À época da ditadura militar, a música popular brasileira andava inundada de composições sob a temática do “dia virá”, ou seja, a fé de que o futuro melhor acabaria chegando, mais hora menos hora. É esse o estado de espírito que emana do segmento de tubos plásticos corrugados de grande diâmetro, voltados para drenagem e redes de esgoto. Até hoje não deslancharam por motivos que vão da tragédia crônica da infraestrutura nacional à luta para convencer os especificadores da construção civil a respeito da superioridade de seus atributos sobre tubos concorrentes. Mas mesmo essa frustração acumulada há décadas não consegue levar esse reduto de polietileno de alta densidade (PEAD), a resina dominante nesses tubos corrugados, a atirar a toalha no ringue. “A participação desses tubos corrugados ainda é muito pequena no mercado, entre 5% e 7%”, situa Flavio Costa, responsável pelo segmento de tubos de PE na Braskem. O tempo é o aliado para a demanda crescer, ele sustenta. “A cada ano, as construtoras são pressionadas pelo desafio de reduzir ao máximo a duração das obras, ponto a favor da facilidade e rapidez na instalação oferecida pelos tubos de PEAD, implicando possível ganho de 300% de produtividade no comparativo com o principal concorrente, o tubo de concreto”.
Na selfie do momento, descreve Costa, o Brasil conta com dois produtores desses tubos corrugados de maior diâmetro, a Tigre-ADS e, precursora nos anos 80 da produção nacional no gênero, a Kanaflex. “A capacidade instalada totaliza em torno de 12.000 t/a no país e, na composição de tubos de drenagem de PEAD também constam os materiais reciclados, correspondentes a um consumo da ordem de 4.800 t/a”, projeta o especialista. Em contraste, o movimento dos tubos corrugados de PEAD muitos andares abaixo. “Devido à recessão e seus reflexos na infraestrutura, a expectativa para este ano é de reprisar as vendas de 2015, em torno de 4.200 toneladas”, ele suspira. O segmento hoje pisa em cacos de vidro. “Nos últimos cinco anos, grandes empresas investiram mais de R$ 23 milhões à espera de crescimento relevante, mas o mercado as contrariou”, constata Costa. “Em 2015, o movimento caiu 30% frente ao ano anterior, por culpa de atrasos no cronograma das obras de infraestrutura, e a perspectiva para o exercício atual é de outro recuo, acima de 10%”. No arremate do descompasso entre oferta e demanda, Costa insere a Mexichem Brasil como a única produtora local de tubos corrugados de grande diâmetro em PVC virgem, com capacidade nominal orçada por ele em 300 t/mês.
O freio imposto a esses tubos pela conjuntura não demoveu a Braskem de lapidar seu grade sob medida para eles: a resina de PEAD GM5255, de alta tenacidade e resistência ao tensofissuramento. Costa ressalta sua adequação aos requisitos de normas técnicas para tubos corrugados, caso da ISO 21138. “Sua distribuição de massa molar bimodal assegura excelência na processabilidade e propriedades de impacto”, ele completa.
O conservadorismo do mercado, identifica Costa, é a pedreira atravessada na estrada dos tubos corrugados de PEAD. “Sua leveza e maleabilidade são entendidas como provas de fragilidade e baixa resistência”, observa. Em termos de custos, nota, o produto de concreto ainda é mais barato pelo cálculo metro a metro, mas a versão de PEAD se destaca por reduzir gastos indiretos na construção. “Por serem mais leves que os de concreto, os tubos plásticos permitem o carregamento de maiores quantidades por caminhão e seu manuseio facilitado requer menos mão de obra e a necessidade de equipamentos pesados para a carga”, contrapõe o executivo, brandindo também a incidência de perdas de produto por avaria em obras, em grau bem abaixo do aferido com o rival de concreto. “Temos que ser pacientes para quebrar os paradigmas do mercado e fortalecer a conscientização de prefeituras, projetistas de obras e construtoras”, reitera Costa. “Os tubos corrugados de PEAD vieram para ficar”. •