Filmes multimaterial encabeçam os carrascos plásticos do meio ambiente no livro negro da economia circular. A rejeição decorre da sua reciclagem tornada complexa e encarecida pela incontornável separação de componentes incompatíveis entre si. Em reação a esta espada sobre a cabeça dos flexíveis, já olhados de soslaio pelos cultores da sustentabilidade em razão da complicada coleta do seu descarte pós-consumo, a cadeia do plástico vai à luta atrás de soluções que resguardem a presença dos filmes nos mercados platinum de alimentos, bebidas e cosméticos. Entre os primeiros desenvolvimentos a vir à luz, consta o reciclável stand up pouch (SUP) 100% de polietileno (PE), em campo no Primeiro Mundo há alguns anos e que agora estreia em produção nacional pelas mãos da Braskem e sua parceira exclusiva, a convertedora Antilhas Flexíveis. Até o fechamento desta edição, não houve notícia da primeira marca e produto a embarcarem na nova embalagem.
“Polietilenos proporcionam barreiras ao vapor d’água e o SUP dessa resina pode acondicionar produtos dependentes dessa propriedade”, pondera a pesquisadora Lea Mariza de Oliveira, reverenciada sumidade do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). “Por exemplo, grãos e farinhas, balas, determinados tipos de biscoitos, refrigerados e congelados, ou então, bebidas e artigos de higiene e limpeza como detergentes em pó e amaciantes, não sensíveis ao oxigênio”. Por conter somente PE, ela explica, o SUP em questão não provê barreira à gordura e ao oxigênio e a permeabilidade a este gás altera o sabor e cor de alimentos a ele sensíveis. “Portanto, o SUP 100% de PE não é recomendável para acondicionar produtos como atomatados e molhos com alto teor de gordura”, julga Lea. Além do mais, coloca, a depender dos tipos de PE empregados na estrutura, o SUP monomaterial pode acusar limitações em sua resistência térmica. “O grade retorno conferido por essa embalagem é para a cadeia de reciclagem dos plásticos”, completa a especialista.
O SUP arquitetado por Braskem e Antilhas possui, no mínimo, três camadas de PE, a cargo de resinas lineares metalocênicas (PEBDLm) e de baixa e alta densidades (PEBD e PEAD), descreve sucinto Carlos Faria, engenheiro de aplicação para PE em filmes especiais da empresa, “É um SUP de ótima barreira à gordura e ao vapor d’água, devido à alta concentração de PEAD e marcou pela excelência em testes de envase de grãos, temperos, bebidas, produtos de higiene e limpeza e alimentos congelados e secos, como cereais matinais e misturas para bolos”, enaltece o técnico. “Há limitações no tocante a seu uso, em especial para armazenar produtos dependentes de barreira a oxigênio, mas os desdobramentos deste SUP caminham para alcançar requisitos não atendidos pela versão recém-lançada”.
Faria distingue seu SUP da concorrência internacional por simplificar o processo de produção. “Enquanto as demais tecnologias são calcadas em duas extrusões, laminação e impressão, nosso desenvolvimento dispensa a laminação e, por tabela, zera o uso de adesivo inerente a esta etapa, conferindo assim melhores propriedades ao material reciclado”. Outro diferencial, insere Faria, é um ás na manga da Antilhas: a gravação do SUP pelo sistema flexográfico a frio e sem solventes Electron Beam, pelo qual a cura do material impresso provém da reordenação das cadeias moleculares resultante de feixe de elétrons despejado sobre a tinta. “Confere alta resistência química, térmica e mecânica à impressão do SUP sem laminação”, arremata Faria.
“Pelo que entendo deste desenvolvimento, a ideia foi eliminar a necessidade de laminação e proteger a impressão com tintas ou processos especiais”, comenta Domênico Macchia, diretor de novos negócios e desenvolvimento de novos mercados da Videplast, turbojato nacional em coextrusados e laminados. A seu ver, procede no caso o emprego de verniz para ampliar brilho e resistência à abrasão do SUP impresso. Macchia também percebe competitvidade para a embalagem monomaterial no envase de produtos não dependentes de barreira a oxigênio e vê possibilidades de ela ser acolhida por brand owners com o crachá do desenvolvimento sustentável.
