“O que torna trabalhar com sustentabilidade tão excitante é o elemento exploratório: a oportunidade de entrar em novas ideias imperfeitas à primeira vista e prosseguir até transformá-las em boas soluções”. Chris Daly, vice presidente da norte-americana Pepsico, titã global em refrigerantes e snacks, soltou na mídia esta análise para descrever a parada dura de amoldar o plástico à economia circular em meio à transição em curso da energia fóssil para a renovável, um percurso que passa pelo reconhecimento de valor econômico numa cadeia da reciclagem depreciada no passado como reprocessadora de sucata. Embora ache compreensível, no plano imediato, a retirada do plástico de determinadas aplicações, Daly considera a solução mais perene tornar o plástico 100% atrelado à economia circular e “o quanto antes, melhor”. Apenas no plano recente, ele comenta, muitas companhias começaram a exigir que projetos de suas embalagens considerassem sua reciclabilidade. Dadas as dificuldades para reciclar flexíveis, desde o baixo valor do seu refugo ao processo de recuperação das resinas dos filmes multimaterial, esta é uma questão vital para o negócio de snacks envasados em laminados da Pepsico. Entre as saídas hoje apalpadas, Daly cita a produção de filmes de bioplásticos originários do lixo orgânico, bem ao gosto da economia circular.
No reduto de flexíveis, a embalagem plástica mais fragilizada pelos princípios da circularidade é o filme multimaterial, caso de coextrusados e laminados. Em determinados casos, os primeiros podem se tornar recicláveis mediante a inclusão de agentes compatibilizantes das matérias-primas e, quanto aos laminados, é possível separar os materiais inconciliáveis para posterior reciclagem das resinas. Retomando o fio, o filme multimaterial era acatado como solução impecável para proteger e conservar produtos sujeitos à deterioriação, em especial alimentos, até ser esconjurado pela economia circular, devido à sua coleta trabalhosa e, no caso dos laminados, pela reciclagem complicada e onerada pela forçosa etapa da separação prévia dos materiais incompatíveis.
A busca de uma bala de prata para tirar películas multimaterial do livro negro da economia circular hoje incendeia os neurônios da inteligência plástica mundial, inclusive por envolver mercados integrantes da razão de ser dos polímeros mais consumidos, as poliolefinas. O Brasil, dado o seu avantajado consumo e por sediar fábricas de vips globais de flexíveis, está de olho neste caldeirão de discussões e voos da imaginação, como demonstram na entrevista a seguir duas veneradíssimas enciclopédias na matéria, Eloísa Garcia, pesquisadora e diretora geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e Claire Sarantópoulos, pesquisadora estelar do Ital e atuante no Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea).
Uma corrente de analistas defende a redução abaixo de índices como 5% na participação de agentes de barreira em filmes multimaterial para facilitar sua reciclagem, mesmo com o efeito colateral de encurtar o shelf life do conteúdo acondicionado. Como avalia a viabilidade prática desta proposta?
Claire – Problemas de perdas e desperdícios de alimentos são assuntos hoje relevantes não só para governantes como para varejistas, legisladores e até para os consumidores. O aumento de vida útil de alimentos e bebidas, em especial dos perecíveis, tem sido uma ferramenta de extrema importância na redução de perdas. Filmes de alta barreira têm sido usados para essa finalidade de conservação de produtos, colaborando assim com a redução de perdas e conferindo à população acesso a inúmeras categorias de alimentos.
A embalagem flexível multicamada com barreira é, provavelmente, o tipo de material mais eficiente, não apenas em termos de consumo de material plástico/peso de alimentos, mas de aumento da vida útil de gêneros perecíveis. A camada da barreira pode ser integrada à estrutura, via camadas muito finas de até 3 micrometros em combinações de 5, 7 ou 12 camadas de outros materiais, reduzindo significativamente a espessura final, que pode chegar em torno de 50 micrometros. Essas embalagens podem ser encolhíveis, termoprocessáveis e de alta transparência. Também podem adquirir vários formatos e até parar em pé, como uma embalagem autossustentável. Podem ser aplicadas para produtos cárneos, laticínios, alimentos pasteurizados, cook-in, alimentos secos ou desidratados, bebidas etc.
Como enxerga então a colisão desses flexíveis vitais para a qualidade de vida com os princípios da economia circular?
