Cartão vermelho para a mesmice

Mexichem Brasil reage com criatividade à retração na construção civil

As concessões de infraestrutura não engatam e a indústria e comércio fecham a mão para investir. Esta síntese justifica a paralisia generalizada na economia, mas o setor da construção marca por fragilidade singular. Afinal, devido ao capital intensivo e resultados a prazos maiores, ele é sempre um dos primeiros derrubados pela crise e dos últimos a sair dela. No flanco imobiliário, um sintoma da anemia é a queda de 51,4% em lançamentos no primeiro semestre, dimensiona o estudo “Monitor da Construção Civil”, das consultorias Criactive e Tendências. Pelo lado das grandes obras, fala por si o vermelho das contas públicas e a consequente seca de verbas para programas tipo “Minha Casa, Minha Vida” tentarem arrefecer o déficit nacional da ordem de 5,8 milhões de domicílios. No meio dessa barafunda, lateja o maior mercado mundial para PVC: tubos e conexões. Nº1 do setor na América Latina e agressivo vice-líder no país, a Mexichem Brasil trata de revidar à demanda no acostamento disparando ações nas esferas do ponto de venda (PDV), apoio ao crédito e, em especial, em desenvolvimentos sob a marca Amanco transpostos para cá da tecnologia internacional do grupo mexicano,  revelam nesta entrevista Maurício Harger, presidente da Mexichem Brasil e Fabiana Castro, gerente de Produtos e Inovação.

Harger: políticas públicas para construção ganhariam com PPP e privatização.
Harger: políticas públicas para construção ganhariam com PPP e privatização.

PR – Quais as principais mudanças notadas nos hábitos de compra do consumidor formiga de tubos e conexões de PVC em decorrência do poder aquisitivo enfraquecido, crédito restrito e piora do custo de vida?
Harger – O que está acontecendo é que a renda das famílias foi deteriorada pela inflação, juros e desemprego. Isso gera falta de confiança para assumir um compromisso de prazo um pouco maior, como uma obra ou reforma. Em decorrência, o mercado de construção está sentindo neste segundo semestre uma forte retração.

PR – Amanco é marca de alcance nacional, sinônimo de tecnologia e qualidade. Diante de um consumidor formiga tornado pela recessão mais sensível ao fator preço, quais as ações tomadas  pela Mexichem Brasil para não perder vendas para marcas regionais, mais baratas e de pior padrão?
Harger – São perfis totalmente diferentes, pois o consumidor da Amanco entra na loja em busca da segurança e da confiabilidade assegurada por uma marca reconhecida, que não trará problemas em sua obra. Queremos manter a marca Amanco em evidência na mídia e fazemos isso por meio de ações de marketing bem-humoradas, que valorizam o profissional de instalação hidráulica e os benefícios da utilização de produtos inovadores.

PR – Pode dar exemplos?
Harger – Implementamos este ano um novo conceito de embalagens e materiais de PDV com o objetivo de facilitar o entendimento e a busca dos nossos produtos, além de ressaltar seus principais benefícios e atributos. Também desenvolvemos ferramentas de merchandising,  com informações técnicas de fácil compreensão, e disponibilizamos materiais que auxiliam na exposição dos produtos, aumentando o seu destaque dentro da loja, para que o consumidor final possa ser estimulado a tomar a decisão de compra correta.

Aliado a isso, há nove anos a Amanco mantém parceria com o Senai voltada à capacitação profissional de instaladores hidráulicos. Neste período, cerca de 74.000 participantes foram certificados em 234 cidades. Também seguimos com o CredConstrução Amanco, cartão idealizado para aumentar a aquisição de materiais de construção por famílias de baixa renda. Lançado em 2008, ele já ajudou cerca de 3.376 lojistas a vender mais e facilitou a vida de um universo aproximado de 646.829 clientes.

