Alinhada entre os maiores distribuidores da Braskem, único produtor no país de poliolefinas, a activas atravessou em 2024 uma conjuntura de disputa em brasa com importadores, quadro que tende a arrefecer com a vigência, desde outubro último, da barreira tarifária elevada de 12.6% para 20%. Na entrevista a seguir, Laercio Gonçalves, CEO do Grupo activas, deixa claro que a subida da alíquota e a atuação múltipla da companhia pavimentam sua expectativa de sair do faturamento de R$700 milhões em 2023 para voltar logo à marca recorde de R$1 bilhão atingida na fase final da pandemia, em 2021.
Laercio Gonçalves: ampliação do portfólio com soluções sustentáveis e especialidades técnicas.
Em 2024 a activas incrementou sua operação de masters e entrou na reciclagem de aparas de clientes. Não fossem essas atividades, poderia estimar qual seria o faturamento do grupo em 2024? E mais: a diversificação de operações é a saída enxergada pela activas para contornar as limitações criadas pela concorrência importada para sua distribuição de poliolefinas da Braskem, seu maior negócio?
A diversificação de portfólio tem sido um pilar estratégico e tem somado ao Grupo activas novas linhas de negócios e aumento de faturamento. Em 2024 ainda não temos os números auditados fechados, mas em 2023 atingimos um faturamento anual de R$ 700 milhões. O mercado de resinas plásticas vem passando por transformações significativas e enxergamos nas soluções em masterbatches e reciclagem uma oportunidade de agregar valor aos clientes. A ampliação do portfólio com soluções sustentáveis e especialidades técnicas nos permite não apenas mitigar os desafios da importação, mas oferecer uma gama mais completa de produtos e serviços.
Em 2024, o Brasil importou 3.7 milhões de toneladas das resinas commodities, cerca de 1 milhão a mais do que em 2023. Isso significa que o aumento da alíquota de importação para 20% não funcionou até agora para frear os volumes de materiais internados?
As tarifas de importação no Brasil foram um tema de grande relevância em 2024 e devem continuar impactando o mercado em 2025. Isso ocorre porque a decisão de compra das indústrias e transformadores não depende apenas da alíquota, mas também do custo da matéria-prima, disponibilidade de oferta, preço do frete marítimo e previsibilidade. Mesmo protegendo a indústria nacional e beneficiando tanto os produtores quanto os distribuidores locais, como a activas, muitos players já estavam posicionados estrategicamente para lidar com a mudança tarifária, o que pode ter reduzido seu efeito imediato.
Embora o Brasil tenha importado 3,7 milhões de toneladas de resinas commodities em 2024, cerca de 1 milhão a mais do que em 2023, os dados mais recentes indicam uma possível reversão dessa tendência. Novembro registrou uma queda de 2% em relação ao mesmo período de 2023, e dezembro apresentou redução de 4%. Isso sugere que o perfil de importação já possa estar sendo impactado pelas novas alíquotas.
A longo prazo, essa tendência de redução deve continuar, já que trabalhar com importação é altamente volátil, envolve riscos significativos e depende fortemente da variação cambial. Dessa forma, a previsibilidade e os custos podem tornar a importação menos atrativa ao longo do tempo, levando a uma maior estabilização do mercado interno.
Como reparte as participações de poliolefinas importadas e da Braskem no varejo brasileiro de PP e PE em 2024?
Segundo a consultoria Icis, a demanda brasileira de polietileno (PE) é de aproximadamente 3,4 milhões de toneladas, com um volume desembarcado de 1.870.000 toneladas, o que representa 55% do total. Isso demonstra que PE importado teve uma participação expressiva no mercado brasileiro. Para polipropileno (PP), a demanda brasileira foi estimada em 2 milhões de toneladas, considerando as 714.100 toneladas importadas no ano; desse modo, o polímero importado representou 36% do volume total. Nesse caso, PP nacional segue consolidado como principal fornecedor no mercado.
Alguns grades de poliolefinas da Braskem já apresentam capacidade aquém da demanda ou estão com capacidades que caminham para esgotar a curto prazo. O que a activas pretende fazer para evitar, no futuro, a ausência ou insuficiência desses materiais em seu portfólio? Essa situação pode levar a activas a distribuir grades de poliolefinas importadas em lugar dos grades nacionais de produção insuficiente?
Não vemos nenhum problema, nem a médio ou longo prazo, em relação à falta de materiais locais. A activas possui uma parceria consolidada com a Braskem e não tem nenhuma intenção de importar poliolefinas para substituir grades nacionais. Mesmo que algumas capacidades estejam próximas do limite, confiamos na estrutura produtiva da Braskem e em nosso relacionamento com ela para garantir um fornecimento contínuo e seguro desses materiais. Nosso foco em materiais importados está em outras linhas, como PET, ABS e PC.
Segundo foi divulgado, activas cogita abrir este ano mais uma filial no Sul. Por que?
Ainda não definimos o local exato para a possível nova filial, pois estamos em fase de análise e planejamento. No entanto, essa expansão faz parte da nossa estratégia para atender melhor os clientes, absorver os volumes de crescimento que temos apresentado e aproveitar oportunidades tributárias, considerando a complexidade fiscal do Brasil. A nova unidade permitirá maior eficiência logística, otimizando prazos de entrega e ampliando nossa capacidade de estocagem.