Embalagens flexíveis multicamada envolvem a combinação de materiais diferentes, incompatíveis entre si, no processo de reciclagem. Isso não significa que elas não sejam recicláveis, por definição, e assim tornem-se inconciliáveis com a economia circular. Para começar, esses filmes precisariam ser coletados na cadeia de reciclagem de polietileno (PE), polipropileno (PP) ou PET. Para isso os sistemas de seleção deveriam precisar mais a identificação dos materiais. Ou seja, se a composição do filme multimaterial não impossibilita sua reciclagem, a embalagem levaria o número de código de reciclagem da resina principal. Caso contrário, receberia a codificação 7, referente a materiais fora do compartimento dos termoplásticos commodities. A seguir, o componente de barreira deveria ser compatível com esse sistema de reciclagem ou, pelo menos, não ter impacto negativo significativo no processo. No geral, os componentes de barreira dos filmes são copolímero de etileno e álcool vinílico (EVOH), poliamida (PA), cloreto de polivinilideno (PVDC) ou PET (filme biorientado do poliéster). Todos eles apresentam compatibilidade muito limitada com polietileno (PE) ou polipropileno (PP).
Diante desse contexto, a solução seria reduzir sua espessura na estrutura ou encorpar compatibilizantes para melhorar a dispersão e, assim, minimizar seu impacto negativo nas propriedades da resina reciclada. No plano ideal, as tintas de impressão e PVDC deveriam ser evitados. Com o objetivo de aumentar a performance das embalagens flexíveis na economia circular, a Ceflex, iniciativa colaborativa de um consórcio de empresas europeias que representam a cadeia de valor de embalagens flexíveis, está elaborando um guia nesse sentido (https://ceflex.eu/).
Quais os desafios de transpor soluções desse tipo para cá?
Em relação ao mercado brasileiro, temos que considerar a extensão territorial e o clima tropical de altas temperaturas e umidade relativa, agentes ambientais de grande impacto na vida útil de alimentos e bebidas. Some-se a isso uma cadeia de frio com inúmeras deficiências e estradas em mau estado de conservação, fatores que afetam ainda mais os perecíveis. Temos também grandes players na área de alimentos e bebidas que distribuem seus produtos por todos os estados da federação. Para complicar o quadro, a situação econômica do país é de baixa velocidade de recuperação. Nesse contexto, abrir mão de vida útil não é viável para muitas empresas. Além do mais, pensando de maneira massiva, o consumidor brasileiro ainda não reage tão favoravelmente a embalagens recicláveis a ponto de abrir mão de qualidade e durabilidade do conteúdo .
Eloísa – O efeito colateral de encurtar o shelf life deve ser avaliado com muito cuidado, pois a perda do produto, por falha da embalagem ou por restrições de distribuição e consumo dentro do prazo de validade, tem um custo ambiental muito maior do que o resíduo da embalagem no pós-consumo. Ao se perder o produto acondicionado, são desperdiçados todos os insumos, energia e esforços (com impactos ambientais associados) investidos na produção.
Devemos lembrar que, além da dimensão geográfica, o Brasil é um país tropical, o que faz com que as reações de deterioração dos produtos, como a oxidação, sejam muito mais aceleradas e, portanto, os requisitos de proteção e de vida útil mais longa são mais críticos aqui em relação a outros países. É claro que deve-se fazer uma análise real da necessidade de proteção do produto e, se há excessos, é possível reduzir a participação de materiais de barreira na estrutura. No entanto, tal redução deve ser resultado de estudos específicos e não de uma generalização. Generalizar não é produtivo, pois a prioridade é abastecer a sociedade e não aumentar a perda de produtos, que, no caso dos alimentos, já é excessiva entre nós.
Essa proposta também valeria para laminados com folha de alumínio ou do tipo PET/PP ou PEBD/PET?
Claire – No mercado externo muito tem se falado e feito a favor da estrutura monomaterial. Nessa área, as poliolefinas ganharam destaque por comporem famílias de resinas com inúmeras propriedades que se somam em embalagens multicamada. Contudo, ainda carecem de barreira a gases, uma propriedade importante para várias categorias de alimentos. A solução para agregar barreira tem sido usar materiais inorgânicos – de início, a folha de alumínio e, a seguir, a metalização com alumínio sobre BOPP, PET, poliamida biorientada (OPA) e PE. Mais recentemente apareceram os filmes revestidos com óxido de alumínio e óxido de silício. Busca-se ainda utilizar nanopartículas para conferir barreira às poliolefinas.
