Brasil: importações de resinas da Ásia tendem a superar as dos EUA, prevê Ricardo Rezende, da Place Resinas

Cenário americano inspira cautela sob possibilidade de ajustes operacionais afetando o fluxo de cargas
Brasil: importações de resinas da Ásia tendem a superar as dos EUA, prevê Ricardo Rezende, da Place Resinas
2 de abril último marca como início da ira tarifária de Trump e, em consequência, uma pá de cal no livre comércio e na globalização. Essa ruptura encosta contra a parede os investimentos em complexos petroquímicos, em especial os surgidos no chamado super ciclo mundial (1992-2021) com destaque para os EUA e China, hoje mergulhados até o osso em belicosidade comercial sobre a qual ninguém sóbrio arrisca prever o desenlace. O nevoeiro trazido por essa legião de incertezas envolve de maneira preocupante o Brasil, pois dependente cada vez mais de importações complementares de resinas commodities, a exemplo de PVC, PEBD e certos tipos de PEBDL, para alimentar o crescimento da demanda interna. Não foi à toa que, por tabela, na última montagem da feira Plástico Brasil, proliferaram os estandes de agentes e tradings de materiais do exterior. Na entrevista abaixo, Ricardo Rezende, gerente comercial da importadora e revendedora Place Resinas, referência nacional no comércio exterior de polímeros, assinala as principais providências abraçadas por sua empresa para acertar o passo com o abalo sísmico que Trump vem causando em seu ramo.
Ricardo Rezende: aumento das importações de flexíveis também deve ser considerado na conjuntura atual.
Ricardo Rezende: aumento das importações de flexíveis também deve ser considerado na conjuntura atual.

Como sua empresa tem procurado enquadrar sua operação de importações de resinas com a intensa subida e volatilidade do câmbio, inflação fora de controle, Selic a 14,25%, crédito escasso e demanda por resinas limitada este ano no Brasil, efeito do endividamento das famílias e enfraquecimento do poder aquisitivo? Como se ajustar a essa nova realidade e não perder clientes?

Diante do cenário macroeconômico adverso, a Place Resinas tem adotado ações estratégicas para manter a competitividade e atender com eficiência o mercado interno, mesmo com a demanda por resinas mais retraída este ano. Uma das medidas implantadas é o aumento das importações dedicadas a clientes parceiros. Ou seja, temos priorizado operações de importação dedicadas a clientes estratégicos e parceiros comerciais recorrentes. Essa prática nos permite alinhar volumes, prazos e preços de maneira mais personalizada, garantindo previsibilidade nas entregas e maior segurança para ambas as partes. Outra decisão aqui da Place: efetuar pagamentos antecipados em momentos de câmbio atraente.

Sempre que possível, temos realizado antecipações de pagamento aos fornecedores internacionais em momentos de câmbio mais favorável. Essa abordagem contribui para garantir melhores condições de compra e mitigar parcialmente os efeitos da volatilidade cambial. Além disso, temos fortalecido o foco em embarques imediatos. Em suma, estamos priorizando negociações com fornecedores que oferecem disponibilidade imediata para embarque. Essa estratégia reduz significativamente o lead time logístico e a exposição cambial prolongada entre a data da compra e o desembarque da carga no Brasil. Por fim, temos enfatizado a prática de contemplar fornecedores de longa data com condições comerciais diferenciadas.

Direto ao ponto: graças ao nosso histórico de mais de uma década no mercado e às sólidas relações construídas ao longo dos anos com os fornecedores, conseguimos negociar condições comerciais diferenciadas, tanto em prazos quanto em estrutura de pagamento. Isso nos permite garantir margens mais estáveis e maior flexibilidade para atender os clientes, mesmo em momentos de crédito mais restrito no país.

Como avalia a disponibilidade e custos dos fretes internacionais (EUA-Brasil e China-Brasil) após o tarifaço de Trump e quais as expectativas para as referidas disponibilidade e custos até o fim do ano?

Após o tarifaço decretado pelos EUA, observamos um impacto direto na dinâmica logística internacional, especialmente nas rotas que envolvem o mercado americano. A disponibilidade de embarques a partir dos EUA sofreu uma leve restrição, reflexo do reposicionamento global de cargas e da cautela dos armadores diante das novas barreiras comerciais. Em contrapartida, as rotas originadas na Ásia, especialmente da China, mantiveram-se estáveis em termos de disponibilidade, graças à elevada capacidade logística e à continuidade da oferta por parte dos operadores marítimos que atuam na região. Para o restante do ano, nossa expectativa é de que a disponibilidade de embarques a partir da Ásia se mantenha consistente, favorecida pela crescente oferta de produtos e pela consolidação da China como um dos principais polos exportadores do mundo. Já no caso dos EUA, o cenário ainda inspira cautela, podendo haver ajustes operacionais que impactem o fluxo de cargas. A estratégia da Place tem sido manter uma base de fornecedores diversificada e buscar negociações com embarque imediato, reduzindo riscos logísticos e assegurando a continuidade do atendimento ao mercado interno.

