Até poucos anos atrás, a foto típica de uma recicladora nacional de plástico, apontava o consenso dos perfis do ramo, mostrava uma empresa de pequeno porte e defasada em tecnologia e gestão. O interesse avivado na sociedade pelo meio ambiente, a melhora do status do material recuperado e o esperado aumento do mercado, a tiracolo de normas como a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos estão jogando para escanteio aquela imagem a desejar do reciclador. Referência dessa reviravolta é a endorfina da Raposo Plásticos ao cruzar a faixa de 25 anos de ativa. “Na última década, crescemos à média de 20% ao ano em volume de vendas e faturamento, com cerca de 3.000 clientes hoje cadastrados na carteira”, estima o fundador e presidente Hélio Tanaka. “De dois anos para cá, o movimento e a receita diminuíram a marcha para um avanço de 5% anuais, justificável pelo esfriamento da economia e pelo estágio maduro alcançado em volume e fôlego financeiro pela nossa operação”.
Tanaka não pousou no ninho do plástico de bate pronto. Formado em administração de empresas, ele trabalhou de 1970 a 1985 na hidrelétrica Itaipu Binacional. Em busca do que fazer ao deixar a empresa, topou o convite para experimentar o negócio de reciclar plástico proposto por um irmão. “Ele injetava peças técnicas e, àquela época de inflação incontrolável, sob o impacto do Plano Cruzado no governo Sarney, a oferta de resina virgem escasseava”, rememora o industrial. “Além do mais, como nem se pensava em sustentabilidade, as indústrias finais costumavam jogar fora o refugo gerado em linha, uma situação favorável ao reciclador por lhe dar acesso a matéria-prima abundante e barata”. Controlada por ele, o irmão e outro sócio, a empresa, situada em galpão de 300 m² em Diadema (SP), não se firmou e, ao fim e ao cabo, Tanaka tocou sozinho, por alguns anos, o serviço de recuperar plástico para terceiros.
“Foi uma fase de aprendizado e o trabalho rendeu”, ele resume. O negócio fluiu a ponto de, em 1989, Tanaka mudar a operação para Cotia (SP) e batizá-la de Raposo Plásticos, inspirado na rodovia Raposo Tavares, perto dali. “Comprei um terreno de 6.300 m² e construí a sede em área de 840 m²”. Naquele momento, ele já repartia o bastão da empresa com a esposa, Marília, hoje à frente da diretoria financeira.
A Raposo entrou em campo na garupa de uma capacidade de apenas 45 t/mês de reciclado, a cargo de duas extrusoras, com receptivos diâmetros de rosca de 75 e 90 mm, especifica o industrial. A arrancada da Raposo, atribui Tanaka, foi em boa parte calibrada por oportunidades depositadas pelo poder público no colo do plástico reciclado. Ele exemplifica com o fornecimento de polietileno recuperado para a extrusão de tubos destinados a acomodar cabos de fibra óptica. “Foi uma febre que durou perto de dois anos, enquanto era montada a rede nacional de telecomunicações e até o governo vetar o uso de reciclado nos tubos”, esclarece Tanaka. Outra dádiva para os recicladores, ele prossegue, pintou quando se favoreceu a injeção de caixaria de hortifrútis empregada nos entrepostos atacadistas, em detrimento dos toscos caixotes de madeira, reconhecidos como mais frágeis e menos higiênicas que os de polietileno de alta densidade.
Hélio trouxe os filhos Leandro e Adriano para o negócio e deu certo. Eles assinam uma parcela significativa dos investimentos e conquistas marcantes nos últimos 10 anos. Entre os destaques, o presidente acena com a expansão do terreno da empresa para 16.000 m² (12.000 m² de área construída); o estoque com sistema de gerenciamento WMS (Warehouse Management System), capaz de alojar 2.500 toneladas de reciclado pronto para entrega e, por fim, com o laboratório super equipado, recurso chave para a Raposo despontar em 2008 entre as primeiras recicladoras no país certificadas pela ISO 9001. A empresa também, sobressai pela caça movida à produtividade, empoleirada em cálculos na ponta do lápis. “Conseguimos passar a produção de três para dois turnos, reduzindo em 30% o custo de mão de obra e em 40% os gastos de energia, pois também paramos de rodar em horários de pico do consumo de eletricidade, de tarifas mais altas”, ilustra Hélio Tanaka. Na mesma trilha, Leandro, no leme da diretoria industrial, encaixa a compra de um triturador da alemã Zema, apto a operar na faixa de 5 t/h e a modernização do parque de extrusão, hoje a cargo de 11 linhas totalizando capacidade máxima projetada em 3.000 t/mês.
A obsessão dos controladores da Raposo pela automação do processo explica seu quadro de apenas 130 funcionários no total, calcula Hélio Tanaka. Uma sacada que já tomou corpo este ano, intervém Leandro, foi assumir a coleta, antes terceirizada, de refugo nas indústrias supridoras da Raposo. “Compramos um caminhão e 14 caçambas deixadas nessas empresas para posterior recolhimento”, ele explica. Na radiografia atual, uma fração de 30% do material entregue provém de indústrias, enquanto 70% são provenientes do pós-consumo. “A matéria-prima nos chega lavada, triturada e classificada”, completa Leandro.
A gestão da Raposo segue a linha de crescer pelo aprimoramento da engrenagem, sem experimentar frentes de atuação para além do circuito da reciclagem. A mira da família Tanaka continua em cima da reciclagem de polietileno, polipropileno, poliestireno, poliacetal e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno. “Um exemplo de manobra que aprovamos, por gerar valor sem alterar nosso foco, foi o ingresso em compostos formulados com materiais que reciclamos”, intercede Leandro. Adriano Tanaka, diretor comercial, sublinha o comprometimento da empresa em polir a imagem do plástico reciclado. “Fornecemos material de qualidade equiparável ao virgem, com produção contínua e garantia de suprimento constante”. •
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