O que temos visto é um mercado muito dinâmico no desenvolvimento de processos, equipamentos, resinas e aditivos, e o momento apresenta mais um requisito a ser atendido: a reciclagem.
Eloísa – Utilizados nos casos de grande necessidade de barreira, os laminados com folha de alumínio já sofreram grande otimização com a redução da espessura da folha e alternativas têm sido estudadas para obtenção de estruturas apenas com materiais plásticos. No entanto, se há necessidade de proteção, as resinas de barreira devem ser utilizadas. Para produtos com requisitos de proteção intermediários, são aplicadas estruturas metalizadas à base de PETmet ou BOPPmet, possuidoras de propriedades de barreira intermediárias entre aquelas com folha de alumínio e as sem metalização.
O segredo é ajustar a proteção necessária com a barreira da estrutura, sempre buscando a maior simplificação sem aumentar a perda do produto. A camada de metalização não compromete a reciclagem. Muitas vezes, o excesso de impressão é o que causa maior dificuldade à reciclagem. A reciclagem pode ser simplificada, por exemplo, com o uso de agentes compatibilizantes ou por efeito de diluição com PP ou polietileno de baixa densidade (PEBD).
Com base nos projetos que desembarcam no Laboratório de Flexíveis do Cetea, qual a receptividade dos brand owners à possibilidade de tornar mais recicláveis seus filmes multimaterial, mediante menor teor de barreira ao preço da redução do shelf life?
Claire – Pela nossa experiência de demanda de serviços ao setor privado, ainda são muitos os problemas de vida útil de alimentos e bebidas frente à barreira da embalagem e ao sistema de refrigeração de alimentos perecíveis no Brasil. A redução de custo das embalagens, através da sua barreira, sempre foi uma busca do setor produtivo. Essa procura levou à otimização de muitas estruturas e à adoção de novas tecnologias. Questões de sustentabilidade também preocupam as empresas e resultam na otimização das estruturas, inclusive com uso de materiais de alta performance que permitem redução na quantidade de polímero. Contudo, ainda não é perceptível no mercado de alimentos um movimento de aceitação de redução na vida útil com vistas à reciclabilidade.
Além da redução da barreira, quais propostas estão mais em evidência, no cenário internacional de flexíveis, para facilitar a reciclagem de filmes multimaterial?
Claire – Biopolímeros, com boa propriedade de barreira, a exemplo de Plantic, filme a partir de biomassa desenvolvido pela japonesa Kuraray, é uma proposta promissora. Desenvolvimentos como AmLite Ultra Recyclable, filme poliolefínico de alta barreira e desprovido de metais da australiana Amcor, também estão nessa linha.
Eloísa – O desenvolvimento de agentes compatibilizantes é o que mais poderá facilitar a reciclagem de filmes multimaterial. Considerando a realidade brasileira, a criação de mercado para os produtos reciclados seria muito importante, pois sua valorização econômica possibilitaria a adoção de tecnologias e o aumento do esforço para a reciclagem dessas embalagens.
Pensando sem barreiras
Não faltam caminhos para contornar as limitações sustentáveis de laminados multimaterial
“Já havia entre clientes de embalagens ligados na sustentabilidade o movimento de redução de gramaturas ao mínimo possível, dentro das limitações desejadas de barreira e resistência mecânica”, pondera Horácio Murua, CEO e diretor executivo da convertedora Cepalgo, vitrine nacional da coextrusão e laminação. “Essa preocupação extrapola agora para soluções inovadoras na substituição de materiais, em prol da reciclagem facilitada, mas o desafio é fazer isso sem baixar o shelf life da embalagem, ainda mais considerando-se a confiabilidade a desejar da cadeia de frio do Brasil e de vários destinos de nossas exportações”.
