Em tempos de alta no preço da energia e risco de racionamento, investimento em maquinário à altura integra o kit de sobrevivência. Para acertar o passo com a dança, a Campo Limpo aderiu a sopradoras elétricas para produzir sua embalagem Ecoplástica de polietileno de alta densidade (PEAD) para o envase de defensivos agrícolas. “Há dois anos instalamos o primeiro modelo desse equipamento da Multipack Plas e hoje, no total, temos três deles em operação”, situa Emil Stegle, gerente de P&D e manutenção da Campo Limpo. A recicladora e transformadora foi idealizada pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) e é gerida por 30 acionistas. Ela recicla recipientes pós-consumo de agroquímicos e sopra galões com conteúdo recuperado.
Segundo Rodrigo Corrêa Santos, responsável por desenvolvimento e engenharia da Campo Limpo, uma sopradora elétrica economiza entre 45% e 50% de energia em relação a um modelo similar hidráulico convencional. “Ela é extremamente precisa e de operação simples”, compara. Além disso, retoma o fio Stegle, o equipamento elétrico apresenta elevados índices de eficiência e gera peças de qualidade em 94% do tempo que está em operação. A capacidade produtiva varia de acordo com a configuração das máquinas, mas cada linha elétrica instalada para galões de 20l, gera 155 unidades/hora na empresa. No total, o parque contém nove sopradoras e, por ora, a Campo Limpo digere os recentes aportes. “Não temos investimentos adicionais engatilhados, mas decerto as próximas sopradoras serão elétricas”, Stegle antecipa.
Pensando na energia total exigida para a operação fabril, se a opção tivesse sido pela compra de três sopradoras hidráulicas em vez de elétricas, o consumo teria aumentado 9%, constata Santos. Além do mais, a Campo Limpo compra energia no mercado livre e por isso conseguiu, em parte, escapar do tarifaço em prática desde o começo do ano. Porém, como a empresa está atrelada a contratos de transmissão, o aumento chegou a ser sentido. “Em março passado, nossa conta ficou 18,5% mais cara. Se fossemos clientes cativos das concessionárias, a alta teria sido de pelo menos 50%”, Santos acrescenta.
Antes de comprar as sopradoras elétricas, a Campo Limpo já colocava em prática alternativas para a redução de consumo energético e adquiriu máquinas com dois carros da própria Multipack Plas. Pelas contas de Santos, a energia necessária para fazer uma embalagem em linha hidráulica simples é 35% maior do que em uma dupla do mesmo tipo. Outra vantagem é a diminuição da mão de obra necessária. “Um operador de um equipamento que faz 70 unidades/h pode cuidar sem ajuda de outro que produz 155/h”, insere Stegle. Ele não abre quanto foi investido na aquisição das sopradoras elétricas, mas estima o retorno do investimento em cinco anos.
A Campo Limpo recicla 1.000 t/mês de resina pós-consumo proveniente da coleta de embalagens vazias de agroquímicos, ao passo que a capacidade de sopro está situada em 600 t/mês. Em regra, cada Ecoplástica leva 80% de conteúdo reciclado, direcionado à camada intermediária. Material recuperado também entra na camada externa, que corresponde a 5% do volume de resina empregada. A camada interna, responsável pelos 15% restantes, é de PEAD virgem. “Em alguns casos específicos e a pedido do cliente, colocamos polímero de primeiro uso na camada exterior”, ilustra Stegle. As embalagens destinadas ao segmento de óleo de motor, por seu turno, usam apenas material recuperado. Em agosto, aliás, a Campo Limpo lança a embalagem Ecoplástica Triex de 10l, complementando o portfólio atual com versões de 5l e 20l. Mas as inovações não param por aí. A empresa já ergue outro galpão, ao lado das atuais instalações em Taubaté (SP), para produção de tampas. Sem revelar o escopo e a capacidade produtiva, Stegle antecipa que a fabricação englobará dois modelos, de polipropileno (PP) e PEAD, e servirá não só as embalagens da Campo Limpo, mas gerará excedente para o mercado. “Já temos uma injetora em funcionamento e fizemos algumas entregas piloto a clientes parceiros”, ele encaixa. O plano de negócios prevê partida da primeira fase da escala industrial em meados de 2017 e produção total em 2019.•