Comércio exterior: cenário instável não trava arrancada do Think Plastic Brazil

Exportações de transformados apoiadas pelo projeto setorial podem chegar a US$ 548 milhões este ano
Comércio exterior: cenário instável não trava arrancada do Think Plastic Brazil
Apesar das incertezas que grassam no comércio internacional e, no front doméstico, das oscilações do câmbio e dos crônicos desafios para o setor alcançar a competitividade necessária, o projeto setorial Think Plastic Brazil se impõe com uma arrancada contundente nos resultados do seu apoio às exportações de nossos transformados plásticos. Desde o início, em 2003, ele age com persistência para abrir os olhos da indústria de artefatos plásticos para as oportunidades embutidas na internacionalização das vendas. Para este despertar, o Think Plastic Brazil cultiva um efetivo crescente de indústrias associadas atuando na promoção comercial e imagem do setor, serviços personalizados, desenvolvimento e inteligência de mercado e projetos de inovação, design e ESG. Nesta entrevista, o balanço azul de 2024, as expectativas idem para este ano e as novidades na estratégia para ampliar e diversificar o mapa das exportações são desvendados por Carlos Moreira, diretor executivo do Instituto Nacional do Plástico (INP) e de projetos do Think Plastic Brazil.
Carlos Moreira: competição internacional exige preço, diferenciação e inteligência de mercado.
Carlos Moreira: competição internacional exige preço, diferenciação e inteligência de mercado.

Como avalia o impacto da volatilidade cambial e da retração econômica internacional sobre as metas delimitadas para exportações respaldados pelo Think Plastic Brazil este ano?

A volatilidade cambial e desaceleração econômica global trazem desafios significativos para o cumprimento das metas do Think Plastic Brazil em 2024/2025. Os principais propósitos pactuados para este biênio incluem apoiar as empresas do setor de transformados plásticos a alcançarem US$ 545 milhões em exportações em 2025, atingir 187 empresas exportadoras ativas e assistir um total de 249 empresas (inclusas 36 novas participantes, das quais 21 seriam exportadoras estreantes). Essas metas refletem um aumento ambicioso em relação a 2024, quando havíamos projetado 186 empresas apoiadas, 140 exportadoras e US$ 421,6 milhões em vendas externas – objetivos que, mesmo em um cenário adverso, foram superados no fechamento do ano passado. De fato, encerramos 2024 com 193 empresas apoiadas (+3,8% sobre a meta), 157 exportadoras (+12% sobre o previsto) e US$ 504,6 milhões exportados (quase 20% acima do alvo definido). O único indicador aquém do esperado foi o de novas exportadoras: apenas duas empresas iniciantes passaram a exportar em 2024, frente a uma meta de nove – resultado atribuído em parte às condições internacionais desfavoráveis, dificultando ainda mais para novas empresas ingressarem então no comércio exterior.

Como este quadro de 2024 influi nos rumos deste ano?

Em 2025, com a conjuntura global ainda incerta, a oscilação do real frente ao dólar tem duplo impacto: por um lado, a depreciação cambial pode favorecer a competitividade do produto brasileiro lá fora, elevando nossas receitas em reais; por outro, a instabilidade na conversão das moedas atrapalha o planejamento de preços e margens, exigindo das empresas grande cautela nos contratos internacionais. Em paralelo, a retração econômica em mercados-chave (Europa, em especial) vem moderando a demanda externa, o que pode frear o ritmo de crescimento das exportações. Ainda assim, os resultados do primeiro semestre de 2025 indicam resiliência: de janeiro a abril já atendemos 205 empresas (aproximadamente 94,5% da meta anual), contamos com 144 exportadoras ativas (faltando 19 para o objetivo de 163 estabelecido no início do ano) e registramos US$ 384,9 milhões exportados – cerca de 70% do previsto para o ano todo. Esse avanço substancial em apenas quatro meses sugere que, apesar das adversidades, estamos no caminho certo para cumprir – e possivelmente ultrapassar – as metas. Nossas projeções atuais, considerando um encerramento antecipado do convênio em outubro de 2025, apontam que podemos chegar a aproximadamente 252 empresas apoiadas, 177 exportadoras e US$ 548 milhões em exportações até dezembro, superando ligeiramente os objetivos pactuados.

“A IA oferece benefícios em toda a cadeia de valor, incluindo áreas muitas vezes negligenciadas”

Quais os ajustes na gestão do Think Plastic Brazil requeridos pela incerteza econômica atual?