Filmes como os monocamada de poliolefinas, observa Murua, dispõem de estruturas simples de reciclar e com cadeias de reciclagem constituídas. “Garantem barreira á umidade, mas falham na proteção contra gases requerida por produtos como proteínas frescas, lacuna preenchida pelas soluções multicamada, cuja diversidade de polímeros dificulta sua reciclagem”, expõe o dirigente, aludindo a materiais incompatíveis entre si, como agentes de barreira e resinas, requerendo sua separação antes da reciclagem dos termoplásticos. Para Murua, a ideia de se baixar o teor de barreira a índices como 5% que dispensem da reciclagem a etapa precedente de separação de materiais parece ser uma opção apenas se não se levar em conta que estão surgindo outras alternativas tecnológicas para o setor plástico melhor responder a este desafio lançado pela economia circular. “Os brand owners buscam para suas embalagens propostas em linha com a sustentabilidade, mas evitando a redução do shelf life”.
Ainda nessa trilha, Murua ressalta o envolvimento da Cepalgo em projetos para viabilizar a reciclagem de laminados, a exemplo da troca da estrutura filme biorentado de PET (BOPET)/ polipropileno (PP) por filme biorientado de PP (BOPP)/PP ou soluções que prescindam da convencional folha de alumínio, como filmes retort de alta barreira. O convertedor também destaca as perspectivas abertas para flexíveis por desenvolvimentos em curso em materiais de fontes renováveis. “O Brasil dispõe de polímeros derivados da cana-de-açúcar e, no Japão, a Nippon Gohsei introduz polímeros de barreira biodegradáveis e a Kurarai já acena com álcool polivinílico (PVOH) para substituir o copolímero de etileno e álcool vinílico (EVOH)”.
Domênico Macchia Junior, diretor de novos negócios e desenvolvimento de novos mercados da Videplast, rolo compressor nacional em flexíveis multicamada, não compra a ideia do simples corte do teor de barreira em laminados, facilitando a reciclagem dos materiais delaminados da embalagem descartada, como a poção milagrosa do desenvolvimento sustentável. “Usar essa redução como régua não funciona, pois é preciso saber a funcionalidade e shelf life cogitados pela indústria final usuária da embalagem”, contrapõe o especialista, ampliando o rol de variáveis em exame com o apelo estético em vista e o desempenho do fime selecionado nas máquinas de embalamento e selagem. “Vale lembrar que o desperdício de alimento causa mais danos ambientais que a embalagem e, desse modo, há todo um ciclo de vida a ser analisado e não apenas a foto instantânea do laminado”.
BOPP é o filme biorientado dominante em flexíveis e sua laminação com poliolefinas não embaça a reciclagem da embalagem pós-consumo, assegura Sérgio Bianchini, gerente de exportações da Polo Films, turbo nacional na película. “Já laminados de BOPP com resinas incompatíveis, não poliolefínicos e metais são recicláveis, apesar dos problemas na necessária separação prévia de materiais”. Em sintonia com a economia circular, ele frisa, a Polo aposta em flexíveis monomaterial nos quais BOPP compareça com funções ampliadas para prover as propriedades requeridas pela embalagem. “O mundo busca propriedades de barreira inatingíveis por BOPP, como a impermeabilidade ao oxigênio”, percebe o executivo.”Daí o desenvolvimento em curso no exterior de uma plataforma de alta barreira ao oxigênio em BOPP para contemplar com bom custo/benefício flexíveis dependentes dessa proteção”.
Bianchini repisa que a Polo põe suas fichas na plataforma de BOPP de alta barreira e na ascensão de flexíveis monomaterial. “Mas a simplificação de materiais ou saída de cena dos laminados só será plausível se o mercado pender mais para o desenho de estruturas monocamada capazes de entregar as barreiras e demais proteções requeridas pelo conteúdo”. Em paralelo, Bianchini antevê que, comprometidos com a sustentabilidade, brand owners exigirão alternativas para obter o máximo prazo de shelf life adequado ao giro e forma de consumo do produto embalado. “As tecnologias de preservação pela embalagem farão parte deste movimento da cadeia de suprimentos”, ele julga.
O ponto de vista de Bianchini merece o endosso do peruano Oben Group, nº1 latino-americano em filmes biorientados. “Participamos de desenvolvimentos de embalagens propondo soluções monopolímero, muito mais fáceis de reciclar”, informam o diretor técnico Erik Sosa e Alfredo Barreda, vice-presidente estratégico e diretor corporativo. “Para isso, dispomos de soluções de BOPET seláveis para combinação com PET termoformado e sacos ou pouches de PP conjugando BOPP e filme plano desta resina (CPP). Por fim, lançaremos em breve o filme biorientado de polietileno para ser acoplado a outras películas dessa poliolefina em embalagens como sacos”, completam os dirigentes.
