A noção de modernidade incorpora a chegada de avanços tecnológicos mas, entre suas decorrências, constam alguns problemas sociais. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Karl Marx, “tudo o que é sólido desmancha no ar”. Talvez essa seja a melhor expressão para definir ideologias, formas de governar e modos de produção, pois atravessam um ciclo de vida e morte quase natural.
O que tem me aturdido, no entanto, não é o nascimento nem a ruína de, no caso, alguns modos de gerir uma empresa ou controlar uma equipe produtiva. Em meu trabalho, tenho sido surpreendido pela constância desses ciclos de vida e morte. Afinal, diante de tal turbilhão de mudanças fica difícil para nós, como sociedade, entender a função do trabalho.
O trabalho é uma atividade cooperativa e, seja proveniente de cada indivíduo ou grupo, é a força motriz da produção. Torna-se social no sentido de que contribui para as necessidades de toda a sociedade. Com a falta de interesse da mão de obra jovem por cargos da linha de produção, questiono-me seriamente sobre como anda a satisfação dessas necessidades.
Trabalho num dos polos industriais mais pujantes do estado de São Paulo e, desde 2009, sofro com a falta de costureiras e com a rotatividade de auxiliares de produção e operadores de máquinas. Com a ausência de interesse por funções de operadores, cuja fonte está muitas vezes na condução da educação familiar ou na deficiência de formação escolar básica, vemos a Idaplast, nossa empresa, corroer sua competitividade e nível de produtividade. Esse fato alimenta uma cadeia na qual, sem rentabilidade adequada, torna-se complicado satisfazer e aumentar a estima do quadro de pessoal. Além da remuneração, acredito que a queda do interesse dos jovens por funções voltadas à produção esteja ligada à ausência de expectativa, de uma ascensão no futuro, sem falar na própria falta de habilidade manual e de disposição para aprender a profissão.
Quando precisamos contratar alguém para essas atividades, na maior parte dos casos ocorre de duas uma: ou a pessoa nunca trabalhou ou não tem qualificação. Pela experiência da Idaplast, de nada parecem adiantar treinamentos ou cursos para habilitar profissionais se não há interesse em frequentá-los. Em âmbito maior, poucos jovens entram em universidades no Brasil, os cursos tecnológicos são pouco atraentes e a produção acadêmica está distante das empresas, longe de formar bons profissionais jovens para a área produtiva.
Conforme indicam os currículos deixados em nossa indústria, é incrível a quantidade de jovens em busca de emprego com passagens por diversas outras empresas e funções. Isso até seria um fato feliz se, na maioria dos casos, essas experiências não fossem apenas de poucos meses. O que mostra a constante insatisfação dos jovens nos empregos, ou ainda, demonstra o tempo mínimo suficiente para, no exercício dos cargos, se fazer jus a benefícios sociais como o seguro desemprego.
A maioria dos jovens está insatisfeita e despreparada porque não sabe lidar com frustrações e despreza o esforço. Como causa e consequência disso, podemos citar o aumento da presença da tecnologia nos mais diversos setores. A tecnologia, por sinal, remunera socialmente melhor e desperta ainda mais, na nova geração, o desejo por funções que exijam menos de suas habilidades manuais.
Creio que esses jovens sofram muito. Afinal, foram ensinados a acreditar que nasceram com a certeza da felicidade fácil. Digo isso por deparar com colaboradores jovens que esperam ter, no mercado de trabalho, uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou mãe que tudo concede ou faz por eles. E quando isso não acontece – porque não acontece mesmo – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça”.
Para concluir, considero que um dos maiores gargalos nas discussões sobre o futuro da produção – decidir “o que” vai ser feito – é tão importante quanto saber “quem” vai fazê-lo. O gestor de RH, gerentes e diretores devem estar atentos, olhar e realmente enxergar o ambiente no qual as empresas hoje se encontram. E estar atento é ser proativo. Medir o desempenho da equipe, dar feedbacks motivadores, válidos e consistentes, orientar e acompanhar.
No processo de amadurecimento dos funcionários, os cargos de liderança têm o admirável papel de incentivar e defender a importância do aprendizado e mostrar que ele deve ser encarado como parte natural do processo de crescimento profissional de cada um. Às vezes, precisamos mostrar ao colaborador jovem da “geração perdida” ou da “geração do eu mereço” que, mesmo que a permanência em seu atual cargo não seja seu objetivo profissional, se estiver trabalhando, com a própria atividade ele poderá desenvolver habilidades ou buscar cursos relacionados a cargos que deseja alcançar.
Por isso, é crucial reorientar a educação dos jovens e as normas da CLT, pois elas pouco colaboram para o crescimento da indústria nacional. Quem sabe, assim nascerá uma movimentação nova e estimulante para um salto qualitativo de verdade na esfera produtiva do país.
Aqui na Indaplast, temos motivos para nos orgulhar do trabalho feito – e não podemos parar. •
Idalécio de Brito é diretor da Idaplast
idalecio@idaplast.com.br
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