
Como sua empresa tem procurado enquadrar sua operação de importações de resinas com a intensa subida e volatilidade do câmbio, inflação fora de controle, Selic a 14,25%, crédito escasso e demanda por resinas limitada este ano no Brasil, efeito do endividamento das famílias e enfraquecimento do poder aquisitivo? Como se ajustar a essa nova realidade e não perder clientes?
Diante do cenário macroeconômico adverso, a Place Resinas tem adotado ações estratégicas para manter a competitividade e atender com eficiência o mercado interno, mesmo com a demanda por resinas mais retraída este ano. Uma das medidas implantadas é o aumento das importações dedicadas a clientes parceiros. Ou seja, temos priorizado operações de importação dedicadas a clientes estratégicos e parceiros comerciais recorrentes. Essa prática nos permite alinhar volumes, prazos e preços de maneira mais personalizada, garantindo previsibilidade nas entregas e maior segurança para ambas as partes. Outra decisão aqui da Place: efetuar pagamentos antecipados em momentos de câmbio atraente.
Sempre que possível, temos realizado antecipações de pagamento aos fornecedores internacionais em momentos de câmbio mais favorável. Essa abordagem contribui para garantir melhores condições de compra e mitigar parcialmente os efeitos da volatilidade cambial. Além disso, temos fortalecido o foco em embarques imediatos. Em suma, estamos priorizando negociações com fornecedores que oferecem disponibilidade imediata para embarque. Essa estratégia reduz significativamente o lead time logístico e a exposição cambial prolongada entre a data da compra e o desembarque da carga no Brasil. Por fim, temos enfatizado a prática de contemplar fornecedores de longa data com condições comerciais diferenciadas.
Direto ao ponto: graças ao nosso histórico de mais de uma década no mercado e às sólidas relações construídas ao longo dos anos com os fornecedores, conseguimos negociar condições comerciais diferenciadas, tanto em prazos quanto em estrutura de pagamento. Isso nos permite garantir margens mais estáveis e maior flexibilidade para atender os clientes, mesmo em momentos de crédito mais restrito no país.
Como avalia a disponibilidade e custos dos fretes internacionais (EUA-Brasil e China-Brasil) após o tarifaço de Trump e quais as expectativas para as referidas disponibilidade e custos até o fim do ano?
Diante da piora da guerra comercial EUA x China, do tarifaço de Trump e retaliações de vários países às exportações dos EUA, acredita que as importações brasileiras de resinas commodities asiáticas (China,em especial) caminham para superar, a partir deste ano, as importações brasileiras das resinas norte-americanas, à sombra de fatores como a crescente capacidade excedente da China e a redução dos preços do frete Ásia-Brasil, efeito inclusive da baixa do petróleo sob a retração da economia internacional?
Pelos balanços setoriais, cresceu bem em 2024 a importação brasileira de filmes e embalagens flexíveis, em especial da Ásia/China. A seu ver, fatores como o excedente da petroquímica chinesa, a competitividade econômica da China e do Sudeste Asiático e o barateamento do frete internacional tendem a intensificar mais, a partir deste ano, o desembarque de transformados asiáticos no Brasil, caso de bobinas?
Concordamos que faz cada vez mais sentido considerar a ampliação das importações de filmes e embalagens flexíveis, principalmente a partir da Ásia, como alternativa viável diante do atual cenário econômico. A crescente competitividade dos transformados asiáticos, com destaque para os produtos chineses, levanta uma discussão inevitável sobre a viabilidade da indústria nacional frente a um mercado globalizado e cada vez mais dinâmico. Esse movimento de entrada de transformados importados tende a se intensificar, em particular se persistirem as condições atuais de excedente produtivo na Ásia e a busca por soluções mais acessíveis por parte dos compradores brasileiros.
Não é a primeira vez que esse debate surge. Já observamos em ciclos anteriores uma política econômica que, sob o argumento de proteger a cadeia petroquímica nacional – em especial, os grandes produtores de resinas – acaba por sufocar o setor de transformação, composto por milhares de pequenas e médias indústrias espalhadas pelo Brasil. Essas políticas, muitas vezes descoladas da realidade da competitividade internacional, impõem ao transformador brasileiro custos elevados, limitando sua capacidade de competir tanto no mercado externo quanto no próprio mercado interno. O resultado é um setor pressionado, forçado a aceitar preços artificialmente inflacionados, sem espaço para repasse e com margens cada vez mais comprimidas.
Nesse contexto, embora nossa empresa ainda não tenha adotado formalmente uma estratégia voltada à importação de filmes e transformados, é inegável que essa possibilidade está no radar do setor. Trata-se de uma resposta natural a um ambiente onde a prioridade, historicamente, tem sido dada à manutenção da rentabilidade dos grandes produtores de resinas, em detrimento da sobrevivência e competitividade da indústria transformadora nacional.