Duro de escapar

Recessão engessa transformadores de shrink e stretch

Por suas virtudes e fragilidades, filmes shrink e stretch andam pelo fio da navalha com a economia no vermelho. Ponto a favor para diluir essa rebordosa é a diversidade  de mercados das duas películas. Em contrapartida, por se tratarem de flexíveis de baixo valor agregado e com superlotação de fornecedores, a combinação de demanda em recesso, inflação e resina precificada em dólar sob câmbio volátil e em alta põem à prova a solidez financeira dos transformadores desses dois redutos, em particular a ala de escalas menores. “Por enquanto, não vejo luz no fim do túnel”, pondera Alberto Lopes Moreira, diretor comercial da Goiaspack, controlada do Grupo Embalo com foco em shrink e stretch. “No momento, a maioria das empresas está equilibrando receitas e despesas, na torcida para a recessão passar logo, mas o fôlego encurta a cada dia e muitas podem sair do mercado se essa situação continuar”.

Como era de se esperar, as indústrias finais com saúde no balanço passaram a ser o grande foco  dos fornecedores de shrink e stretch, percebe Moreira. “A disputa por esse tipo de cliente endureceu e leva o pedido a empresa de melhor preço, pois qualidade é obrigação para quem produz esses filmes”. Para engrossar o caldo, o porta-voz da Goiaspack enxerga os transformadores ofegantes sob os custos operacionais, a exemplo de água, energia e tributos, e pelos reajustes nos preços das matérias-primas de frequência intensificada este ano em virtude dos coices do dólar. Moreira ilustra o drama com seu negócio de stretch. “Pretendíamos crescer 20% nas vendas este ano, mas até a entrada de novembro aferimos queda de 10% em relação ao movimento de 2014”, ele compara. “A concorrência piorou, praticando preços muito próximos do custo de produção, e os clientes passaram a fazer pedidos de volumes menores, pois suas vendas também baixaram”. A hipótese de os compradores buscarem barateamento  no filme estirável à base  de polietileno reciclado é descartada no plano geral pelo transformador. “Mesmo com preço menor, o cliente tem consciência de que, em regra, o custo/benefício não compensa”. Do seu observatório na Goiaspack, Moreira constata que suas vendas nacionais de shrink e stretch têm sentido mais o pisão da crise no mercado do Norte/Nordeste. “As demais regiões reagem de forma mais equilibrada”, nota. Shrink, por sinal, é o filme de maior recuo em suas vendas este ano, atesta o diretor. “É um filme de uso pouco versátil”, justifica Moreira. “Desde que o preço seja mais adequado, o cliente pode optar por alternativas como as caixas de papelão”. Além do mais, insere, uma gama de indústrias usuárias de shrink busca preços menores sem atentar para o quesito da qualidade. Para fechar o tempo de vez, Moreira assinala que a crise também está ceifando a fundo o contingente de clientes de stretch e shrink. “A redução no quadro decorre da entrada de empresas em processo de recuperação judicial ou de inadimplentes que tentam honrar seus compromissos para continuar no mercado”.

Carnevalli lapida extrusão de shrink e stretch

A coextrusora Polaris Plus 3-2100 é o carro-chefe da Carnevalli para stretch.” Como esse filme tem largura padrão de 500 mm, o modelo com 2.100 mm dessa medida pode fornecer quatro bobinas de 500 mm de largura”, justifica o diretor Wilson Carnevalli Filho. A empresa é referência nacional na extrusão tubular e, aos olhos do fabricante, transformador de stretch que procura esse tipo de equipamento em geral carece de demanda suficiente para rodar em maiores escalas, campo por excelência das coextrusoras de matriz plana, até hoje não montadas no país. “Devido ao alto custo de um modelo cast para stretch, a procura por máquinas blown deve crescer em 2016”, acredita Carnevalli. Além do preço menor, ele põe fé na receptividade a melhorias presentes em breve em seu portfólio, caso de aumentos de capacidade para linhas de cinco camadas dotadas de anel de ar diferenciado pela produtividade e controle, trunfos para a resistência mecânica do stretch gerado por máquina blown.  “Outra novidade serão as coextrusoras de cinco camadas para stretch e, em especial shrink”, ele acena. “O número de  camadas também enseja ganhos de produtividade e o uso de mesclas de materiais recentes e eficazes para contração do filme termoencolhível”.
No terreno de shrink, a pole das vendas da Carnevalli é partilhada por dois equipamentos da série Polaris Plus: a extrusora 100-2500 e a coextrusora 3-2500.  O dirigente credita essa dianteira de ambas ao tripé da produtividade, economia de energia e o baixo custo operacional e de manutenção. Ambos os modelos foram este ano contemplados com aprimoramentos comuns a todo o mostruário da Carnevalli. “O principal avanço foi a readequação dos conjuntos extrusores”, distingue o porta-voz. “Passamos assim a extrair o máximo aproveitamento da relação de potência versus o diâmetro do conjunto, elevando então o índice anterior de 90% de rendimento à faixa de 98%”.

