Brasileira Packem produzirá big bags na Índia

Planta atenderá demanda internacional de contentores de PET reciclado
Big bags de Rpet: pivôs da internacionalização da Packem.
Big bags de Rpet: pivôs da internacionalização da Packem.

Economia titubeante, recidivas da covid e a piora do clima entre China e EUA estão reposicionando as cadeias globais de suprimento, de modo a reduzir a dependência da manufatura comandada com mão de ferro pelo governo de Pequim. Com esta mexida no tabuleiro, países de renda baixa e média aproveitam para despontar como alternativa ao poderio chinês aos olhos de  indústrias investidoras. São exemplos o México, Vietnã, Indonésia e, em especial no tocante a projetos como os de informática, semicondutores e da cadeia plástica, a Índia, cujo arsenal de seduções ao empresariado alinha impostos baixos, subsídios fiscais, infra logística e abertura comercial. Ave raríssima entre transformadores brasileiros, em regra relutantes a internacionalizar  operações, a catarinense Packem, potência em ráfia com seis plantas totalizando capacidade anual de seis milhões de big bags, percebeu para onde o vento da globalização passa a soprar. Acionista majoritária (51%) na joint venture com o sócio local Umasree, a Packem programa a partida este ano de uma planta na Índia, de olho no mercado mundial, dedicada a big bags de PET reciclado (Rpet) e verticalizada na recuperação mecânica do poliéster descartado. Na entrevista a seguir, Eduardo Santos Neto, CEO da Packem, revela as motivações e expectativas para investir numa fábrica coligada projeto no extremo oeste da Índia.

Quando parte a fábrica da joint venture, seu local específico  e qual a capacidade instalada?

Eduardo Santos Neto, CEO da Packem
Neto: Packem Umasree reflete ambiente de negócios atraente no setor plástico indiano.

A fábrica será construída na cidade de Ahmedabad, no estado de Gujarat, com capacidade instalada de aproximadamente 10.000 t/ano de big bags de PET reciclado (rPET) a ser ativada em novembro. Ou seja, será capaz de consumir e produzir quantidades significativas de resíduos do poliéster e desse polímero recuperado.

A Índia está erguendo polos petroquímicos e hubs de transformação de plásticos. A planta da Packem se enquadra nesta política industrial?

A localização da nossa fábrica é estratégica, pois Gujarat é um estado conhecido por sua indústria química e de plásticos, muito próximo ao porto de Mundra, e conectado a ele por trem. Além disso, a construção da fábrica na Índia é uma resposta à crescente demanda global por plásticos reciclados e à necessidade de reduzir a dependência de matérias-primas virgens. Recentemente, o primeiro ministro indiano Narendra Modi utilizou um colete confeccionado com rPET originário de garrafas pós-consumo para promover a indústria local de reciclagem.

A unidade produzirá big bags 100% ou de teor parcial de rPET?

A Packem Umasree produzirá big bags com 100% de rPET reciclado (rPET); não haverá material virgem na composição dos produtos finais. Essa escolha é uma excelente iniciativa da empresa, pois ajuda a reduzir a dependência de resina virgens e incentiva a reciclagem de PET, contribuindo para diminuir a emissão de dióxido de carbono e retirar resíduos do meio ambiente.

A iniciativa da joint venture partiu da Umasree ou Packem?

A ideia surgiu do interesse da Umasree em comprar tecidos de rPET da Packem para produzir big bags sustentáveis, produto de alta procura por clientes norte americanos e europeus. As conversas começaram em maio de 2022 e evoluíram para uma parceria mais estruturada que culminou no acordo final, firmado em dezembro, em torno do investimento de U$ 15 milhões.

Por que a Packem preferiu entrar na Índia com sócio em vez de  sozinha?

Quando duas empresas entram em parceria, ambas têm a oportunidade de contribuir através de sinergias, para o sucesso do negócio. Neste caso específico, a Packem comparece com sua tecnologia inovadora, enquanto a Umasree entra com a experiência e penetração no mercado mundial e, principalmente, com seu conhecimento operacional dentro de um país tão distante do Brasil e tão diverso culturalmente como a Índia.

