Em reposicionamento que evoca uma lei de Murphy (toda mudança é para pior), a China começa a sair do torpor com que tem assimilado a onda de barreiras comerciais fincadas contra seus produtos, em geral bafejados por imbatíveis economias de escala e estímulos oficiais à exportação. Jogando o jogo do comércio exterior, o Ministério do Comércio do país formalizou em 21 de junho a renovação quinquenal de sobretaxas antidumping para estireno importado da Coreia do Sul, Taiwan e EUA. O comunicado de Pequim rememora que, em junho de 2018, foram aplicados direitos antidumping de 6.2% a 7.8% para fornecedores sul-coreanos do monômero; de 3.8%a 4.2% para taiwaneses e de 13.7% a 55.7% para exportadores norte-americanos. O mesmo ministério justificou a manutenção da penalidade contra alegada concorrência desleal – agora com vigência estendida até junho de 2029- brandindo os temores manifestados pela petroquímica chinesa de potenciais estragos no mercado interno causados pelo desembarque do estireno das três origens, se libertas da sobretaxa.
A consultoria Chem Analyst situa a disponibilidade de estireno chinês na órbita de 3.7 milhões de t/a em 2023, uma capacidade que contrasta com a demanda de crista caída, resultando em nível de ocupação da ordem de 70-75% dos produtores locais. A mesma consultoria sublinha que a rentabilidade e volumes de venda baixos têm colocado em risco a viabilidade operacional de plantas chinesas na faixa de até 300.000 t/a. Pelo rastreio da consultoria Chem Orbis,a renovação do antidumping chinês alvejou o seguinte time sul coreano: Hanwha Total, Uchikawa NCCl, LG Chemical e SK Chemical, com respectivas sobretaxas de 8%; Lotte Chemical e demais empresas do segmento, com 8,4%. Por seu turno, a Taiwan Chemical Fiber e demais fornecedoras de estireno da mesma origem forma contemplada com antidumping de 5%. Por fim, no cercado dos EUA o monômero da LyondellChemical foi sobretarifado em 9,2%; a Westlake, com 10,7% e Ineos Styrolution e America’s Styrenics com respectivos acréscimos de 9,6% e demais indústrias desse segmento nos EUA tiveram seu estireno sobretaxado em 10,7%.
Na América do Norte, aliás, a Ineos Styrolution já anunciou a decisão de fechar sua fábrica canadense de 450.000 t/a de estireno em julho de 2026. Permanecerá na região apenas com duas plantas do monômero no Texas, de 455.000 e 770.000 t/a. Isso significa corte de 7% na capacidade norte-americana do material. Em 2022,por sinal,a China foi o quinto exportador mundial de estireno embarcando 785.00 toneladas, das quais 312.000 para os EUA, saldo que tornou o país o terceiro maior fornecedor internacional do monômero para o mercado americano, revela monitoramento do site OEC World.
Corte para a Coreia do Sul: acuada pelo fechamento de fábricas e fusões e aquisições para amortecer o baque das margens negativas, a petroquímica sul-coreana está rodando no modo UTI e clama pelo tubo de oxigênio do governo, relata o site Business Korea. Na travessia do discurso à prática, o Ministério do Comércio, Indústria e Energia já montou força-tarefa para socorrer o setor integrado por medalhões estirados na maca tipo LG Chemical, Lotte Chemical e SK Geocentric. A terapia envolve afagos fiscais, financeiros e regulatórios, visando inclusive aplainar a pista para joint ventures, incorporações e desinvestimentos. Uma medida baixada para vigorar a curto prazo; isenção tarifária para a petroquímica importar nafta e sua matéria-prima, o óleo cru.
O ponto nevrálgico da intervenção governamental é tirar os produtores sul-coreanos da sinuca de bico armada pelos rivais da China, assinala a reportagem de Business Korea. Muitas indústrias de maior porte estão vendendo fábricas e amargando perdas operacionais nas suas divisões de químicos e petroquímicos, resultado da mistura azeda da demanda doméstica esquálida e competidores chineses vendendo saúde. Por esse motivo, a LG, por exemplo, fechou duas unidades sul-coreanas de estireno; a Lotte vendeu participações em joint ventures com chineses em produtos commodities, passando a focar especialidades mais valorizadas e menos concorridas e, por fim, a SK Geocentric encerrou as atividades na Coreia do Sul de um cracker de nafta com potencial para gerar 200.000 t/a de eteno.