Entre a vida real e a de prateleira
Resinas e auxiliares buscam aliar shelf life e reciclagem
Embora flexíveis multimaterial tenham descido ao purgatório da economia circular, devido à reciclagem mais complicada, não há como tirar dessas embalagens o status de solução irretocável para reduzir o desperdício de produtos – alimentos à frente – mediante o aumento de shelf life proporcionado. “Enxergamos neste segmentos avanços para otimizar o uso de materiais com barreira a gases, em prol de um balanço melhor entre a quantidade de matérias-primas utilizadas e a vida de prateleira realmente necessária para o conteúdo acondicionado”, comenta Renato Di Thommazo, gerente de desenvolvimento de negócios e economia circular da Braskem, único produtor de poliolefinas do país.
No âmbito da reciclagem mecânica de filmes multicamada, o gerente distingue o desenvolvimento em curso de compatibilizantes associados a uma coextrusão de configuração especial, visando viabilizar a formação de blends miscíveis com domínios bem dispersos e homogêneos da matriz poliolefínica. No embalo, Di Thommazo também brande a evolução de tecnologias ditas de desconstrução molecular.” Por meio delas, materiais de maior complexidade e/ou limitação na reciclagem mecânica, como filmes multicamada alimentam processos químicos e catalíticos específicos que lhes permite retornar à forma de hidrocarbonetos básicos”, sintetiza o executivo, ressaltando a pesquisa da Braskem em todas as frentes citadas.
Hoje em dia, discerne o especialista, brand owners de alimentos perseguem soluções inteligentes que atendam o desejo do consumidor por produtos frescos e configurem a melhor relação entre a complexidade das embalagens e a problemáticas malha de distribuição nacional. “Este posicionamento evita o desperdício de alimentos e garante melhor reciclabilidade a diferentes embalagens”, deduz Di Thomazzo. Por seu turno, ele evidencia, a Braskem faz sua parte provendo, por exemplo, resinas modificadas de melhor compatibilidade em blends e performance superior na reciclagem, ou então, trabalhando para descomplicar processos, como prova a introdução do reciclável stand up pouch monomaterial e não laminado.
A ExxonMobil, verbete norte-americano em poliolefinas, já oferece por aqui soluções para baixar o teor de agentes de barreira em filmes laminados, o que facilita sua reciclagem. “Polietilenos mais robustos como Exceed™ XP permitem diminuir a porcentagem de poliamida, além da possibilidade de eliminar BOPET da composição da embalagem”, sumariza Fernando Schmidt, responsável pelo desenvolvimento de mercado de PE da subsidiária brasileira da companhia.
Metalização em xeque
“É forte a discussão sobre melhores práticas em desenhos de embalagem, para ampliar sua atratividade após o uso, em especial em termos da reciclagem e geração de valor na economia circular”, atesta Nicolas Mazzola, cientista líder para o negócio de plásticos da Dow na América Latina. Imbuída deste espírito, ele conta, a Dow levou ao mercado a incorporação de agentes compatibilizantes em flexíveis multimaterial. “Os produtos Retain™ e Fusabond™ permitem que estruturas que aliam PE aos agentes de barreira poliamidas e copolímero de etileno e álcool vinílico (EVOH) sejam desenhadas para incorporação pós-consumo a cadeias de reciclagem de PE”, ele esclarece.
Laminados metalizados ou com folha de alumínio garantem barreira à umidade para alimentos secos, mas tropeçam em sua inadequação para a reciclagem mecânica, comenta Mazzola. “Para este segmento, a Dow trabalha em configurações de grades de PE que conferem barreira à umidade em padrão competitivo com estruturas metalizadas, reforçando assim o compromisso da empresa com a simplificação da composição de flexíveis, – caso também do nosso SUP 100% de PE – sem desconsiderar as funções primárias da embalagem: proteger, minimizar perdas e permitir o acesso a alimentos de forma segura sustentável”.
Mazzola também enfatiza o embarque da Dow na economia circular empunhando o desenvolvimento em curso de estruturas de alta barreira à umidade provida por novos grades de polietileno linear (PEBDL) da família Elite™. Outra referência nesse sentido, ele abre, é a busca de aprimoramento na relação entre os pesos do produto e da embalagem mediante a utilização de resinas de alta rigidez e resistência mecânica da família Innate™. “É uma solução para reduzir o desperdício de embalagens e produtos ao longo da cadeia”, constata o cientista.