PR – Na Mexichem Brasil, como a recessão inspira e influi no desenvolvimento este ano de melhorias e inovações em tubos/conexões prediais e em tubos/conexões de infraestrutura?
Fabiana Castro – É na crise que muitas oportunidades surgem. A partir do conceito de inovação voltada para facilitar o dia a dia dos consumidores, promovemos este ano lançamentos nos segmentos de infraestrutura e predial. Chegaram ao mercado as caixas d’água de boca aberta e fechada, produzidas por sopro através de tecnologia inédita na América Latina. Entre seus diferenciais estão a tripla camada: a externa tem alta resistência aos raios solares e agentes antioxidantes; a intermediária evita a passagem de luz, minimizando a proliferação de bactérias; já a camada interna é  branca, provendo assim visibilidade para limpeza e conservação da água. Também introduzimos este ano os tubos de grande diâmetro que complementaram a linha Novafort; e o Amanco QuickStream, voltado para captação de águas fluviais. No segmento de infraestrutura, a Amanco conta com a linha Biax. Os tubos em PVC-O (biorientados) são destinados à distribuição das redes públicas. Outro destaque recente é a linha Amanco Flextemp, para instalação de sistemas de distribuição de água quente e fria. Seus tubos são maleáveis e possuem engate rápido, tipo “click”, dispensando ferramentas na instalação.

PR – Com o custo de capital altíssimo, as restrições ao financiamento imobiliário, a parada nas obras de infraestrutura e o corte nos recursos para programas como o Minha Casa, Minha Vida, as previsões sobre a trajetória do setor de tubos e conexões de plásticos estão sendo refeitas para baixo. Qual a  realidade para o mercado predial daqui para a frente?
Harger – Os patamares de mercado já mudaram e todos têm que se ajustar a este novo cenário. No meu entender, o mercado para 2016 será mais previsível e isso permite que as empresas façam seus planejamentos com maior assertividade.

PR – E qual a perspectiva para tubos de infraestrutura?
Harger – O mercado irá buscar cada vez mais produtividade e praticidade. Temos desenvolvido produtos nesta linha, inclusive mais sustentáveis. Temos alguns exemplos a destacar, como a caixa d’água soprada, que gera zero resíduo sólido e não libera monóxido de carbono; os tubos da linha Biax, substitutos do ferro fundido, e as opções Novafort Grandes Diâmetros para drenagem e esgoto. Estes dois últimos produtos ainda têm as vantagens de  agilizar o desenvolvimento da obra e reduzir seu custo.

PR – Até segunda ordem, qual passa a ser a sua estimativa da taxa média de crescimento anual do setor brasileiro de tubos e conexões de plásticos?  
Harger – A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) é a fonte indicada para responder. Ela tem divulgado queda de 7% para 2015.

PR – Quais suas sugestões de mudanças e aprimoramentos e retificações no modelo de políticas públicas para o setor de construção civil de modo a estruturar seu crescimento em bases mais sólidas e estáveis?
Harger – A melhor prática seria a privatização ou as PPP’s (Parcerias Público-Privadas). Ambas geram um modelo de ciclo virtuoso para economia, já que muitas das oportunidades são motivadas pela própria falta de caixa por parte do governo de realizá-las. Um exemplo é a infraestrutura de esgoto.Hoje em dia, ela não caminha por vários motivos. Entre eles, a falta de sanção para a população que não se conecta na rede e gera ociosidade no sistema. A falta da ligação dessas moradias faz com que os investimentos em esgotamento sanitário acabem não tendo a eficácia planejada, pois as estações de tratamento não recebem o volume de esgotos para os quais foram construídas e não há o completo retorno financeiro do investimento feito. O incremento estimado de receitas potenciais que voltariam ao setor de saneamento, permitindo que novas redes fossem construídas e mais pessoas atendidas, está entre R$ 890,7 milhões (cenário conservador) e R$ 1,5 bilhões por ano (cenário se todas as novas ligações pagassem a tarifa do esgoto). Se criarmos um ciclo virtuoso para o fluxo de caixa das obras, seja por meio da aplicação de multas ou por PPPs, poderemos viabilizar muitas obras que trarão desenvolvimento ao país.•

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