“Vender masterbatch é vender serviço e, para isso, o contato humano é primordial”, sustenta José Fernandes, sócio executivo da componedora Cromaster. “O representante, a visitação, as observações de negócios e o pronto atendimento são fundamentais para o desenvolvimento das relações da empresa com os clientes e não saem do papel sem o pleno contato pessoal. A evolução digital eventualmente obtida fica como uma ferramenta a mais nessa relação, mas nunca a principal.”
Não foi a pandemia quem incendiou as controvérsias em relação à posição de Fernandes. Nos últimos anos, pesquisa de mercado ou evento empresarial já não era considerado digno do nome se não chamasse a atenção, em seu temário, para o avanço do e-commerce ou para a simplificação do cotidiano proporcionada pelas ferramentas digitais. Volta e meia, por exemplo, pipocam startups de aplicativos para impensáveis aplicações específicas e, no coração da vida real, todo mundo sabe que banco faz cibermágica para afastar correntistas da agência. Da mesma forma, finou-se na imprensa a gloriosa figura do repórter que gastava sola do sapato no rastreio do furo. Hoje em dia, imperam nas redações as entrevistas por fone ou e-mail e o banho de loja bem básico do conteúdo provido por consultas à wikipedia, google etc e tal.
Essas novas regras do jogo, aliás, inspiraram Plásticos em Revista a lançar a série de vídeos exclusivos “Momento do Plástico”, na qual todos os elos da cadeia do plástico desfrutam de um espaço inexistente nas redes sociais para externar suas opiniões sobre a atualidade e ministrar webinars com a certeza de que estão sendo acompanhados pela maior audiência que lhes interessa, pois está ancorada no vasto mailing de leitores cativos de Plásticos em Revista e nos alentados índices de visitantes do mercado às mídias digitais do veículo. Em suma, as gravações do “Momento do Plástico” não correm risco de mofar na tumba dos arquivos sem público-alvo dos YouTubes da vida.
Mas a opinião de José Fernandes é pertinente e, pela sua linha de raciocínio, plásticos formam na categoria dos produtos intermediários, aves de plumagem diferente, em termos de marketing e comercialização, dos produtos finais. Pois é esta já trôpega parede de isolamento que o vírus veio derrubar de vez. Economia retraída, quarentena e isolamento social levaram todos os setores, inclusa a cadeia plástica, a enxugar e racionalizar custos de toda a ordem. O consequente mergulho nas plataformas digitais não caminha para zerar o contato ao vivo prezado com justiça por Fernandes, mas a descarná-lo até o osso. Desse modo, tal como já acontece na assistência técnica, as plataformas digitais turbinadas pela mudança de hábitos na garupa do vírus já submetem a uma revisão em regra os contatos pessoais de prospecção de negócios ou a fidelização de clientes por amizade com o fornecedor, da mesma forma que deixam nos organogramas cargos como gestores de contas especiais ou de vendedores externos, tão confortáveis quanto o banco do ascensorista num elevador moderno. Nesse contexto, negociações e transações caminham para impessoalidade? Sim. Em contrapartida, a criatividade empresarial vai devassar as soluções digitais atrás de uma reação bem humana: fisgar meios de diferenciar sua assinatura da vala comum da concorrência. Como diz Fernandes, vender é serviço e ainda não há como substituir um dedo para dar o clique. •