Barreiras intocáveis
A reciclagem de um filme coex de barreira é possibilitada por aditivos compatibilizantes, sustenta Guilherme Ferreira do Nascimento, supervisor técnico da Intermarketing Brasil, agente no Brasil do portfólio de EVOH da japonesa Kuraray. “Essa solução é proporcionada pelo grade GF-30, aditivo para conciliar EVOH e PA com poliolefinas permitindo sua reciclagem tal qual um filme monocamada”, ele delimita. Por constar de um polímero semi polar, explica, EVOH não se mistura por completo com olefinas, materiais apolares. “Daí a conveniência do aditivo compatibilizante para ensejar a reciclagem do coextrusado pós-consumo”.
Nascimento ressalta a recomendação de mínimo teor possível de EVOH nas estruturas multimaterial. “Apenas o suficiente para o shelf life requerido para a aplicação”, frisa. A propósito, o técnico associa o aumento de shelf life a ganhos em sustentabilidade e no combate ao desperdício de alimentos. É uma visão na mão oposta da corrente defensora de redução do teor de barreira em laminados multimaterial para facilitar sua reciclagem, à custa de redução da vida de prateleira, dispensando a necessária separação prévia de materiais incompatíveis entre si. “A inclusão de EVOH em embalagens também pode diminuir custos da cadeia de refrigeração para alimentos como processados e lácteos”, acentua Nascimento. Isso explica, ele amarra as pontas, a preferência de brand owners por apoiar a circularidade sem abrir mão do shelf life.
“Os brand owners procuram produtos de custo cada vez mais baixo combinado com excelência no brilho, transparência e barreira a gases e aroma”, nota Ricardo Silva, gerente das áreas técnicas e de marketing para PA fora das autopeças da Radici Plastics na América do Sul. Desse modo, ele engrossa o cordão de especialistas que não compram a idéia de encolher a barreira a gases e aromas em laminados para simplificar sua reciclagem. “O mercado cobra prazos cada vez maiores de shelf life e outro complicador é a dependência de determinados alimentos submetidos a cozimento e esterilização a temperaturas que podem chegar a 120ºC”.
Filmes multicamada são imprescindíveis para proteger e conservar alimentos perecíveis, pondera Aurelio Mosca diretor comercial da Krisoll, componedora e distribuidora de PA 6 da Basf para prover barreira a embalagens flexíveis. Em prol da economia circular, ele ressalta os progressos conquistados na combinação de materiais de filmes multicamada contendo uma quantidade cada vez menor dos polímeros envolvidos sem afetar as características requeridas pelo alimento acondicionado. Na mesma trilha, ele encaixa a oferta de grades de elementos como PA parcialmente originários de fonte renovável. Para Mosca, repudiar a embalagem flexível que alia termoplásticos e agentes de barreira em razão de dificuldades na sua reciclagem significa comprometer o shelf life e, por tabela, causar desperdício de alimentos. “Hoje em dia, as embalagens adequam-se cada vez mais a novos padrões de vida, a exemplo dos mercados de quem mora sozinho e dos casais em filhos, e a centros de consumo sem infraestrutura de armazenagem apropriada”, acentua o diretor da Krisoll. “É este o modelo a seguir no desenvolvimento de embalagens de alimentos”.
Fábio Paganini, gerente de vendas e desenvolvimentos da área de polímeros de engenharia no Brasil da Arkema, não destoa da voz corrente. “Brand owners procuram ampliar o shelf de seus produtos, como forma de manter os preços nos pontos de venda, estratégia também benéfica para supermercadistas, pois preservam suas margens ao evitar liquidações de perecíveis prestes a vencer”, ele argumenta. “Em alguns casos a indústria é chamada para recolher estes produtos nas prateleiras, o que onera bastante seus custos”. Na roupagem de solução intermediária para diminuir o desperdício de alimentos e reverenciar a economia circular, Paganini tira da manga a linha de poliamidas Orgalloy. “Substitui os grades convencionais de PA em estruturas com PE sobressaindo pela barreira a gases e líquidos e por facilitar a reciclagem da embalagem multimaterial”, complementa. •