No PIB de -3,8% de 2015, o agronegócio foi uma gota de azul no mar vermelho dos setores industriais e de serviços. Além das exportações vitaminadas pelo câmbio, o desempenho do campo foi positivo por um motivo simples: mesmo em recessões, ninguém abre mão do hábito de comer. O empobrecimento geral se alastra na economia em depressão e, endividada até o talo, a população pode se esquivar do consumo de alimentos supérfluos, mas depende dos essenciais para sobreviver. Essa proeminência dos alimentos também explica não só porque o setor de embalagens flexíveis virou a página do ano passado com menos avarias que a transformação de plásticos como um todo, tendo ainda razões para não esperar por uma travessia pior em 2016, indica o último balanço compilado pela MaxiQuim a pedido da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief). “Produtos de maior valor agregado, como embalagens com barreira, tendem a continuar com vendas crescentes, movidas inclusive pelas exportações ascendentes com a desvalorização do real, enquanto aqueles destinados à cesta básica de alimentos são menos afetados em tempos de crise ”, considera Solange Stumpf, diretora da renomada consultoria. “Portanto, o horizonte para flexíveis não é tão negativo como para o mercado de transformados total”.
O pente-fino da Abief abre pelo plano macro, balizado pela performance de polietileno (PE) e polipropileno (PP), as resinas que regem a partitura das embalagens flexíveis. A demanda brasileira de ambos os polímeros em todos os setores, aponta Solange, somou no ano passado 3.883 milhões de toneladas, configurando retorno aos patamares de 2012. O mercado de PE caiu 3,1% versus 2014 e o de PP baixou 8,3%, queda maior explicada pela presença da resina em setores esgoelados pela recessão, como bens duráveis. Cortesia do câmbio e crise, as importações de PE em 2015, da ordem de 792.000 toneladas, murcharam 9% e as de PP, na faixa de 258.000 toneladas, recuaram 16%, crava a varredura da MaxiQuim.
Elo seguinte da cadeia, a produção de embalagens flexíveis deteve 32% dos transformados plásticos gerados no último período. Abaixo dos nívies de 2010, ela diminuiu 1,6% em 2015, pairando em 1.815 milhão de toneladas. “PE de alta densidade (PEAD) respondeu por 11%, de baixa densidade (PEBD) por 27%, linear (PEBDL) por 45% e PP por 16%”, reparte Solange. O consumo aparente do setor defendido pela Abief cravou 1.844 milhão de toneladas ou -3,6% sobre 2014 e, de novo, inferior aos indicadores de 2010. Em contraste, o faturamento bruto fechou em R$19,6 bi, traduzindo subida de 8,4% em variação nominal e de 2,1% em variação real sobre o ano precedente.
A MaxiQuim projetou em 614.000 toneladas o mercado nacional de PEBD no exercício passado e atribuiu a embalagens flexíveis 81% desse total. Alimentos, por sua vez, manteve a pole dos mercados da resina, com fatia de 29%. Essa liderança também deu as caras, com participação de 36%, no mercado geral de PEBDL, estimado pela consultoria gaúcha em 878.000 toneladas em 2015 e no qual as embalagens flexíveis detiveram o quinhão de 36% do saldo. Não deu outra em PP. O mercado total do termoplástico fechou 2015 em 1.386.000 toneladas, flexíveis ficaram com parcela de 21% e os alimentos, para variar, foram a locomotiva dos mercados respondendo por 23% do movimento geral. A exceção ficou com o mercado de PEAD em 2015, projetado em 1.034.000 toneladas, cabendo a flexíveis a secundária parcela de 20% e, no cômputo total, alimentos compuseram apenas 4% do movimento, chefiado com folga por frascos de artigos de higiene pessoal e limpeza doméstica. Não se pode mesmo ganhar todas. •