A Braskem desceu ao purgatório com divulgado prejuízo líquido de R$ 3.7 bilhões no segundo trimestre, muitos degraus abaixo do índice de R$ 771 milhões no mesmo período um ano antes. Ainda no plano geral das operações locais e internacionais, a receita líquida entre maio e junho acumulou R$ 19 bilhões (7% acima no comparativo com 2023) e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) ficou em R$ 1.6 bilhão contra R$ 703 milhões no segundo trimestre do ano passado.
Único produtor de poliolefinas no Brasil e o maior dos dois de PVC, a performance da Braskem é crucial para uma panorâmica crível da trajetória das resinas commodities nacionais na primeira metade deste ano. No pano de fundo das capacidades produtivas sobressai no período -inclusive no primeiro trimestre, antes da cheia em maio no Rio Grande do Sul – o índice médio de 70% de ocupação, bem abaixo do padrão mínimo aceitável de 85% para viabilizar economicamente uma operação petroquímica. Na voz corrente dos analistas e à parte o argumento da paralisação imprevista do polo de Triunfo (RS), a elevada ociosidade do veterano parque fabril da Braskem reflete a falta de competitividade em matérias-primas, tecnologias e escalas perante as plantas inauguradas sob o superciclo mundial de investimentos, entre 1992 e 2021, puxados por Ásia e EUA.
Diante do desempenho frustrante da Braskem no Brasil, o presidente Roberto Bischoff já ventilou na mídia a hipótese de fechar plantas não competitivas. Na Grande São Paulo, por exemplo, a Braskem opera uma fábrica pequena de PEBD aberta em 1958. A intenção de passar o facão em capacidades obsoletas, já foi encampada no exterior por petroquímicas do naipe de LyondellBasell e Indorama, com margens lesionadas pelos preços dos excedentes globais de poliolefinas e PET.
No Brasil, a Braskem roda com capacidade de PEs da ordem de 3.201 milhão de t/a, segundo nova e não explicada metodologia adotada e que ampliou em 146.000 toneladas o potencial produtivo. No primeiro semestre, a Braskem produziu 1.129.170 toneladas contra 1.111.332 na metade inicial de 2023. Na mesma toada, as vendas internas de janeiro a junho último totalizaram 827.329 toneladas versus 835.978 no mesmo período no exercício anterior. Por fim, as exportações de PEs da empresa limitaram-se a 284.900 toneladas na metade inicial deste ano perante 271.623 no primeiro semestre de 2023. Para deixar mais nítida a conjuntura, o Brasil importou 1.051.167 toneladas de PEs de janeiro a junho último contra 696.076 no mesmo período em 2023, conforme rastreio da Abiquim na garupa de indicadores do governo.
Com capacidade instalada de 1.850 milhão de t/a de PP, distribuída entre o polo de Triunfo e o complexo no Rio de Janeiro, a Braskem produziu 676.248 toneladas de janeiro a junho último versus 667.987 na soma dos mesmos meses em 2023. Quanto às vendas internas do polímero, atingiram 600.055 toneladas no primeiro semestre, de leve acima das 575.930 registradas no período igual em 2023 e, no mesmo comparativo, as exportações ficaram em 81.803 toneladas na metade inicial de 2024, abaixo das 113.176 embarcadas nos seis primeiros meses do ano anterior. Na mão oposta, o Brasil desembarcou 366.098 toneladas de PP no primeiro semestre deste ano e 241.012 na mesma época em 2023.
Mesmo após o desastre geológico em Maceió que, desde 2018, barra o acesso da Braskem a uma matéria-prima local, sal gema, a empresa mantém a projeção de 710.000 t/a para sua capacidade nominal de PVC a cargo de unidades na Bahia e Alagoas. No primeiro semestre de 2024, a Braskem produziu 246.950 toneladas do vinil, perto das 241.626 registradas no mesmo período em 2023. Sem exportar PVC em 2023 e no primeiro semestre de 2024, a empresa vendeu no Brasil 234.705 toneladas da resina de janeiro a junho último, atrás das 260.848 nos mesmos meses do exercício precedente. A capacidade brasileira de PVC é completada pela unidade de 300.000 t/a na Grande São Paulo da Unipar, que divulga ter rodado no primeiro semestre com ocupação de 85%. Hoje em dia, o potencial produtivo de 1.010 milhão de t/a foi ultrapassado pela demanda do vinil, tornando o Brasil dependente de robustas importações complementares. Na primeira metade de 2024, a Abiquim fixou as internações do vinil em 294.513 toneladas, à frente das 203.176 computadas de janeiro a junho de 2023.
A Braskem, conforme publicado na mídia, confia em expansão de 2% a 3% nas vendas internas de suas resinas em 2024. Além disso, a empresa vislumbra crescimento de 13% no consumo brasileiro aparente (produção + importação – exportação) de PP junto com PE e PVC no exercício atual. Um salto impulsionado, em sua maior parte, pelas necessárias importações.