Aditivos dão fino trato à reciclagem
Com a reciclagem bem na foto da economia circular, a Cromex intensifica os desenvolvimentos voltados para a segunda vida do plástico pós-consumo. Entre as sacadas que ganham a luz, Juliano Barbosa, coordenador de projetos e produtos da componedora, distingue dessecantes (PE-DS 14124 e PE-DS 11101) que capturam a umidade do material durante a extrusão, e os auxiliares de fluxo (PE-AX 13279 e PE-AX 5540) capazes de reduzir paradas da extrusora para limpeza da matriz, aumentar sua produtividade e evitar a formação de pontos de géis. Na esfera da qualidade do reciclado, ele acena com antioxidantes (PE-AO 5080) que zeram a possibilidade de termoxidação do polímero, mantendo suas propriedades mecânicas. Em termos de PET, se o objetivo é recuperar as propriedades mecânicas do refugo,viscosidade inclusa, a pedida da Cromex é o auxiliar denominado extensor de cadeia talhado para o poliéster. “Algumas limitações do uso do reciclado relacionam-se à sua tonalidade e o odor característico”, expõe o técnico. “Para o primeiro caso, isso pode ser melhorado com branqueadores óticos ou blue-toner (PE-BO 5699, PET- BO 80133 e PET-AZ 14757), enquanto para o segundo, indicamos nossos redutores de odor (PE-AD 14395) que encapsulam o mau cheiro do resíduo plástico”.
Seis anos foram consumidos em pesquisas para a Dow chegar a seu SUP 100% de PE, hoje presente em mais de 70 casos de sucesso num efetivo superior a 50 marcas no planeta, dimensiona Sabine Rossi, gerente para desenvolvimento de mercado de embalagens da empresa no Brasil. “Metade desses casos aconteceu na América Latina, onde temos mais de oito convertedores qualificados para produzir embalagem”, ela indica, sem abrir nomes. Sabine também invoca questões legais para não detalhar a estrutura do SUP. “Mas posso informar que as famílias de PE utilizadas integram as séries Agility™, Dowlex™GM, Innate™, Affinity™ e a resina compatibilizante Retain™, um leque de materiais que visa assegurar rigidez, selagem, resistência mecânica, brilho, barreira e maquinabilidade à embalagem”.
Estudo divulgado pela Dow atesta que estruturas de SUP laminadas com PE são três vezes mais resistentes à punctura que alternativas ditas convencionais, como poliéster biorientado (BOPET)/PE. Para aplicações dependentes de barreira a oxigênio e/ou odor e com ganhos na resistência à perfuração, o mesmo trabalho recomenda a adição de álcool etileno vinílico (EVOH) entre duas camadas de PE numa estrutura coextrusada. “A Dow dispõe de várias estruturas coex e laminadas do SUP de PE”, complementa Sabine. “Entre os desenvolvimentos patenteados, consta uma solução para ampliar a barreira a oxigênio com a inclusão de EVOH e Retain™. Por sinal, a presença desta resina compatibilizante possibilita a reciclagem desta estrutura na cadeia de PE”.
A quatro mãos com a convertedora vietnamita Thanh PU, a ExxonMobil introduziu no mercado asiático um modelo laminado de SUP 100% de PE, brandido como solução em linha com a economia circular dada sua reciclagem menos trabalhosa e cara que a de pouches multimaterial. A embalagem pode ser reciclada na mesma cadeia de PE, informa a ExxonMobil em comunicado, e sua composição é preenchida por resinas de alto desempenho das séries Enable™, Exceed™ e Exceed ™XP.
Na mesma trilha, Alex Kane, líder de marketing para embalagens primárias na América Latina, ressalta o lançamento pela ExxonMobil na região do grade de PE Exceed™XP 8784, acenado para flexíveis como SUP e demais estruturas laminadas ou coextrusadas a partir de predicados como a densidade de 0,914 g/cm³, índice de fluidez de 0,8 g/10min e excelência no desempenho mecânico, processabilidade, selagem e hot tack. Sua baixa pressão durante a extrusão e alta resistência do fundido convergem para ganhos de produtividade, da mesma forma que sua elevada rigidez e resistência ao impacto contribuem para a redução da espessura e maior integração da embalagem.•