Até o final do ano, vaticina a Agência Internacional de Energia, os EUA destronam a Arábia Saudita da liderança da produção mundial de petróleo e intermediários como etano e propeno, efeito da corrida pela extração de gás natural das reservas de xisto. “Se a divisão do preço do petróleo pelo do gás natural superar 7, os crackers de etano serão mais competitivos que os da rota nafta”, sustenta em estudo saído do forno Robert Bauman, presidente da Polymer Consulting International (PCI). A título de referência, ele situa o preço do barril de petróleo em US$ 102,7 em agosto último perante a cotação de apenas US$ 3,91/MMBTU atribuída ao gás no período. A diferença engatilha um tremor de terra sobre os pilares da petroquímica. “Hoje em dia, 87% dos crackers nos EUA são base etano e 13% base nafta”, separa o analista. “Em dois anos, a relação muda para 92% base etano e 8% base nafta e, em 2016, todos os crackers do Canadá seguirão a rota do etano”. A indústria global de poliolefinas já trepida com a catadupa de investimentos norte-americanos na cola do gás natural, tal como ocorre no Oriente Médio e, com um pé na rota nafta e outro na carboquímica, na China.
No horizonte do curto prazo, conjetura Bauman, poderão pintar paradas não planejadas em crackers norte-americanos de eteno. Além do mais, segue, a manutenção programada de crackers deve reduzir em torno de 5% a oferta local de eteno. “À medida que a economia dos EUA melhore e a demanda doméstica se recupere, as exportações de PE diminuirão e seus preços subirão”, ele expõe no estudo. “Afinal, o foco dos produtores norte-americanos é o mercado interno, bem mais rentável”. Para compensar as vendas em declínio para os EUA, antevê Bauman, os produtores asiáticos de PE tratarão de ampliar seus embarques para a América Latina. À guisa de ilustração, as exportações chinesas de PE hoje rondam 500.000 toneladas, arredonda o consultor.
Diante da planilha de projetos em curso no período 2013-2020, Bauman constata, entre 14 novos crackers e seis expansões, um possível acréscimo da ordem de 23.620 milhões de toneladas de eteno no bloco Nafta, a maior parte oriunda de etano apartado do gás de xisto. Por sua vez, continua o expert, a capacidade de PE na região será acrescida de 9.260 milhões de toneladas ou cerca de 15% acima do potencial atual , com a maioria das partidas alojada entre 2018 e 2020. Entre planos confirmados no mapa do Nafta, Bauman alinha expansão da ordem de 3.250 milhões de toneladas no âmbito da resina linear (PEBDL); 2.020 milhões relativos a polietileno de alta densidade (PEAD) de alto peso melocular; 1.450 milhão para PEAD e 1.990 milhão de toneladas relativos ao tipo de baixa densidade (PEBD). “Podem ocorrer atrasos, mas a maioria dos projetos cumprirá o cronograma”, ele confia.
Como se não bastasse essa golfada de investimentos, Bauman desvia seu radar para o Oriente Médio. Antes mesmo da estreia dos crackers americanos na rota do xisto, ele indica, centrais de eteno movidas a gás natural ainda mais acessível partirão na Arábia Saudita, Catar, Omã, Kwait e Abu Dhabi. No arremate, a investida no craqueamento de nafta diminuirá suas exportações de poliolefinas e novos crackers de eteno, fábricas e desgargalamentos no âmbito de poliolefinas entrarão em campo em países como Índia, Indonésia, Malásia, Rússia, Coreia do Sul e Cazaquistão.
No horizonte do longo prazo, Bob Bauman prevê exportações a cargo de cerca de 40% da produção total de PE nos EUA. Por tabela, ele canta a pedra de um quebra pau mais adiante entre petroquímicas norte-americanas pelos mercados interno, latino-americano e asiático de PE. “Fábricas mais antigas e menos econômicas podem fechar ou mudar o foco para produtos de maior valor agregado”, adverte o expert. No geral, Bauman sente os produtores de eteno/PE subestimando o impacto gerado por suas novas capacidades, um prenúncio de guerra de preços, em especial se todos os benefícios de custos por eles desfrutados forem repassados aos andares de abaixo da cadeia produtiva (downstream).
