Ele não vai pregar susto

Trump não deve abalar a petroquímica norte-americana, confia consultor
Callais
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Ao convocar para seu gabinete Rex Tillerson e Andrew Liveris, respectivamente CEOs da ExxonMobil e Dow, Donald Trump tirou a indústria química e petroquímica da habitual discrição junto à grande imprensa nos EUA. Mas os efeitos dessas duas nomeações não devem gerar mudanças de 180 graus na imagem do setor.
Tillerson assumiu o posto de Secretário de Estado (equivalente a ministro) de Relações Internacionais. Suas atribuições centram-se, portanto, bem mais sobre a conjuntura global do que em ações de impacto na esfera da química e petroquímica. Na mesma esteira, Andrew Liveris, guindado ao comando do Conselho da Indústria Norte-Americana (American Manufacturing Council) atuará como elo entre este setor e o governo federal. Há quem veja nesta nomeação sérios conflitos em potencial com prejuízos nos âmbitos dos produtores rurais, saúde pública e meio ambiente. Por exemplo, as seis maiores potências em agroquímicos e sementes hoje negociam fusões passíveis de resultarem em três mega corporações detentoras do controle majoritário desses segmentos nos EUA. Alguns analistas temem que o apoio de Trump a esse rearranjo convirja para o aumento de preços dos dois implementos para fazendeiros e consumidores finais.
Quanto à sua imagem em escala global, a indústria química e petroquímica dos EUA só é afetada pelo governo Trump em seu intento de interromper, na manufatura do país, o movimento de transferir empregos para lugares de custos inferiores, intenção aliás escorada por uma plataforma republicana a ser submetida ao crivo do Legislativo. Consta da redução de 35% para 20% na alíquota do imposto de renda corporativo. Isso ampliaria os atrativos do investimento local, além de gerar aportes de recursos downstream. Por exemplo, do gás natural e etano convergindo para a formulação de eteno e polietileno (PE) e, sob estímulo do tributo reduzido, mais investimentos na produção de artefatos transformados nos EUA. Segundo o Conselho Norte-Americano de Química (American Chemistry Council), espera-se com este incentivo um acréscimo de 21% na geração de vagas em transformadoras de plásticos, indicador equiparável à criação da ordem de 110.000 empregos.
A nomeação de Tillerson e Liveris também levantou uma aparente contradição. Como a atitude protecionista de Trump, apoiada por eles como membros do governo, pode afetar as chances de empreendimentos da ExxonMobil e Dow, como seus novos complexos de PE nos EUA? O argumento não procede e seu grau de vulnerabilidade a um governo protecionista é baixo. Afinal, trata-se do comércio de pellets e PE para transformadores é um negócio global. Seis dos seus 10 maiores produtores (inclusos ExxonMobil e Dow) têm plantas em diversas regiões do planeta, um pré-requisito para atender clientes globalizados. O balanço de oferta e demanda de PE é lastreado na conjuntura mundial. Mais de 10 anos atrás, o grosso das expansões na produção de PE transcorria no Oriente Médio, à sombra da disponibilidade de óleo e gás, e na China, com base na rota do carvão para olefinas. Hoje em dia, esses investimentos vicejam nos EUA. Diante do arrefecimento de novos projetos de PE no Oriente Médio e China (inclusive sob pressão ambientalista contra a carboquímica), a resina americana fechará esta lacuna na demanda internacional.
Tillerson e Liveris no governo Trump também devem afetar bem pouco a reputação ambiental do setor químico e petroquímico aos olhos da opinião pública norte-americana. A maioria da população apoia o aumento da produção nacional de petróleo e gás natural. E devido ao incremento no uso de gás para gerar eletricidade, é patente nos EUA o declínio das emissões de poluentes causadores do efeito estufa. No entanto, nota-se algum temor de que essas emissões aumentem à custa das atuais reservas terrestres e de mais plataformas marítimas de prospecção de óleo e gás. Com o pleno domínio republicano do Legislativo, o novo presidente tem cacife para alterar consolidadas políticas regulamentatórias, de modo a abrir terras do governo e a exploração no fundo do mar para mais investimentos em fontes de energia. De um lado, esses esforços poderão turbinar o poderio energético dos EUA, mas, de outro ponto de vista, têm potencial para engatilhar protestos e ações judiciais nas costas de Trump. •

Peter Callais é vice presidente de vendas globais da consultoria norte-americana Townsend Solutions.

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