A indústria automobilística é, no mundo inteiro, uma razão de ser para os plásticos de engenharia. No Brasil, dada a magreza de outros mercados servidos por eles, a dependência da cadeia automotiva demonstrada pelos polímeros nobres equivale, à primeira vista, a um time carregado nas costas por apenas um craque.
Na prática, porém, embora o consumo não justifique atividades de polimerização no país (as exceções são as duas unidades de PA 6.6: a de 14.000 t/a da Solvay e a de 24.000 t/a da Basf), o fato é que os fornecedores dessas resinas avançadas tocam o barco na garupa das demandas das montadoras, peças de reposição e componentes e engrenagens para redutos diversos, como eletroeletrônicos, telecom, informática ou dispositivos elétricos.
Visto assim do alto, o cenário preocupa se for considerada, em separado, uma indústria automobilística há muito tempo sem rodar com ocupação decente sua capacidade nominal – hoje de 4,5 milhões de veículos anuais. A produção de 2,7 milhões de unidades em 2022 é justificada por meio mundo pela Selic na lua, travando vendas a crédito, e a renitente escassez de microchips. Mas Deus ou o diabo mora nos detalhes.
A soma do movimento emperrado de carros 0 km com a procura em alta de peças de reposição e componentes injetados para outros setores menos avantajados que o automotivo, tipo linhas branca, marrom e cinza, têm permitido à cadeia de plásticos de engenharia tocar o barco adiante no mar por ora revolto para bens duráveis. A título de referência, automóveis com mais de 12 anos foram os campeões de vendas no Brasil em 2022, adquiridos por 3,5 milhões de pessoas, e a idade média da frota nacional foi orçada pelo Sindipeças em 10 anos e cinco meses em 2021.
Falam por si também as recentes importações brasileiras dos principais polímeros nobres. alvo de meticulosa varredura da equipe de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Na categoria de PA 6 com acréscimo de PA 6.6, foram importadas 57.300 toneladas em 2022 versus 60.348 em 2021 e 45.796 no pandêmico 2020. Copolímeros de ABS: foram desembarcadas 69.148 toneladas no ano passado, abaixo das 86.132 anteriores e de leve acima das 67.044 internadas em 2020. No compartimento de PC, entraram 46.375 toneladas em 2022 perante 50.245 em 2021.