A petroquímica da América Latina será puxada na marra para esse pega na geral, deixa claro o presidente da PCI. “O preço das poliolefinas importadas pela região forçará a saída de fornecedores mais caros do mercado”. Ato contínuo, ele se debruça sobre o Brasil. “Com preços elevados de resinas, grande mercado interno (coberto em 30-35% por importações), e custos altos, pois atrelados a três crackers base nafta, o país continuará a ser um dos principais alvos e poderá perder espaço nas exportações de PE”.
Reação de Propeno e PP
Também sobra bordoada para os lados do propeno, o embrião de polipropileno (PP). Entre 2009 e 2011, demarca Bauman, perto de 12% da demande de PP nos EUA foi perdida, em particular para PEAD na injeção e, na esfera da termoformagem, para PET, PS e PEAD; sem falar nas mordidas do papel nos copos descartáveis. Na trilha do propeno hoje mais caro, enquadra o consultor, o mercado norte-americano espera por aumento nos preços do polímero. Reflexo condicionado, as exportações norte-americanas caíram 45% desde 2010, ele situa.
Bauman levanta o pano de fundo da conjuntura. Antes de 2009, por volta de 50% da produção de propeno nos EUA provinha de refinarias, explica o estudo da PCI. O mesmo percentual se mantém desde 2008. Em paralelo, retoma o fio Bauman, o propeno tem sido empregado de forma bem mais rentável como componente da gasolina. O consultor decepa no ato a hipótese de as refinarias mudarem o blend de produtos para gerar mais propano.
Propano está presente em torno de 3,5% do gás extraído do xisto, assinala a pesquisa da PCI. Por sua vez, o baixo custo de propano tem despertado investimentos na sua conversão para propeno. Bauman aponta três rotas: metano para propano (MTP), eteno e corrente 4 de propeno (metátese) e, tecnologia mais adotada, a via da desidrogenação de propano (PDH), cujas unidades podem, aliás, serem erguidas com mais rapidez que centrais de eteno. Nos EUA, 10 projetos confirmados e em curso somam acréscimo da ordem de 6.800 milhões à capacidade local de propeno e, desse total, uma fatia de 1.500 milhão está reservada à formulação de PP e o restante servirá à produção de materiais como óxido de propeno, ilustra Bauman. Até 2016, antevê a PCI, cerca de 10% da capacidade norte-americana de PP não devem operar por força da escassez local de propeno – lacuna equiparável à retirada de cena de aproximadamente 2.5 milhões de t/a do polímero. “Quando partirem as unidades PDH, entre 2015 e 2016, a produção de PP deve subir logo, em virtude da retomada de fábricas desligadas ou ociosas”, justifica Bauman. “Assim, cairão os preços norte-americanos de PP, as exportações locais aumentarão e, nas pegadas do previsto excedente de propeno, poderão ser anunciados acréscimos na capacidade do polímero nos EUA”.
Fortificante para PVC
PVC é o clássico termoplástico eletrointensivo e dependente de eteno. Não é preciso dizer mais para se vislumbrar as vantagens, para os produtores do vinil nos EUA, a tiracolo do baixo custo de energia usufruído pela cadeia soda/cloro e do segundo eteno mais barato do mundo, cortesia do gás de xisto, para a produção de dicloroetano (EDC), intermediário para o monômero vinílico (MVC).
Por essas e outras como a melhora da economia norte-americana, Bauman julga que as exportações locais de PVC prosseguirão detendo cerca de 25% da produção, devido à redução dos custos de processo conjugada com alta demanda interna e global. “Mas a concorrência chinesa manterá baixos os preços internacionais da resina”, ele pondera. Em paralelo, grassam expansões na esfera de EDC, a exemplo das encabeçadas por Westlake, Occidental e Mexichem, exemplifica Baumann. No quarto ao lado, preços e margens têm melhora prevista à sombra de maiores índices de ocupação de capacidade de PVC, mas há quem esteja craneando ampliações programadas para 2018-2010. Bauman exemplifica com Shin-Etsu e a joint venture Axial/Lotte, visando respectivamente 1 milhão de t/a e com a Formosa Plastics, via desgargalamento de seu primeiro cracker de eteno e montagem de outra central zero bala.
No fecho de seu estudo, Bauman estampa a foto de um vagalhão com esta chamada: “O Tsunami Está Chegando”. Até que pegou leve. •