Os números vão direto ao ponto. Em 2024, a produção brasileira de PVC recuou 3,6% sobre 2023 e, na mesma trilha, o consumo aparente do vinil subiu 12,4%, impulsionado em particular pelo crescimento de 38% nas importações do polímero. Os indicadores constam do relatório anual de desempenho do mercado da resina no período passado, compilado pela consultoria MaxiQuim para o Instituto Brasileiro do PVC (IBPVC). Os dados refletem uma guinada no perfil desse setor no país. Sem expandir a capacidade do vinil há bom tempo, o Brasil praticamente deixou de exportar PVC e suas importações não devem tardar muito a igualar e passar a produção doméstica. Na entrevista a seguir, Simone de Faria, diretora para a América do Sul da consultoria Townsend Solutions, disseca os indicadores do balanço de 2024 do IBPVC, cujo presidente Alexandre de Castro optou por não conceder entrevista.
De 2019 a 2024, a capacidade brasileira de PVC rodou com ociosidade média anual da ordem de 30%. Como avalia a viabilidade econômica deste índice, obtido de plantas antigas e de menor porte e eteno base nafta, perante os atuais padrões de competitividade na petroquímica mundial de PVC?
De acordo com o noticiário especializado, 2024 foi um período superaquecido e de pleno emprego, apesar dos juros altos e inflação à solta. Apenas a partir do 4º tri a demanda esfriou. Sendo assim, porque a produção brasileira de PVC fechou 2024 com 712.000 toneladas, em queda versus a expansão aferida em 2022 e 2023?
Em 2024, a produção nacional de PVC caiu para 712.000 t versus 739.000 em 2023; as importações subiram a 554.000 t contra 403.000 precedentes e as exportações locais foram simbólicas – 5.000 t. Isso significa que a evolução do mercado interno do vinil em 2024 (consumo aparente de 1.261.000 t x 1.122.000 t em 2023) foi obra da escalada das importações?
O consumo aparente subiu amparado pelo crescimento do segmento da construção civil, com ganho de market share do produto importado.
Uma vez mantido o histórico da performance apresentado desde 2018, as importações brasileiras de PVC (554.000 t em 2024) caminham para se igualar em poucos anos à produção nacional da resina (712.000 t em 2024). A seu ver, o excedente global de PVC, pressionado pela guerra comercial EUA x mundo pode apressar ainda mais o nivelamento no mesmo patamar das importações com a produção brasileira de PVC? E mais: como deve ficar a competitividade econômica do PVC nacional quando os volumes das importações superarem os da produção local?
A capacidade total de produção é inferior à demanda há alguns anos e, como não há perspectiva de crescimento no curto prazo, qualquer aumento no mercado deve ser suprido por resina importada. Então, mesmo sem excedente mundial, as resinas importadas terão uma fatia importante no mercado nacional.
No entanto, com oferta global elevada e demanda enfraquecida, a tendência é de queda nos preços. E com o agravante de que, na falta de mercado consumidor em outras regiões do mundo, o Brasil pode ser um importante destino para o excedente.
Como avalia o possível impacto, a curto prazo, do tarifaço de Trump nas principais origens das importações brasileiras de PVC? Em 2024, a Ásia foi representada só por Taiwan. A China deve despontar em breve nesse ranking das principais origens?
Toda a dinâmica do comércio global deve se alterar com uma guerra comercial prolongada. O Brasil é um player global importante de resinas plásticas em geral e não deixará de ser levado em consideração como um parceiro de negócios. Mas, acredito que a tendência é de que as negociações avancem e tragam maior equilíbrio ao mercado.
O PVC da China sofre com a mais elevada tarifa brasileira antidumping. Por isso, não deve ser a primeira opção dos importadores. O dumping contra a China finaliza em agosto próximo e, provavelmente, será renovado.
Os únicos segmentos de PVC cuja demanda recuou em 2024 foram o agronegócio (-5%) e higiene/limpeza/farma (-3%)? Qual a explicação?
Como houve queda de 1,2% na produção dos produtos farmacêuticos e farmoquímicos no Brasil em 2024, natural que o consumo de PVC para essa aplicação também tenha caído. Já no caso de tubos para irrigação, o PE vem ganhando espaço. Há muitos anos, PVC tem perdido mercado para outros materiais, principalmente em embalagens, mas também em segmentos como tubos de saneamento, fios e cabos e calçados.
Quais os principais artefatos de PVC importados pelo Brasil em 2024 e por quais motivos? E quais as possibilidades dos preços internacionais em baixa, tanto do frete como da superofertada resina, ampliarem a curto prazo os desembarques no Brasil de transformados de PVC da Ásia?
A importação de filmes e chapas de PVC aumentou 5% em 2024 e 21% entre 2024 e 2022, enquanto as importações de tubos de PVC cresceram 34% entre 2022 e 2024, mas quase nada de 2023 a 2024. No entanto, a participação é muito pequena perto do total transformado internamente. Mesmo a importação de PVC composto é reduzida, se comparada ao volume do mercado brasileiro de PVC. Mas não é fácil fazer esse levantamento para outros produtos que levam PVC em sua composição, como calçados e fios e cabos. Como não existe um código de Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) específico e os dados não são abertos pela Receita Federal para filtrar pelo detalhamento do produto, é difícil chegar a um volume mais real.