Um premonitório ajuste de rota fez a transformadora paulistana Cobrirel, na ativa desde 1972, escapar da deriva e chispar para o sucesso. Há 25 anos, ela saía da injeção de componentes para as indústrias eletroeletrônica, automobilística e de telecomunicações para focar a produção de utilidades domésticas (UDs). Em fins da década de 1980, o fundador Antonio Trevisan, ainda hoje firme no leme, sacou que os clientes de peças técnicas estavam ampliando suas redes de suprimento globais e, noves fora, cada vez menos dependiam de fornecedores locais. Com a guinada, a transformadora fugiu de produzir meros potinhos e utensílios básicos, então dominantes no mercado. A intenção sempre foi fazer artigos de maior valor e diferenciados, inclusive por causa da inventividade de Trevisan, com reconhecida vocação para içar oportunidades imersas em estorvos do cotidiano doméstico.
Trevisan teve sua primeira epifania ao perambular por UDs numa montagem da “K”, feira alemã acatada como nº1 do plástico no planeta. Veio de lá a inspiração para injetar caixas organizadoras dobráveis. “O êxito foi imediato no Brasil, pois era algo totalmente inovador”, explica o transformador. A partir daí, o portfólio da Cobrirel se avantajou e a caixa em questão ganhou novos tamanhos e adereços, como alças e tampas. Na rabeira, vieram outras inovações marcantes em UDs no país. Entre elas, Trevisan destaca os acessórios para galões de água mineral e a bomba com rosca que mantém o gás em garrafas PET de refrigerantes. Sacadas recentes incluem potes herméticos para cozinha e dispensers para grãos e cereais. Até hoje, comenta Trevisan, a caixa organizadora é o artigo mais pirateado da Cobrirel, “inclusive por alguns transformadores de grande porte”, ele deixa no ar. Por conta disso, começou a registrar patentes para suas criações, numa tentativa de inibir a cópia indiscriminada pela via legal.
Em 1989, quando a Cobrirel voltou-se para UDs, a competição era menor no ramo, mas determinados concorrentes já se consolidavam, em regra a bordo de artigos convencionais. Logo no ano seguinte, o confisco de bens em conta corrente, ápice da heterodoxia econômica perpretado pelo Plano Collor, só não impactou mais a transformadora em virtude de seu bom relacionamento com bancos, com consequente acesso às linhas de crédito. “Foi um tempo difícil, mas superamos as dificuldades. Aliás, todas as empresas estavam na mesma situação”, rememora Trevisan.
Desde então, a Cobrirel expandiu e modernizou as operações. O parque de injeção, equipado com cerca de oito linhas 25 anos atrás, hoje possui 19 máquinas e ferramentaria muito mais forte. A empresa continua a opera no coração da Mooca, bairro emblemático da zona leste paulistana, em terreno adquirido em 1986. Por enquanto, o porta-voz não cogita transferir sua produção para a China, maior produtor global de UDs de plástico, por conta de altas escalas e baixos custos. Porém, uma alternativa bem mais próxima está em estudo. Trevisan está conduzindo uma pesquisa com companhias daqui que produzem no Paraguai. “Sua carga tributária está entre 10% e 12%, enquanto aqui paga-se para governo de 36% a 40%”, compara. Por conta dessa possibilidade, o empresário desistiu de vez de transferir sua unidade para Atibaia, no interior paulista, opção vislumbrada nos idos de 2011 e 2012.
Para se ter uma ideia do potencial criativo e operacional da Cobrirel, Trevisan abre ter colocado no mercado, em média, um produto novo a cada dois meses ao longo desse ano. “Mas isso depende da complexidade dos artigos”, ressalva Trevisan. O pote hermético, por exemplo, possui diversos componentes e, por isso, o processo de confecção dos moldes e alinhamento da produção é mais demorado, ele justifica.
Até o momento, a Cobrirel não licenciou UDs de concorrentes internacionais por não ter encontrado o parceiro certo. “Mas estamos abertos a essa possibilidade”, avisa o dirigente. Porém, ele condiciona, não adianta lançar no mercado um artigo apenas. Esse tipo de aposta deve incluir uma linha completa de produtos para conseguir inseri-la nos grandes varejistas. Nessas redes, há compradores para cada tipo de item e bater na porta de um por um não é garantia de sucesso.
Outra carta na manga para diferenciar a Cobrirel da concorrência chama-se loja virtual para revendedores. Esses agentes, por assim dizer, chegam a cidades pequenas não atendidas por distribuidores maiores. “Nossa meta é atacar o Brasil inteiro”, assevera Trevisan. Consumidores finais também podem comprar artigos diretamente no site ou na sede da indústria.•
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