou 6.4%s abaixo do dado de 2022. Nessa pegada, a ocupação das termoelétricas a carvão ficou em 42% no ano passado versus 48.4% no exercício antecedente.

Em contraponto, assinala a mesma matéria, estados norte-americanos produtores de carvão, como Wyoming e West Virginia, baixaram políticas e regulamentações visando esticar ao máximo a sobrevida de usinas de energia movidas a carvão de funcionamento mais recente. Mas os números não dão refresco: a capacidade instalada dessas termoelétricas nos EUA recuou de 302.600 MW em 2013 para 183.900 uma década depois. Em paralelo, a cadeia do gás natural tem martelado na mídia seu status verde por gerar menos emissões de dióxido de carbono que a rota do carvão. No entanto, segundo a reportagem, o gás tem um flanco exposto no vazamento de metano na atmosfera ao longo da sua cadeia de utilização. Numa linha de raciocínio levada ao extremo, o artigo reproduzido em Inside Climate News pondera que, se o combate às mudanças climáticas for mesmo sério, uma onda de fechamento de unidades de geração de gás natural tenderia a ocorrer nos EUA.

Em 2021, o mesmo site martelava a questão em artigo sobre o potencial da energia geotérmica nos EUA e, entre as fontes, constava este comentário de Rody Robbins sobre sua passagem de engenheiro de mineração de petrolíferas para o mesmo posto na entidade National Renewable Energy Laboratory. “Eu adorava trabalhar na indústria de petróleo e gás, mas, com o passar dos anos, passei a me incomodar com o aquecimento global e a atitude em relação a ele predominante no setor”. A seu ver, a indústria de petróleo e gás está em declínio gradativo, tal como a do carvão cerca de duas décadas atrás.

“A energia precisa ser confiável (disponibilidade), acessível e limpa”, delimita Melissa Scott. O carvão, avalia a cientista , é confiável, já foi barato, mas não integra as soluções de energia limpa, enquanto o gás é confiável e acessível. Porém, como ela argumenta, a liberação de metano durante a cadeia de utilização do gás não o torna assim tão imaculado, em termos ambientais, como seu setor se jacta. Além disso, frisa Melissa, os preços do gás natural são voláteis. Por sua vez, aponta o artigo postado em Inside Climate News, a alternativa da energia geotérmica não passa hoje de 1% da geração de eletricidade nos EUA e a nuclear esbarra na hipótese de risco de acidentes, como demonstram os inesquecíveis desastres nas centrais de Three Mile Island, Chernobyl e Fukushima.

No ano passado, 14 termoelétricas a carvão foram fechadas nos EUA, atesta a EIA. Mas o cenário geral indica que, para tomarem o lugar do carvão em definitivo, as alternativas de energia limpa nos EUA dependerão de respaldo oficial e investimentos maiúsculos para crescer bastante e com rapidez.

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