A demanda no estaleiro não empaca os avanços no processsamento dos dois filmes, deixa patente Moreira. “Em stretch, a tradução de evolução é o aumento do rendimento por metro linear e, nesse sentido, as petroquímicas têm comparecido com resinas de polietileno mais eficientes”. Na esfera de shrink, ele destaca a procura, incrementada nos últimos dois anos, por mais velocidade e menos consumo energético nas tecnologias de túneis de encolhimento. “Na grande maioria dos casos, foram substituídos os equipamentos que antes operavam como envolvedoras para seladoras, uma mudança de resultados satisfatórios e permitindo ainda diminuir a gramatura do filme”.

Paul Reiter, diretor do Packing Group, faixa preta em shrink e stretch, percebe estes dois redutos da transformação em idílio com a automação do processo. “Incluso o final da linha onde o stretch é aplicado e, por sinal, temos ótimas opções de envolvedoras automáticas, nacionais ou importadas”. Hoje em dia, comenta, as máquinas exigem muito do stretch, em termos de rendimento e  rapidez da linha. “75% das nossas vendas são para paletização automática e o restante vai para aplicação manual do filme”. No compertimento das resinas, Reiter chama a atenção para novos grades de polietileno linear (PBDL) e de baixa densidade (PEBD) capazes de ampliar a resistência e rendimento do shrink e, para stretch, tipos de PE em linha com as exigências de redução de gramatura e aumento na rapidez do desbobinamento.
Na selfie atual, o Packing Group ostenta 120.000 t/a de capacidade total de flexíveis. Reiter não abre a parcela correspondente a shrink e stretch, mas afiança que fontes como a Braskem atribuem à sua empresa a liderança nacional nesses dois segmentos. “Nos últimos três anos, o grupo investiu na faixa de R$ 40 milhões em cinco coextrusoras e quatro flexográficas”, conta. Além da economia de escala, a empresa saca da manga diferenciais como um stretch de composição sigilosa, denominado Euronano, com o chamariz de reduzir custos para fabricantes de bebidas. “Esse produto proporciona 400% de estiramento e é dirigido a um nicho fora do alcance do stretch tradicional, ocupado por indústrias do peso da Ambev, Coca-Cola e Kirin, possuidoras de máquinas que podem exigir bastante do Euronano”, descreve o diretor. “A crise não abala a venda desse filme pois, no final das contas, ele gera redução no consumo, tal como o cliente quer”.
Mas o mar não está mesmo pra peixe e, nessa batida, Reiter elege materiais de construção e bens de consumo de alto giro como os redutos mais abalroados pela secura da demanda. “No mercado interno, os clientes têm espremido ainda mais os fornecedores de shrink e stretch para baixar preço e passaram a comprar apenas a quantidade  necessária, utilizando ao máximo possível o estoque”, ele expõe. “Para não perder volume, aumentamos as exportações com a ajuda do câmbio”.

PE: o guarda costas da produtividade

Três perguntas para Marcelo Neves, engenheiro da área de aplicação de polietilenos em flexíveis da Braskem.