Reforçamos a inteligência de mercado e o diálogo com parceiros estratégicos – agência ApexBrasil, setores de promoção comercial de embaixadas e entidades setoriais – para antecipar riscos e oportunidades em cada país de destino. Tomamos medidas como a repactuação formal das metas e recursos do convênio em 2025 para adequar o projeto Think Plastic Brazil à realidade do mercado: negociamos um termo aditivo que garantiu aporte financeiro extra e elevou o número-alvo de empresas apoiadas (de 217 para 249) e de exportadoras (de 163 para 187), mantendo a meta de exportações em US$ 545 milhões. Essa flexibilização nos permite proteger as ações estratégicas no segundo semestre, mesmo com a ApexBrasil tendo recursos iniciais se esgotando antes do previsto. Em suma, embora a instabilidade cambial e a retração internacional exijam prudência – podendo afetar pontualmente o volume de negócios fechados ou retardar a entrada de novas empresas no mercado externo –, o Think Plastic Brazil vem mitigando esses impactos por meio de planejamento robusto e ajustes dinâmicos. Os resultados até agora evidenciam que, com acompanhamento contínuo do cenário macroeconômico e ajustes estratégicos tempestivos, conseguimos incrementar o portfólio de exportações, sustentando as metas acordadas e entregando valor às empresas participantes, mesmo num panorama global desafiador.
Porto de Chancay: entrada facilitada de produtos chineses no maior mercado internacional para transformados brasileiros.

Porto de Chancay: entrada facilitada de produtos chineses no maior mercado internacional para transformados brasileiros.

A China é sócia majoritária do megaporto ultra automatizado de Chancay, em operação regular na costa do Peru a partir de junho. Com vantagens logísticas, ele vai escoar manufaturados chineses como artefatos plásticos na América Latina. A China tem excedente de resina virgem acessível e domina as exportações mundiais de produtos acabados. Como o Think Plastic enxerga o aumento da concorrência chinesa na região que mais importa transformados plásticos do Brasil?

Hoje em dia, os países latino-americanos representam o principal destino dos nossos transformados plásticos – uma parcela por volta de 82% das exportações das empresas apoiadas pelo portfólio tem a região como mercado final. Isso significa que qualquer avanço local da presença chinesa afeta a competitividade das indústrias brasileiras. No Peru, a inauguração do porto de Chancay ilustra essa tendência de intensificação: trata-se de um complexo portuário de última geração que permitirá à China distribuir seus manufaturados com mais agilidade e menor custo em todo o Pacífico sul-americano. Com a China detendo excedente de resina a preços competitivos e sendo líder global na exportação de bens industrializados, a combinação de escala produtiva, custo baixo e agora vantagem logística cria um desafio inédito para os exportadores brasileiros na região. Em outras palavras, nossos fabricantes enfrentarão concorrentes chineses cada vez mais presentes, ofertando produtos a preços agressivos e com prazos de entrega reduzidos.

Diante desse cenário, o Think Plastic Brazil avalia que competir apenas em preço não é uma estratégia viável – é preciso apostar em diferenciação e inteligência de mercado. A concorrência chinesa, embora formidável, reforça a importância de evoluirmos do paradigma de competição por custo para uma competição por valor agregado. Nossa resposta concreta passa por potencializar os atributos únicos dos produtos brasileiros e intensificar ações promocionais e de posicionamento na América Latina. Em termos práticos, isso se traduz em várias frentes de atuação.

Primeiro, estamos focados em incentivar as empresas a desenvolver produtos com design diferenciado, alto desempenho técnico e aderentes às preferências regionais, de forma que se destaquem frente aos importados genéricos. Iniciativas como o núcleo Global Green Design (conecta nossas empresas a centros internacionais de excelência em design), a promoção do selo Color Trend® e as histórias particulares do Brasil representadas pelas cores nas embalagens visam exatamente agregar valor estético e de marca aos produtos, aumentando sua atratividade.

O mercado global – inclusive o latino-americano – está cada vez mais atento a critérios ESG. O Brasil possui cases de economia circular e uso de materiais reciclados que podemos alavancar. Ao comunicar melhor esses diferenciais ‘verdes’ dos nossos transformados plásticos, buscamos ocupar um espaço onde a China ainda não domina completamente, criando uma percepção de valor maior para o produto brasileiro.

O Think Plastic Brazil intensificou sua inteligência comercial para monitorar de perto os movimentos dos concorrentes estrangeiros (inclusive chineses) na região. Analisamos dados de importação em mercados-chave, preços praticados e evoluções nas preferências de compradores, gerando relatórios e alertas para as empresas associadas ajustarem suas estratégias em tempo real. Este ano, por exemplo, conduzimos um ranqueamento detalhado de mercados-alvo nas seis vertentes verticais do nosso portfólio, para identificar oportunidades e nichos menos expostos à concorrência asiática. Essa informação será compartilhada com as indústrias participantes que se engajarem no planejamento do próximo ciclo.

