A maior sequela do efeito dominó causado pela construção civil em crise sobre o setor plástico aflora de uma mudança no comércio exterior: antes importador de volumes complementares, devido à produção local insuficiente, o Brasil passou, nos últimos quatro anos, a exportador regular de PVC, polímero casado no civil e religioso com lançamentos imobiliários e reformas residenciais. Em 2017, o PIB da construção civil enrubesceu pela quarta vez, com saldo de -6% e, intensivo em mão de obra, o setor sofreu perda aproximada de 1,2 milhão de postos de trabalho com carteira assinada.
De 2014 a 2017, os preços e estoques dos imóveis cresceram acima do aumento da renda das famílias, alvejadas pela recessão, insegurança no emprego e crédito restrito, enquanto as obras de infraestrutura estagnaram sob o déficit nas contas públicas e o rolo compressor da Operação Lava Jato nas maiores empreiteiras. Por sua vez, a indústria de materiais de construção divulgou ter fechado 2017 com queda de faturamento real (descontada a inflação) de -5%, saldo que, acrescido ao do biênio precedente, fez a produção e vendas retroceder ao patamar de 2007. Esse balanço só não fechou pior devido à reação após anos de baixa manifestada pelo consumidor ‘formiga’, o comprador de lotes picados de materiais de construção. Seu desempenho animador é apontado nesta entrevista de Cláudio Elias Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco).
Pelo consenso no setor da construção civil, a perspectiva de alguma melhora lenta e linear depende, em essência, do despertar das obras de infraestrutura, melhora no ambiente dos negócios e desentrave da concessão de crédito – neste último quesito, preocupa em particular a situação fiscal da Caixa Econômica Federal, responsável por estimados 70% dos financiamentos imobiliários. No balcão do varejo, que atende construtoras e pessoas físicas, pesquisa mensal da Anamaco aferiu recuo de -9% no movimento de fevereiro versus janeiro último, também negativo perante dezembro de 2017. Como o histórico do primeiro bimestre é de movimento acanhado, a Anamaco não perde o prumo e informa na mídia manter de pé a crença em crescimento da ordem de 8,5% em 2018, otimismo irradiado nas ponderações a seguir de Conz.
PR – Qual a base lógica das otimistas previsões de vendas em 2018 vindas de setores ultra dependentes de vendas a crédito, a exemplo de lançamentos imobiliários e do comércio de materiais de construção?
Conz – De acordo com as estatísticas sobre o Varejo Ampliado divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a categoria de comércio de materiais de construção apresentou um crescimento de 9% no ano passado perante 2016.
PR – Pesquisas de mercado sustentam que os principais fatores capazes de influenciar o consumo geral este ano são preços e promoções. No âmbito dos materiais de construção, essas condições, também visíveis em 2017, têm ou não levado as marcas premium a perder mercado para as marcas intermediárias e as movidas apenas a preço baixo?
Conz – Como entidade representante do setor de varejo de material de construção, não somos afetados pelos números negativos das construtoras e indústria. Nosso objetivo é estarmos sempre desenvolvendo ações em diversas esferas buscando facilitar o acesso ao crédito, pois as obras precisam ser planejadas e, mesmo que adiadas, elas serão realizadas mais cedo ou mais tarde, uma realidade presente nas 64 milhões de moradias brasileiras.
Em época de crise, é natural uma maior procura por ofertas. Porém, o que temos notado é que o que mais prevalece não é isso, e sim, a experiência de compra do consumidor na loja. Por exemplo, um bom atendimento que gere confiança no cliente e faz com que ele compre o produto correto e retorne mais tarde ao estabelecimento para nova aquisição. Pois materiais de construção são produtos que exigem cautela e planejamento na hora da compra, já que o cliente terá que conviver com o produto instalado por muito tempo.
PR – Pelo monitoramento da Anamaco, qual o reajuste notado no preço médio de venda dos tubos de PVC para esgoto e água fria no exercício de 2017 versus 2016?
Conz – Os dados retirados da Pesquisa Anamaco são diferentes desse tipo de indicador mencionado na pergunta.Entretanto, tivemos uma variação de preços abaixo da inflação e, em especial a categoria de tubos, obteve deflação de 4% no exercício de 2017.
O arraso na extrusão da battenfeld-cincinnati
Três linhas dividem as honras das extrusoras de rígidos da battenfeld-cincinnati mais procuradas no Brasil por transformadores de materiais de construção: as máquinas da série twinEX,para tubos de PVC; solEx NG, para tubos de polietileno de alta densidade (PEAD) e, para perfis de vinílicos de janelas, as extrusoras conEX NG, especifica Judith Lebic, chefe de marketing da fabricante austríaca. “Os modelos de dupla rosca twinEx adequam-se à produção de tubos de maior diâmetro para água e esgoto e rodam na faixa até 2.500 hg/H”, situa a executiva. Este mesmo limite máximo, encaixa Judith, é oferecido pela série mono-rosca solEX NG na produção de tubos de PEAD para gás, água e esgoto, com diferenciais como a unidade de processamento que possibilita o trabalho com temperaturas de fusão do polímero até 10ºC inferiores às aferidas em máquinas concorrentes, um trunfo para a economia energética. Por fim, completa a executiva, as extrusoras de dupla rosca cônica conEX NG acenam com produção de até 250 kg/h para perfis e 450 kg/h para tubos de PVC. “O modelo de rosca dispõe de novo conceito de geometria que minimiza o desgaste” salienta Judith Lebic.
PR – A Anamaco prevê salto de 8,5% nas vendas este ano, com base na queda da Selic, inflação baixa e aumento do emprego. No entanto, os juros do cartão de crédito continuam altíssimos, falta trabalho para 26,4 milhões de pessoas (IBGE), falta verba para o programa Minha Casa, Minha Vida, e, dessa vez, o rombo nas contas públicas impede gastos oficiais capazes de animar pontualmente o consumo em ano eleitoral. Por que a Anamaco dá como garantido o crescimento do seu mercado em 2018?
Conz – Segundo o Ministério do Trabalho, o Brasil abriu cerca de 77.800 vagas formais em janeiro, mostrando que as contratações superaram as demissões no início de 2018, após três anos de resultados negativos no mesmo período. Portanto, somando a este dado a perspectiva de melhora gradativa dos fatores e de início de resultados expressivos vindos de linhas de financiamento de materiais de construção, como Cartão Reforma, crescem então a expectativa e a confiança dos consumidores, impactando positivamente todo o varejo brasileiro. Servem de exemplo o fato de a reformas residenciais estarem sendo realizadas à medida em que tenhamos uma retomada da economia como um todo.