Ortodoxos da economia circular olham de lado para caixas cartonadas assépticas, devido à coleta e reciclagem complexas e caras e às aplicações de baixo valor agregado do compósito recuperado. Pois esta página começa a ser virada no Brasil com a promessa da Sig América do Sul, fabricante dessa embalagem multicamada e multimaterial, de partir em 2024 sua planta de reciclagem química no Paraná. O pulo do gato, no caso, é a tecnologia para uso exclusivo da suíça Sig Combibloc Group, patenteada pela belga ECS Consulting.
A composição de praxe em cartonados é papel (75%), alumínio (5%) e polietileno de baixa densidade/PEBD (20%). O reciclado do cartão pode ser obtido da estrutura para tanto em indústrias papeleiras, enquanto PEBD e alumínio até o momento não têm como ser delaminados e reciclados em separados. “Nossa tecnologia é um processo químico que efetua a separação da resina do metal”, completa, arisca a pormenores, Isabela de Marchi, gerente te sustentabilidade da Sig América do Sul. “Por tratar-se de um processo novo não o explicamos passo a passo”. Dois anos atrás, a Sig partiu uma recicladora similar na Alemanha. Sigilo à parte, a tecnologia da Sig não está sozinha no planeta. Na K 2022, por exemplo, a alemã Saperatec deu o que falar com sua rota para reciclar cartonados com separação prévia dos materiais agrupados na caixa, processo sumarizado nas etapas de trituração, fluido líquido de separação do material moído, lavagem, classificação/ separação (por meios como peneiramento) e secagem.
Com esse isolamento dos elementos da caixa, conjetura Isabela, o preço de venda do seu refugo pós-consumo subirá mais de 50%. “Afinal, os valores comerciais isolados de PEBD e alumínio superarão o do chamado polialumínio, devido à sua maior gama de aplicações”. A praxe é utilizar polialumínio reciclado em aplicações de baixo valor agregado, tipo paletes, mobiliário e telhado. Isabela não exemplifica utilizações para os produtos individualizados resultantes da sua reciclagem química. Em PEBD, fica no ar a incógnita se o reciclado terá vez em embalagens de alimentos. Resinas recuperadas pela reciclagem mecânica (fora PET grau alimentício) são barradas de embalagens alimentícias pela saúde pública brasileira. Mas poliolefinas pós consumo recicladas pela rota química (em regra, pirólise) já sobem às gôndolas no exterior em embalagens tipo pet food, potes de sorvetes e frascos de leite fresco. No Brasil, Isabela informa já mapear possíveis compradores do PEBD para segundo uso gerado pela reciclagem química. “Pode ter espaço em indústrias fora do setor alimentício”.
Para rodar a pleno a capacidade inicial de 200 t/mês, a futura recicladora química da Sig demandará 27 milhões de caixas cartonadas pós-consumo no mesmo período, calcula Isabela. encaixando que a unidade será abastecida de embalagens de todas as marcas. A propósito, ela comenta não haver no país número oficial do volume consumido ao ano dessas caixas assépticas e a gerente espera que sua futura unidade contribua para aclarar essa quantidade e os indicadores de sua reciclagem local. Dados vazados nas quebradas do ramo cravam que, em 2018, o Brasil consumiu 73.000 toneladas da embalagem multimaterial, tendo reciclado 30% do total, percentual elevado para 42,7% do volume não especificado de caixas cartonadas descartadas vazias no quarentênico 2020.