PR – Quais as principais mudanças e melhorias recentes nas propriedades de suas resinas de PE para shrink e stretch?
Neves – Alinhada com informações de mercado, evoluções tecnológicas e ao crescente interesse por shrink em substituição de outros materiais (papel cartão, papelão, p.ex), a Braskem lançou este ano mais dois grades de polietileno de baixa densidade linear (PEBDL) metalocênicos: Proxess1806S3 e Proxess 2606. As soluções desenvolvidas com eles, além de viáveis economicamente, conferem aumento de produtividade na extrusão, adequado encolhimento ao filme e excelência na selagem, maquinabilidade, propriedades óticas e resistência mecânica. Além do mais, a empresa oferece um portfólio completo de PEBD e do tipo de alta densidade (família HD7600s) que permite ao transformador explorar de formas distintas a rigidez, transparência e brilho do shrink. Já para stretch o  destaque recente é o grade de PEBDL Flexus7200XP. Ele sobressai pelas propriedades óticas, resistência à punctura e força de retenção de carga, além de reduzir número de paradas para limpeza da extrusora.

PR – Como vê o consumo de  PE para shrink e stretch este ano?
Neves – Em linha com a dinâmica do segmento de bebidas, principalmente refrigerantes, água e cerveja, o mercado de PE para o filme termoencolhível deve fechar este ano  próximo à estabilidade ou com pequena retração perante 2014, o que representa uma base de comparação elevada devido à Copa do Mundo. Já o consumo de PE para stretch deve acompanhar o  desempenho da produção industrial.

PR – Como avalia as atuais participações dos sistemas de paletização automática e manual no mercado brasileiro de stretch?
Neves – O emprego de stretch manual no Brasil ainda é muito elevado, mas com o aumento do custo da mão de obra e da exigência de performance dos filmes, a adesão à paletização automática crescerá de forma mais acentuada nos próximos anos.

Apesar da crise e superoferta, correm na praça notícias de investimentos em filmes como shrink na Zona Franca de Manaus, a exemplo da fábrica da MM Indústria da Amazônia, controlada pelos irmãos Marcos e Marcelo Prando, donos da distribuidora paulistana Replas. “Acompanhamos este movimento migratório de transformadoras mudando para Manaus e, por sinal, constituímos uma empresa para instalar uma fábrica ali em questão de seis meses, caso as condições de custo de matéria-prima se alterem ou piorem”, revela Reiter. No momento, julga, esse movimento não vale a pena. “Em gteral, os transformadores iam para a Zona Franca para faturar para outra empresa de seus grupos e se creditarem do IPI, sem destacá-lo na nota fiscal”, observa Reiter. “Mas temos agora uma decisão do ministro Gilmar Mendes contrária a esta prática e transitada em julgado no Supremo Tribunal Federal levando os transformadores que assim agiam a rever seus conceitos, sob a ameaça de multas pesadas”.

Pelo andar da carruagem, Reiter pressente a continuidade do drama para shrink e stretch no seriado do ano que vem. Entre as consequências, ele aposta no aumento de casos de fusões e aquisições de competidores. “No passado, eram poucas as empresas oferecidas e hoje são muitas, embora o passivo fiscal seja um empecilho”, analisa. Outra pedra que ele canta para 2016: “são altas as possibilidades de grandes players do ramo entrarem em recuperação judicial, tal como ocorreu nos últimos dois anos. Alguns concorrentes estão atrasando o pagamento das resinas. Isso vira uma bola de neve”.

Marcos Aro, dirigente da GPack Embalagens,  endossa a visão de  Paul Reiter e Alberto Moreira a respeito da crise pressionando indústrias consumidoras de shrink e stretch a mergulharem em  temporada de caça aos preços mais baixos. “Elas tornam-se alvos de orcamentos mais baratos, atraentes e ilusórios, pois afinal acabam prejudicadas numa série de questões relativas à qualidade e volume de filmes recebido”, explica. “A realidade demonstra não existir custo baixo,mas  a manipulação de alguns competidores para oferecem a ideia do preço menor”. Na contramão dos demais entrevistados, Aro vê o mercado aquecido e o consumo dos dois filmes sem interrupções. “A concorrência aumentou e incrementou a oferta de shrink e stretch em condições diferentes”, coloca. “Mas isso não significa condições que  favoreçam quem compra, mas condições aparentemente vantajosas, criando no cliente a ilusão de uma economia em seus gastos. É o que enfrento hoje, quando contato um possível cliente para meus filmes”.

 

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