Passagem sem escapatória para quem já levou a criançada aos Estados Unidos, a Toys ‘R’ Us, rede líder mundial na venda de brinquedos, com receita de US$ 6,8 bilhões em 2017, vergou os joelhos sob recuperação judicial pedida no ano passado e comunicou à praça o fechamento de suas 735 lojas norte-americanas. Um efeito dominó da quebra da empresa aos 61 anos de ativa e cuja vitrine mundial era a filial nova-iorquina na Broadway, também chamada de brinquedolândia, foi sentido de bate pronto num nervo da transformação de plástico, a indústria de rotomoldagem. Seja em receita ou manutenção de milhares de postos de trabalho, o impacto com a perda do principal canal de vendas para brinquedos rotomoldados, a exemplo de veículos, réplicas de grande porte de casas e cozinhas ou gangorras e escorregas, foi tamanho que um grupo acionista da Little Tikes, listada a quarta rotomoldadora dos EUA, chegou a cogitar a compra de algumas lojas da Toys ‘R’ Us. “É impossível ocultar a magnitude desse baque para os nossos fornecedores”, declarou à mídia Tom Murdough, CEO de outro peso pesado dos brinquedos a rotomoldados, a Simplay 3. “O consumo de resinas pelo setor, bastante condicionado pelo volume programado de vendas, é uma das muitas áreas afetadas e esperamos que a situação seja superada em breve pela indústria”.
Brinquedos rotomoldados são um cisco no mapa da rotomoldagem no Brasil, cujo carro chefe, a caixa d’água, retrata a infraestrutura do país largada ao deus dará. Ainda assim, o fim de linha para a Toys ‘R’ Us acende um alerta para a cadeia plástica nacional. O carrasco da rede norte-americana é, claro, a internet, mas não é por causa disso que se deve enfiar o caso dela no saco de gatos dos negócios do varejo tradicional despachados pela web. Por exemplo, a californiana Tower Records, no passado a maior vendedora mundial de LPs e CDs, faliu devido aos serviços de streaming de música. Ou seja, os produtos que ela oferecia foram as causas primordiais de sua morte. Já no caso da Toys ‘R’ Us, seu tubo de oxigênio foi cortado pelos custos e mostruário imbatíveis do comércio eletrônico, Amazon à frente.
No Brasil, embora esse tipo de informação sobre a revolução digital circule a torto e a direito e volta e meia se noticie o surgimento de startups, seu significado ainda tem muito chão pela frente para ser assimilado por completo. Na reportagem de capa deste número, sobre o mercado de pet food e seus laminados, foi trazida à baila uma questão de se engolir em seco: qual o futuro dos canais de vendas físicas e seus respingos sobre as embalagens de rações? A pergunta é extensiva a qualquer produto de primeira necessidade de reposição programada.
O xis da questão é a nova geração de consumidores, de notória preferência pelas compras pelo e-commerce, um ambiente sem prateleiras e atendentes e no qual empalidece a necessidade de se despertar a compra por impulso através de ferramentas como onerosas pirotecnias estéticas na embalagem. Pode ser um assunto indigesto para um convertedor que alardeia dispor de impressora de 10 cores, para quem oferece uma resina ou aditivo de maior brilho ou fosquidão, ou para uma indústria de produtos finais que cresce há décadas sem mexer no seu jeito de ser e vender, como ilustra aliás a resistência a mudanças revelada na matéria sobre pet food por vários entrevistados. Só que não adianta dar as costas para o futuro cada vez mais presente.
Aí está a Toys ‘R’ Us para lembrar que não se brinca com fogo. •