O mercado de estirênicos vai virar de ponta cabeça em 2015, por artes do grupo Unigel, nº1 do Brasil no monômero e no poliestireno (PS). Lenda viva da petroquímica nacional, Henri Slezynger, presidente dessa companhia em ascensão há 58 anos, acende os dois pavios de pólvora. “A fábrica de 190.000 t/a do polímero em São José dos Campos (SP), desligada em maio de 2013, vai voltar a operar, por ora de forma parcial, ao final do primeiro trimestre, com potencial para 120.000 t/a”, expõe o dirigente. Em paralelo, arremata, a atual capacidade de 260.000 t/a de estireno da Unigel ganhará mais 100.000 toneladas até o quarto trimestre de 2015.
Na trincheira do polímero, as boas novas da Unigel dão a entender uma paisagem algo diversa da descortinada pela consultoria norte-americana IHS. Sua manifesta percepção para PS na América do Sul é a de crescimento em fogo brando ao longo dos próximos cinco anos, com os produtores locais do termoplástico às voltas com baixas taxas de ocupação. “O religamento da unidade em São José dos Campos decorre da produção em plena carga da nossa fábrica de 120.000 t/a de PS no Guarujá (SP), um nível de operação sob risco de stress se mantido por períodos prolongados e que também traduz a consistência do aquecimento da procura pela resina da planta”, justificam Slezynger e o vice-presidente Roberto Noronha Santos. Como referência do consumo reavivado de PS da Unigel, o presidente do grupo aponta para a demanda pulsante no reduto de refrigeradores, no qual o livre trânsito do grupo foi ilustrado ainda em novembro por dois prêmios top de excelência profissional, concedidos por grifes múltis da linha branca (ver box ao lado).
Com essa tacada, a Unigel volta a ser entronizada na liderança efetiva em PS no Brasil, posto do qual se afastara de forma pontual, enquanto a unidade em São José dos Campos hibernava, a título de encurtar o delta existente entre oferta e demanda domésticas de PS. Com o retorno da fábrica ao palco, a capacidade brasileira efetiva subirá de 430.000 para 550.000 t/a, com diferença de apenas 70.000 t/a (correspondente à parcela complementar da fábrica religada) perante a capacidade instalada nominal no país. Em 2015, portanto, o novo potencial efetivo será confrontado com um mercado interno calculado pela Unigel em 390.000 toneladas de PS em 2014, ou 2.000 a menos que em 2013.
No pano de fundo, a IHS projeta em 5% a participação de PS na demanda sul-americana de resinas, estimada em 13 milhões de toneladas para o exercício de 2014. A mesma consultoria fixou a capacidade nominal da resina em 815.000 toneladas em 2013, versus produção no mesmo período calculada pela Unigel em 553.000 toneladas. Apesar da lacuna regional, Slezynger salienta que a Unigel não só tem produzido com carga total no Guarujá como sua participação no mercado interno do polímero tem engordado, mérito da operação ininterrupta da unidade detentora da última palavra em tecnologia da Dow e, nos bastidores, efeito da ourivesaria de desenvolvimentos a cargo de dois centros de pesquisa da Unigel focados em PS.
Pelo sismógrafo de Slezynger, a capacidade brasileira é suficiente para acompanhar a demanda de PS até 2020. Noves-fora, fica clara a estratégia da Unigel de não direcionar a futura fração adicional de estireno à formulação do polímero – responsável por 55% do consumo do monômero por aqui e em toda a América do Sul, segundo aferição da Unigel. No mapa desenhado pelo grupo relativo ao monômero na mesma região, a Innova aparece com capacidade de 250.000 t/a em Triunfo (RS); a Petrobras responde por 160.000 t/a na Argentina e, de volta ao Brasil, a Unigel comparece com 120.000 t/a de estireno em Cubatão (SP) e 140.000 t/a em Camaçari (BA). É justo esta última unidade que foi contemplada com o acréscimo de 100.000 t/a, apoiada na elevação da ordem de 120.000 toneladas na capacidade vizinha do intermediário etilbenzeno (EB), hoje situada em 280.000 t/a. Slezynger encaixa, a propósito, que a expansão já está respaldada em suprimento de eteno e benzeno contratado junto à Braskem. “Num cálculo por alto, as 120.000 toneladas adicionais de EB demandarão cerca de 30.000 toneladas de eteno e 80.000 de benzeno”, reparte o dirigente. Quanto ao investimento na ampliação de EB e estireno, ele o arredonda em U$ 100 milhões, dos quais US$ 35 milhões aplicados na estrutura e equipamentos já implantados em Camaçari. O financiamento dos US$ 65 milhões, ele completa, foi solicitado ao BNDES e sua tramitação encontrava-se na fase de carta-consulta até o fechamento desta edição.
O Brasil produziu 440.000 toneladas de estireno e consumiu 652.000 no balanço de 2013, delimita levantamento da Unigel. Slezynger intercede assinalando em relação às importações do monômero, arredondadas em 213.000 toneladas no mesmo período, que perto de 50% devem ser creditadas à produção de PS pela Videolar em Manaus. Com a entrada em cena da parcela adicional de estireno da Unigel, raciocina o presidente do grupo, as importações brasileiras tenderão a restringir-se. Para 2014 a Unigel as projeta em 188.000 toneladas do monômero. O grupo nacional projeta consumo nacional de estireno da ordem de 652.000 toneladas em 2015, chegando a 769.000 em 2020.