Diante da piora da guerra comercial EUA x China, do tarifaço de Trump e retaliações de vários países às exportações dos EUA, acredita que as importações brasileiras de resinas commodities asiáticas (China,em especial) caminham para superar, a partir deste ano, as importações brasileiras das resinas norte-americanas, à sombra de fatores como a crescente capacidade excedente da China e a redução dos preços do frete Ásia-Brasil, efeito inclusive da baixa do petróleo sob a retração da economia internacional?

Acreditamos que, a partir deste ano, as importações brasileiras de resinas commodities oriundas da Ásia – especialmente da China – tendem a superar progressivamente as provenientes dos EUA. Esse movimento reflete não apenas o aprofundamento da guerra comercial entre EUA e China, mas uma transformação estrutural na oferta global de resinas. A China segue expandindo sua capacidade produtiva, especialmente em polietileno (PE) e polipropileno (PP), gerando excedentes que estão sendo direcionados ao mercado internacional com preços extremamente competitivos. Em paralelo, o tarifaço baixado por Trump e as subsequentes retaliações vêm tornando os produtos norte-americanos menos atrativos, tanto em termos comerciais quanto operacionais. Esse novo cenário tem impulsionado importadores brasileiros a buscarem alternativas mais estáveis, previsíveis e economicamente vantajosas. Em resposta a esse contexto, ampliamos nossa carteira internacional com destaque para o Egito, que vem se consolidando como uma origem emergente interessante no fornecimento de resinas commodities. Além disso, outras origens seguem sendo constantemente monitoradas, de forma estratégica, para garantir que nossa operação continue alinhada às melhores oportunidades do mercado global.

Pelos balanços setoriais, cresceu bem em 2024 a importação brasileira de filmes e embalagens flexíveis, em especial da Ásia/China. A seu ver, fatores como o excedente da petroquímica chinesa, a competitividade econômica da China e do Sudeste Asiático e o barateamento do frete internacional tendem a intensificar mais, a partir deste ano, o desembarque de transformados asiáticos no Brasil, caso de bobinas?

Concordamos que faz cada vez mais sentido considerar a ampliação das importações de filmes e embalagens flexíveis, principalmente a partir da Ásia, como alternativa viável diante do atual cenário econômico. A crescente competitividade dos transformados asiáticos, com destaque para os produtos chineses, levanta uma discussão inevitável sobre a viabilidade da indústria nacional frente a um mercado globalizado e cada vez mais dinâmico. Esse movimento de entrada de transformados importados tende a se intensificar, em particular se persistirem as condições atuais de excedente produtivo na Ásia e a busca por soluções mais acessíveis por parte dos compradores brasileiros.

Não é a primeira vez que esse debate surge. Já observamos em ciclos anteriores uma política econômica que, sob o argumento de proteger a cadeia petroquímica nacional – em especial, os grandes produtores de resinas – acaba por sufocar o setor de transformação, composto por milhares de pequenas e médias indústrias espalhadas pelo Brasil. Essas políticas, muitas vezes descoladas da realidade da competitividade internacional, impõem ao transformador brasileiro custos elevados, limitando sua capacidade de competir tanto no mercado externo quanto no próprio mercado interno. O resultado é um setor pressionado, forçado a aceitar preços artificialmente inflacionados, sem espaço para repasse e com margens cada vez mais comprimidas.

Nesse contexto, embora nossa empresa ainda não tenha adotado formalmente uma estratégia voltada à importação de filmes e transformados, é inegável que essa possibilidade está no radar do setor. Trata-se de uma resposta natural a um ambiente onde a prioridade, historicamente, tem sido dada à manutenção da rentabilidade dos grandes produtores de resinas, em detrimento da sobrevivência e competitividade da indústria transformadora nacional.

Compartilhe esta notícia:
De olho na popularidade, o governo procura estimular o consumo enquanto o Banco Central aumenta os juros para frear a inflação, restringindo o poder aquisitivo

Pesquisa de Opinião

De olho na popularidade, o governo procura estimular o consumo enquanto o Banco Central aumenta os juros para frear a inflação, restringindo o poder aquisitivo. Diante desse cenário contrastante, sua empresa permanece à espera de maiores definições ou percebe oportunidades para expandir seu negócio?

Deixe um comentário