A Índia desfruta de uma maré alta de projetos em petroquímica e transformação de plásticos. Quais os atrativos do país que estão motivando essa corrida de investimentos?

A Índia é país de grande potencial econômico e democracia estável, o que o torna um destino atraente para investimentos em diversos setores. Além do mais, tem investido em educação, ciência e tecnologia, reconhecendo a importância dessas áreas para o crescimento econômico a longo prazo. No plano logístico, por fazer fronteira com países como China, Paquistão, Bangladesh e Sri Lanka, a Índia torna-se um hub regional para negócios e comércio, permitindo que empresas atendam mercados em que desejam estar.

A Índia não tem enroscos como os do Custo Brasil para quem queira aportar recursos em cadeias industriais como as do plástico?

Existem vários fatores que tornam a Índia um destino atraente para investimentos e, entre os principais, destaco os seguintes:

  • Demografia favorável: A Índia tem uma das maiores populações do mundo, com mais de 1,3 bilhão de pessoas. Isso representa um mercado interno enorme, em crescimento e com oportunidades para empresas empenhadas em expandir seus negócios.
  • Reformas estruturais: A Índia tem experimentado forte crescimento econômico nas últimas décadas, impulsionado por uma série de reformas estruturais e investimentos em infraestrutura. Tornou-se um dos mercados emergentes mais atraentes do mundo.
  • Política pró-negócios: O governo indiano tem adotado uma série de medidas para tornar o país mais amigável aos negócios, incluindo a simplificação de processos de registro, redução de burocracia e incentivos fiscais para empresas que investem em determinados setores.
  • Força de trabalho qualificada: A Índia é conhecida por ter mão- de obra ultra preparada em áreas como tecnologia da informação, engenharia e ciências. Esta bagagem educacional torna o país sedutor para empresas atrás de talentos especializados para expandir seus negócios no país.
  • Ecossistema: A Índia tem recursos naturais abundantes, incluindo petróleo, gás natural e minerais. Podem ser explorados por quem investir em setores como petroquímica e mineração.

Apesar desses chamarizes, é importante notar que investir em qualquer mercado emergente apresenta riscos e desafios únicos. Portanto, a intenção de empreender na Índia deve ser precedida por  uma análise cuidadosa.

Quais empresas responderão pela coleta seletiva e reciclagem de sucata PET para suprir a produção de big bags  da Packem Umasree?

Assim como no Brasil, na Índia existe uma vasta gama de empresas de coleta, cooperativas de catadores, sucateiros, etc.. Eles constituirão a base de parceiros nossos para o suprimento do lixo plástico, refugo utilizado como matéria prima para o reciclado dos big bags. Além disso iremos apoiar ações sociais para coletas, gerando empregos e, em decorrência, renda. Por fim, nosso projeto contempla uma instalação de reciclagem para abastecer a Packem Umasree com rPET.

A planta será suprida pela reciclagem de PET oriundo de garrafas ou de resíduos de big bags contendo resina já recuperada?

Por sua alta circularidade e versatilidade, PET é a resina plástica mais reciclada no mundo e pode ser transformado em ampla gama de produtos, incluindo garrafas, big bags e outros tipos de embalagens.  Ao reciclar o PET, o material é processado para remover impurezas e contaminantes e depois é fundido para dar forma a aplicações de segundo uso. A qualidade de  PET reciclado pode variar, a  depender da fonte do material e do processo de reciclagem utilizado. No entanto, existem muitas tecnologias avançadas e3 disponíveis para reciclar PET com eficiência e alta qualidade no desempenho final. Portanto a resposta é sim, a matéria prima a ser trabalhada pela Packem Umasree pode vir dos resíduos tanto da garrafa quanto dos big bags.

A boa fase de mercados estáveis como Índia, Coreia do Sul ou Vietnã é justificativa suficiente para animar a internacionalização de transformadores brasileiros de plástico, com base numa globalização menos dependente da China?

O intuito da Packem Umasree de ter a Índia como base é atender seus clientes pelo mundo com maior competitividade de custos em relação ao Brasil; isso já é uma realidade. Outro ponto importante é a boa fase econômica da Índia e existem estudos atestando que esse crescimento irá perdurar por anos.

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