À frente de 40% do PIB mundial, a encaminhada Parceria Transpacífico (TPP), tricotada pelos EUA com 11 países, acentua o alheamento do Brasil das correntes do comércio integrado. Num primeiro momento, o impacto do megacordo não é relevante para a transformação nacional de plásticos , julga José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). “Analisando apenas a relação EUA-Brasil, mesmo com a aprovação da TPP será mantido o Sistema Geral de Preferência (SGP),que concede tratamento preferencial dos EUA (entre outros países) ao nosso país, contribuindo para a continuidade do fluxo de exportações”, ele alega.“Quanto ao Chile e Peru, os signatários sul-americanos da TPP, seus acordos comerciais com o Brasil, dotados de preferências tarifárias plenas, também serão preservados”.
Roriz ressalta, no entanto, o peso da abrangência da TPP, exemplificando com as cadeias globais de valor. Caso o acordo vigore, raciocina, os países desenvolvidos, no caso EUA, Canadá, Cingapura e Japão, venderão mais aos outros membros do tratado, deixando o Brasil de fora. “Por isso, é vital pensarmos em maneiras para a competitividade de nossa indústria progredir”, ele adverte.
Do ponto de vista da petroquímica sul-americana, a influência do tratado, recairá sobre os mercados chileno e peruano, em regra servidos por termoplásticos argentinos e brasileiros, pondera Jorge Bühler-Vidal, diretor da Polyolefins Consulting. “Estes dois países também poderão ser afetados por um fluxo maior de transformados semi ou 100% acabados ou ainda produtos finais de seus novos sócios comerciais; isso embute a hipótese de limitar a produção de artefatos plásticos no Peru e Chile”, avalia
Vidal não vislumbra mudança significativa, por conta da TPP, no ingresso habitual de resinas do Brasil e Argentina no Chile e Peru. “Caso se concretizem a expansão em polietilenos da Dow em Bahia Blanca, assim como os projetos por ora incertos no Brasil, esses empreendimentos deverão partir na década de 2020 e se voltariam para os mercados dos membros do Mercosul”. Por seu turno, diz, as novas capacidades de PE a caminho entre 2015 e 2018 na América do Norte saem ganhando com o supertratado. “Elas terão acesso mais fácil aos países do Pacífico, se bem que muitos deles produzem e exportam resinas”, analisa Vidal. A TPP, ele conjetura, deveria imprimir mais urgência para Brasil e Argentina se colocarem em ordem, botarem o Mercosul para realmente funcionar “e assim estabelecer uma aliança desse bloco com a União Europeia”, fecha.
bate e volta
Risco de sucateamento
Uma pergunta para Filipe de Botton, CEO Global da transformadora portuguesa Logoplaste.
PR – O Brasil é reconhecido pela Organização Mundial do Comércio como uma das economias mais fechadas do planeta. Por seu turno, Chile, México e Peru já constam da Parceria Transpacífico (TPP). Se o Brasil não sair do protecionismo, quais os prováveis efeitos da TPP para seu setor plástico?
Botton – Proteções de mercados, quando usadas de forma indiscriminada, tendem a causar atraso no desenvolvimento. Temos uma dificuldade muito grande em conseguir usar tecnologia de ponta nas fábricas do Brasil devido aos altos custos de importação de equipamentos. Isso nos expõe sempre ao dilema de ter que escolher entre um atraso tecnológico das fábricas versus outras regiões ou um aumento de custo significativo. Não faz muito sentido ser penalizado por utilizar equipamentos mais avançados.
O risco que vejo com a vigência da TPP é de um sucateamento do setor de plásticos no Brasil, distanciando-se dos padrões internacionais de qualidade e custo. Dessa forma, irá compensar produzir no exterior e exportar para o Brasil quando, na realidade, pela dimensão da economia brasileira, o efeito de escala de operações localizadas no país deveria criar o fluxo oposto, ou seja, de remessas do Brasil para o exterior.