Outro pilar da reação do Think Plastic Brazil é reforçar a presença comercial brasileira nos países vizinhos. Continuaremos organizando missões comerciais e participações em feiras estratégicas na América do Sul e Central, garantindo que o comprador latino-americano veja e experimente o nosso produto brasileiro, fortalecendo laços de confiança e parceria que muitas vezes superam a mera competição por preço. Por sinal, o Brasil, já estabeleceu parcerias institucionais robustas na região (via ApexBrasil, setores comerciais das embaixadas e até adidos agrícolas) e essas conexões serão cada vez mais acionadas para abrir portas a nossas empresas em novos canais de distribuição e projetos governamentais locais.

Em resumo, a concorrência chinesa na América Latina impõe uma evolução na nossa estratégia de internacionalização. O Think Plastic Brazil reage combinando estratégia ofensiva e defensiva. No primeiro caso, investindo em inovação, branding e expansão para novos mercados (explorando também oportunidades fora das Américas para diluir riscos, como África e Oriente Médio). Quanto à ação defensiva, tratamos de proteger nosso terreno principal com inteligência de mercado e apoio institucional.

Inteligência artificial: operação do Think Plastic Brazil deve incorporar ferramentas a curto prazo.
Inteligência artificial: operação do Think Plastic Brazil deve incorporar ferramentas a curto prazo.

Como o Think Plastic Brazil analisa as possibilidades de investir em inteligência artificial (IA) para aprimorar seu conteúdo e atividades, reduzindo tempo, mão de obra e custos?

IA é uma aliada promissora para elevar a eficiência e a qualidade de suas atividades-fim e meio. Em nossas análises internas, identificamos diversas frentes em que as plataformas de IA podem trazer ganhos de produtividade, economia de recursos e aprimoramento do conteúdo que entregamos às empresas. Por exemplo, no campo de inteligência de mercado, já trabalhamos com um volume massivo de dados (estatísticas de comércio exterior, estudos setoriais globais, tendências de consumo) que demanda muitas horas de processamento humano.

Com ferramentas de IA, seria possível automatizar a coleta e análise inicial desses indicadores, permitindo detectar padrões de comércio, oportunidades emergentes e riscos (como variações súbitas de demanda ou preços) de forma quase imediata. Uma plataforma de IA bem treinada poderia vasculhar bases de dados internacionais e gerar, em minutos, um relatório preliminar de tendências para um determinado segmento plástico – algo que manualmente poderia levar dias.

Isso acelera a obtenção de resposta e libera nossa equipe para se concentrar na interpretação estratégica das informações e no desenho de ações concretas, em vez de gastar a maior parte do tempo em tarefas repetitivas de garimpo de dados.

Outra aplicação clara para IA: a produção de conteúdo e comunicação. O Think Plastic Brazil gera regularmente materiais ricos em informação: relatórios técnicos, newsletters e press releases, além de conteúdos trilíngues (português, inglês, espanhol) como o International Yearbook. A adoção de ferramentas de IA generativa pode agilizar etapas dessa produção. Por exemplo, podemos usar IA para redigir esboços iniciais de textos a partir de pontos de dados fornecidos – um relatório de fechamento de feira ou um resumo de indicadores de desempenho pode ser gerado automaticamente a partir dos números, seguindo uma linguagem pré-definida. Essa automação não elimina a curadoria humana (continuaremos revisando, ajustando o tom institucional e garantindo a precisão), mas acelera o fluxo de trabalho e reduz a carga operacional sobre a equipe. Da mesma forma, recursos de tradução automática neural avançada podem auxiliar na criação das versões em inglês e espanhol dos nossos materiais, preservando terminologias do setor, o que hoje consome horas de tradutores e revisores. Com a IA, espera-se cortar custos de terceirização linguística e diminuir o tempo de lançamento de conteúdos multilíngues, sem comprometer a qualidade – pois a revisão final permanecerá feita por especialistas do portfólio.

Além disso, vislumbramos a utilização de chatbots ou assistentes virtuais inteligentes em nossas plataformas de atendimento às empresas. Imagine integrar uma IA treinada com o conhecimento acumulado do Think Plastic Brazil para responder instantaneamente às dúvidas mais frequentes das empresas associadas. Essa funcionalidade 24/7 pode reduzir a necessidade de mobilizar pessoal para questões corriqueiras e agilizar o suporte ao exportador, especialmente fora do horário comercial ou em fusos diferentes – algo valioso dado o alcance internacional do nosso portfólio. Por exemplo, uma empresa poderia perguntar em nosso portal: “Como participar da próxima missão comercial para a África?” e o assistente de IA, munido dos dados dos editais e critérios, forneceria a resposta detalhada de imediato, inclusive indicando links de inscrição. Isso não só economiza tempo da equipe como melhora a experiência do usuário.

