Verso-chave de Blowin‘ in the Wind, clássico do folk composto por Bob Dylan, “a resposta está soprando no vento” também serve de epígrafe para as incógnitas que latejam na cadeia do plástico diante da montanha russa das pressões exercidas pelas mudanças climáticas e cibernéticas e pela ruptura de costumes encampada pelas novas gerações. Foi este o caldo grosso de inquietações servido a 100ºC no 8º Seminário Competitividade, bem a calhar intitulado “Para onde o vento sopra”, realizado por Plásticos em Revista e a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) em setembro último em São Paulo.
No plano geral, o temário foi cindido em quatro blocos. O primeiro versou sobre os compromissos nacionais e internacionais firmados por representações brasileiras do plástico em duas frentes. Uma delas é o apoio ao esforço mundial de aliviar a proteção ambiental ao desenvolvimento econômico. A outra é a busca, no Brasil, de maior entrosamento entre empresas de matérias-primas, recicladoras e indústrias de produtos finais de rápido consumo no sentido de reabilitar a imagem do plástico como aliado da natureza alargando o espaço para aplicações do plástico reciclado e persistindo no esforço em curso há mais de 20 anos de conscientizar a sociedade, de forma didática, a respeito das afinidades do plástico com a economia circular e da contribuição para ela advinda da prática do descarte correto de embalagens pós-consumo. O recado foi transmitido nas exposições de Fabiana Quiroga, diretora de Reciclagem e plataforma WeCycle da Braskem; Bárbara Dunin, assessora da Rede Brasil do Pacto Global e Daniela Lerario, diretora executiva da TriCiclos Brasil.
O segundo bloco de palestras focou os ajustes necessários na frota do plástico para acertar o passo com o perfil da nova geração de consumidores hiper conectados. Pelo flanco das resinas, Yuri Tomina, gerente de desenvolvimento de mercado de polietileno da Braskem, colocou à disposição dos transformadores o aparato de recursos e inteligência de mercado da companhia para desenvolvimentos em conjunto de inovações em embalagens. Do outro lado do balcão, Giovanna Fischer, diretora da consultoria Kantar Worldpanel Brasil, expôs o impacto dos últimos anos de crise na demanda de produtos de rápido consumo e as decorrentes mudanças na cesta, tickets de compras e escolha de marcas pela população.
Por seu turno, Vanessa Mathias, sócia da consultoria White Rabbit, comentou a controversa visão do plástico aos olhos dos consumidores Millenials; os valores que defendem, caso da economia compartilhada e combate à poluição ambiental e os atributos que norteiam a preferência deles na compra e a adesão desse público ao e-commerce. Na mesma trilha, o consultor e designer Celso Negrão Gonçalves debruçou-se sobre os movimentos iniciais do varejo digital no Brasil, visíveis em supermercados e em redutos como cosméticos, apontou a evolução em quinta marcha da digitalização no comércio internacional, encabeçada pela Amazon, e alertou para a inescapável influência dessa tendência na concepção de embalagens. Na esfera do Brasil, Negrão se deteve na escalada do atacarejo na preferência de uma população de poder aquisitivo enfraquecido e alertou que o crescimento deste canal do comércio físico tende a requerer das embalagens plásticas peculiaridades de exposição e manuseio inexistentes no ambiente dos supermercados.
O conceito da Indústria 4.0 foi o prato de resistência das palestras de Ricardo Prado Santos, vice-presidente da Piovan, e Fabio Cazelli Buckeridge, diretor digital da Braskem. Ambas as exposições desmistificaram a crença de que o ingresso de uma indústria transformadora na era da fábrica inteligente se resolve com o desembolso de capital em TI e robótica. Tão ou mais relevante, eles deixaram claro, é o suado esforço para amoldar ao estágio 4.0 a cultura de uma empresa de histórico preso ao nível 1.0, da automação básica do parque fabril. No desfecho, os palestrantes voltaram-se para o custo/benefício da produção inteligente, destacando conveniências como as ferramentas para a gestão mais meticulosa, o aprimoramento da mão de obra qualificada, o encurtamento do processo de desenvolvimentos e a extrema redução de tempos de ciclo e de gastos energético e logístico.
A última seção do evento correu por conta das oportunidades e desafios para a transformação desembainhados pela impressão 3D. Klaus Gargitter, CEO da Monster, fabricante nacional de filamentos para impressão, e Fabio Lamon, líder de manufatura digital da Braskem, expuseram os pré-requisitos para esse investimento, as possibilidades descortinadas na adequação de polímeros ao processamento 3D, a ausência de colisão com processos tradicionais como a injeção de resinas e o potencial para a impressão final além de ferramenta de prototipagem mais rápida, a exemplo de arcadas dentárias impressas pela Monster em prazos e precisão inatingíveis pelo trabalho manual de protéticos com gesso. •