Entre as frentes para colocar suas 100.000 toneladas suplementares do monômero, Slezynger acerca-se do potencial de poliestireno expandido, em especial na construção civil. Ele concorda que a envergadura atual da demanda doméstica carece de glamour, da ordem estimada de 100.000 t/a, das quais importações de 52.000 previstas pela Unigel para 2014. Na varredura do grupo, a propósito, EPS abocanha hoje perto de 10% do consumo nacional de PS. Slezynger enaltece atributos de EPS a exemplo da rapidez de instalação e custo mais atraente que opções como poliuretano na condição de isolante térmico. Trata-se de material sob medida, a seu ver, para a construção de moradias de baixa renda, amparada por investimentos do governo. Em contraponto, ele reconhece que essas vantagens de EPS já estão ultra difundidas e só não resultaram em aumento do consumo, justifica, por ações insuficientes em campos como marketing, lacuna que ele acha capaz de se estreitar mediante esforço mais intenso a ser desenvolvido pelo comitê de EPS da Associação Brasileira da Indústria Química. Na contramão de Lírio Parisotto, presidente da Videolar e controlador da Innova, Slezynger descarta a hipótese de a Unigel produzir EPS com seu monômero, por considerá-la fora da vocação do grupo.
Pelo flanco do comércio exterior, o dirigente adianta o intento de exportar PS para o México a custos competitivos permitidos pelo emprego de monômero importado em regime de draw back. No caso, a escora da Unigel provém de sua familiaridade com o mercado mexicano, pois lá possui uma planta de chapas acrílicas cast, cinco centros de distribuição (além de um nos EUA) e uma unidade de acrilonitrila em joint venture com a petrolífera estatal Pemex. “No âmbito de PS, o país exporta cerca de 200.000 t/a e consome 500.000, das quais 300.000 importadas”, explica o empresário, dando a entrever uma fresta folgada o suficiente para embarcar o volume de resina pretendido.
Unigel: a excelência que saiu do frio.
Pente fino da Unigel atribui à linha branca 21% do consumo brasileiro de poliestireno (PS). No balanço da empresa as aplicações em refrigeradores mobilizam 22% das suas vendas do polímero e compõem, entre os redutos usuários do material, o segmento de maior intensidade no avanço da demanda, além de atrair desenvolvimentos feito um ímã, atestam o vice presidente Roberto Noronha Santos e Wendel de Souza, diretor de negócios para estirênicos. O empenho da Unigel em corresponder a essas expectativas foi reconhecido na forma de duas láureas depositadas no seu colo em novembro por petardos globais em geladeiras, a sueca Electrolux e a japonesa Panasonic.
O prêmio de excelência profissional dado pela Panasonic refere-se ao suprimento de PS para a montagem de refrigeradores iniciada em 2012 na unidade da marca oriental na mineira Extrema. “Somos fornecedores exclusivos no gênero para a Panasonic no país”, sublinha Henri Slezynger, fundador e presidente da Unigel. Por sua vez, em disputa que teve como finalistas a petroquímica Braskem e outro titular do Brasil, a transformadora Tecnopeças, a Unigel conquistou o troféu “Supplier Award-Latin America”, aval da grife sueca à competência do grupo líder no Brasil em estireno e no polímero que dá as cartas no interior das geladeiras. “ O propósito desse prêmio, em sua segunda edição em 2014, é classificar os melhores fornecedores da companhia com base em rigorosos critérios de âmbito global”, descreve Lúcio Bicalho, vice presidente de compras América Latina e Global Fabric Care da Electrolux.
A Electrolux, abre Bicalho, reparte seu abastecimento de peças de PS entre aquelas injetadas internamente e os componentes adquiridos de sua base de transformadores. “Os critérios utilizados para determinar o nível de verticalização da produção são confidenciais”, ele assinala. Há quatro anos, situa Bicalho, a base latino-americana da Electrolux preza a qualidade da Unigel como fornecedora filtrando-a pelas variáveis assentadas em quatro pilares. O vice-presidente começa pelo atendimento aos critérios estabelecidos e a parceria tecnológica e comercial. “Isso inclui o nível de competitividade, prazos de pagamento, capacidade de inovação e de desenvolvimento de produtos”, traduz Bicalho. O segundo pilar , ele segue, refere-se à capacidade de atendimento e nível de serviço da cadeia logística. “Entre os tópicos analisados, constam a acuracidade da remessa e a flexibilidade de lead time e de alterações de entrega”, aponta Bicalho. A Electrolux também se debruça sobre a qualiade do produto recebido e o cumprimento de metas nesse campo pelo fornecedor. “Nesse caso, passam por avaliação a sua aptidão para resolver problemas e comprovação estatística da qualidade do produto (PPM) entregue”, insere o dirigente. O quarto e último pilar, ele sintetiza, consta do escrutínio feito pela Electrolux da obediência dos candidatos ao prêmio aos critérios do seu código de conduta estabelecido para fornecedores.
Ainda mal recuperado de cirurgia no joelho, Henri Slezynger e Paulo Gubeissi, gerente comercial da Unigel, receberam o prêmio em 12 de novembro, em jantar de gala em Estocolmo. Em seu agradecimento, o presidente do grupo brasileiro ressaltou a sua fábrica no Guarujá (SP), escalada para servir a Electrolux e cuja qualificação para tanto decorre da condição de ter sido a última – e, portanto,a mais completa – unidade de PS implantada pela norte-americana Dow antes de sair do negócio mundial do polímero estirênico. No arremate, Slezynger aproveitou a deixa da homenagem ali na Suécia, assegurando que, para a Unigel, ganhar o prêmio da Electrolux era mais valioso que o Nobel. •