“A concorrência chinesa na América Latina impõe uma evolução na nossa estratégia de internacionalização” lto desempenho e aderentes às preferências regionais”

O que pode adiantar quanto a decisões tomadas de implantação de IA na estrutura do Think Plastic Brazil?

Em relação a planos concretos de investimento em IA, o Think Plastic Brazil está em fase de avaliação e planejamento. Estamos mapeando as soluções disponíveis no mercado e alguns projetos-piloto internos podem começar a ser implementados já no final deste ano. A perspectiva é que, a partir de 2026, com o início do nosso 15º ciclo estratégico (2026-2027), as iniciativas de transformação digital ganhem mais corpo. Isso significa que, ao longo do próximo ciclo, poderemos ver ferramentas de IA integradas aos processos do portfólio. O ‘quando e como’ dependerá, claro, dos testes de viabilidade e do aval dos nossos parceiros em alocar recursos para essas inovações. Mas a intenção institucional está clara – investir em tecnologia de IA de forma incremental, iniciando pelos ganhos rápidos nas tarefas operacionais e evoluindo aos poucos para usos mais sofisticados, conforme ganharmos confiança e capacitação nessa área.

“Expandir nossa atuação para o Oriente Médio sinaliza diversificação de mercados para os transformados brasileiros”

Quais as novidades nos serviços e projetos do Think Plastic programados para entrar em vigor no segundo semestre deste ano?

A metade final de 2025 terá uma série de novidades. Por exemplo, graças a um planejamento proativo e a parcerias institucionais, conseguimos viabilizar – via termo aditivo com a ApexBrasil e apoio do Ministério das Relações Exteriores – sete projetos não originalmente previstos no início do biênio. Eles entrarão em vigor entre julho e novembro. Um dos destaques é a estreia da parceria com o Programa + Feiras da ApexBrasil, pela qual o Think Plastic Brazil apoiará as associadas na ASD Market Week, em Las Vegas, uma das maiores feiras de bens de consumo dos EUA. Outra novidade relevante é a inclusão de ações voltadas ao Oriente Médio: o portfólio confirma a participação brasileira na feira The Big 5, em Dubai (Emirados Árabes Unidos), voltada ao setor da construção civil e materiais de construção. Essa presença será viabilizada em coordenação com a embaixada do Brasil no país. Ela está articulando um estande institucional, enquanto as empresas dividirão os custos de montagem. Expandir para o Oriente Médio logo após o nosso grande evento anual (World Plastic Connection Summit, realizado em SP em 8-10/4) sinaliza uma estratégia de diversificação de mercados no segundo semestre, aproveitando janelas de oportunidade em regiões menos tradicionais para o plástico brasileiro. Com isso, ao final de 2025 teremos executado 57 projetos no convênio, dos quais impressionantes 58% foram fruto de ações não planejadas originalmente, mas de decisões empreendedoras adotadas no meio do caminho.

No mais, planejamos para o segundo semestre a realização de um curso especializado de design em plástico em colaboração com o professor Dijon de Moraes e possível interface com o Instituto Politécnico de Milão, aproveitando a estrutura do Cazoolo (hub de design e inovação da Braskem). No front do marketing internacional, uma inovação é a difusão do selo Think Plastic Brazil e do selo Color Trend®: incentivamos as empresas para utilizarem  esses selos em seus materiais promocionais, sites e até nas embalagens de produtos. A ideia é criar identidade e storytelling unificados – por exemplo, as cores do Color Trend® vêm acompanhadas de narrativas de macrotendências globais, e ao destacá-las nas embalagens, o exportador brasileiro conta uma história alinhada com o que há de mais atual em consumo, agregando valor percebido lá fora. Essa sinergia entre branding setorial e produto individual é inovadora na forma como promovemos o Brasil: não mais apenas cada empresa por si, mas todas reforçando uma marca setorial forte e coesa, o que é especialmente crucial para competir com players de fora.

Por fim, do ponto de vista de gestão e expansão do portfólio, o segundo semestre de 2025 traz a conclusão e aplicação de um ranqueamento atualizado de mercados-alvo para orientar as ações de 2026-2027, bem como um esforço intensivo de prospecção de mais empresas para aderir ao Think Plastic Brazil. Ou seja, enquanto entregamos os projetos e serviços inovadores mencionados, já estaremos colhendo dados e firmando parcerias que garantirão a safra de novidades além de 2025.

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