Desde quase sempre, a América Latina (exclusive México) é alojada na categoria “rest of the world” (resto do mundo) na divisão do mapa global dos investimentos petroquímicos. O máximo de aparição positiva que a região consegue aos olhos desses investidores é quando chama a atenção pelo vigor do seu mercado nos bons momentos em que não sucumbe a turbulências políticas e populismos econômicos. Nesta entrevista, Rina Quijada, diretora senior para a América Latina da consultoria norte-americana IHS Chemicals, interpreta esta sina de uma região onde petroquímica passa de atividade empresarial a uma realização do governo.
PR – Porque tantos projetos petroquímicos na América Latina são super anunciados e não saem do papel? Por exemplo, os complexos de eteno/polietileno (PE) na Venezuela e Peru, a produção de polipropileno (PP) na Bolívia ou a unidade de copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) no Brasil?
Rina Quijada – Infelizmente, as novas capacidades produtivas na América não foram adiante nos últimos 20 anos. Para que novos projetos na região sejam efetivamente concluídos, vários fatores chaves devem ser considerados. O sucesso de um empreendimento desse naipe depende de favorecimento político por parte de um governo na região. Trata-se de requisito importante para um projeto petroquímico na Venezuela, Peru, Bolívia e no Brasil, países onde petrolíferas estatais provêm a matéria-prima para suportar o investimento em questão. Sem favor político, as chances do projeto vingar são diminutas.
Outro fator a considerar é a disponibilidade local de matéria-prima (nafta ou gás natural) em abundância e ofertada a preços competitivos. Por fim, uma terceira condição vital para o desenvolvimento bem sucedido do projeto na América latina chama-se tamanho do mercado. No caso da Venezuela, existia um bom favorecimento do governo de Hugo Chavez para ampliar a produção interna de petroquímicos, mas seu ambiente político e econômico não era convidativo para o investimento estrangeiro direto no país. Sem contrato a longo prazo de matéria-prima firmado para suprir o planejado complexo venezuelano de Jose, os investidores mudaram o foco para o México. Ali, a estatal Pemex mostrava-se pronta para assinar o contrato de fornecimento de gás natural a longo prazo para promover e respaldar o projeto de PE da Braskem Idesa. Hoje em dia, esta joint venture constitui o único grande investimento petroquímico na América Latina nos últimos 15 anos. No Peru, por seu turno, o projeto não avançou devido à localização pretendida do complexo de eteno/PE, ao sul do país e distante dos potenciais mercados. Já na Bolívia, com gás abundante, tende a avançar o projeto de propeno pela rota da dehidrogenação do propano (PDH), com tecnologia licenciada UOP, e da LyondellBasell para a unidade de PP, com partida não antes de 2022. Por fim, procurou-se por muitos anos produzir ABS no Brasil. Mas essa intenção esbarra na exigência de custo competitivo para acrilonitrila, butadieno e estireno.
PR – Diante do alto endividamento da petrolífera estatal mexicana, Pemex, qual o futuro de suas antigas e pequenas plantas petroquímicas?
Rina Quijada – Hoje em dia ela luta para melhorar sua produção de petróleo e gás. No entanto, os preços baixos do barril têm afetado os níveis de rendimento da companhia nos últimos anos, deixando pouco capital para reinvestimentos em fontes de energia e isso mina, portanto, a disponibilidade de novos aportes de recursos em petroquímicos. A produção de refinarias e unidades petroquímicas da Pemex tem diminuído e não há etano suficiente para alimentar os crackers em Morelos e Cangrejera e suas produções de derivados de eteno, PE e óxido de etileno, tendo que suprir ainda 1 milhão de t/a de etano para a Braskem Idesa formular eteno e PE em seu complexo em Nanchital, no estado de Veracruz. Se a geração de etano seguir em escassez nas instalações das Pemex, haverá alguma racionalização na produção de PE nas unidades da estatal em Morelos e Cangrejera, ambas operando com baixos níveis de ocupação desde 2016.
PR – A conjuntura para poliestireno nos EUA é tão estagnada quanto no Brasil, onde, imersos em excedente crônico do polímero, os dois produtores priorizam as vendas de estireno?
Rina Quijada – No momento, a demanda norte-americana de PS oscila de estável para declinante – o que acho bom.Outra nota positiva para os mercados locais da resina é o crescimento aproximado de 2% notado no segmento de embalagens alimentícias em 2016. Recentes racionalizações nas capacidades nos EUA contribuíram para a manutenção de níveis de ocupação pouco acima de 80% nas fábricas da resina – e não há previsão de mudanças nesse cenário em 2017 e 2018. Por sua vez, as importações norte-americanas de PS da Ásia aumentaram de leve em 2016. Aliás, o mercado asiático da resina anda hiperofertado e a demanda chinesa enfraqueceu de forma considerável, de modo que espera-se no continente alguma racionalização da operação em fábricas antigas e uma parada nos planos de aumento da capacidade asiática de PS. •