Inconformada com a cacetada recebida em reportagem publicada contra os canudos plásticos, na qual nenhuma das informações que prestou foi aproveitada, uma representação da indústria conseguiu reunião ao vivo com o editor chefe de uma revista semanal de expressão nacional. Mal a conversa enveredou pela reciclabilidade dos canudos, os porta-vozes dos transformadores ouviram do jornalista que não interessava o que eles tinham a dizer. Ali na revista, ele frisou, quem definia o que era reciclagem e reciclado era a Redação e mais ninguém.
“O mundo está em guerra com os plásticos”. Foi esta a abertura escolhida para matéria recente de um jornalão sobre uma obviedade: o descarte do material aumentou dos anos 80 para cá. Ora, até roqueiros sacam nisso um efeito lógico do aumento da população, da produção de resinas e transformados, das mudanças nos hábitos de consumo e, para não alongar o argumento, da substituição de outros materiais por plástico em artefatos não retornáveis/reutilizáveis, por conveniência de custos e de performance. Seja como for, evidencia aquela frase inicial, o clima é de ira contra o plástico e, por mais que o setor se esfalfe em bem comportadas catequeses da sociedade sobre a reciclabilidade do material e sua contribuição para a qualidade de vida, através de ações como campanhas institucionais e escolares, apresentações para a imprensa ou programas para desenvolver mais oportunidades de uso para o plástico reciclado, o fato é que esta mensagem entra por um ouvido da opinião pública e sai pelo outro, pois a imagem do descarte plástico como vilão ambiental virou dogma na grande imprensa. E se sectarismo e preconceito estão do outro lado da mesa, questionar ou chamar este tipo de interlocutor para o debate é dar murro em ponta de faca.
Nos tempos da imprensa pré-internet, prevalecia a posição da turma do deixa disso. Ou seja, se o plástico levava ferro numa matéria, seu empresariado julgava no geral melhor deixar barato, não apontar o besteirol publicado aos editores, sob temor de revide mais à frente, por outro motivo qualquer, daquela revista ou jornal impresso provado pela reclamação como despreparado. Se o erro cometido fosse demasiado incômodo, os porta-vozes do plástico em regra solicitavam da publicação, cheios de dedos e curvaturas, uma nota de retificação que, se concedida, era espertamente noticiada com concisão ao pé de uma página vários dias depois, quando o assunto já caíra na desmemória dos leitores. Em casos extremos, a parte prejudicada apelava na Justiça pelo direito de resposta. Se deferido, só se saberia cerca de um ano depois, após salgados honorários advocatícios e infinda sucessão de recursos protelatórios, embargos, apelações, pedidos de vista e demais matreirices jurisprudenciais.
Acontece que tudo isso é página virada e o setor plástico tem muito a ganhar se acertar o passo com a nova realidade. Em lugar de suplicar pela correção de uma improcedente informação publicada a um órgão de imprensa adepto do hoje dominante viés ecoxiita em relação ao material, as representações do plástico têm nas mídias sociais um canal barato e rápido para veicular seu repúdio ao que foi noticiado, sem ter de se ajoelhar para expor seu ponto de vista ao veículo causador do dano à imagem do material. Basta expor em vídeo no YouTube, facebook e tantos outros megafones do mundaréu virtual a mensagem direto ao ponto, neste feitio básico: “em sua edição nº tal do dia tal, o jornal, revista ou programa de TV errou ao afirmar isso e aquilo sobre o plástico. As informações corretas são estas que passamos a dar aqui”. Não só a publicação contestada prestará atenção ao conteúdo digital que a desmente, como a réplica da indústria terá mega ibope e ocorrerá com a notícia prejudicial ainda fresca na mente do público. Por fim, para as representações do plástico, seria uma forma de mostrar a seus filiados que não estão alheias aos abusos e farpas. Cala a boca já morreu.•