Ainda bem que plástico boia

O setor virou o semestre com água no pescoço. E agora?

Se a catástrofe precisa de um monumento, basta olhar em torno. De bens de capital a gêneros de primeira necessidade, de componentes a produtos acabados, de setores dependentes do governo ou a salvo dele o vermelho dos indicadores do consumo este ano faz sangue parecer neve.
Ativo fixo de qualquer mercado, o setor plástico também capotou no primeiro semestre. Projeções preliminares da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) apontam para queda de 4,8% na produção de artefatos transformados, equivalente a 3,17 milhões de toneladas na primeira metade do ano frente aos mesmos seis meses em 2014. O percentual negativo decorre da prostração generalizada nos segmentos da linha de frente. No compartimento das embalagens, estima a entidade, a demanda recuou 2,7% de janeiro a junho último, efeito de retrações em cascata. Em alimentos, o recuo foi de 4,4%, enquanto em bebidas chegou a 8,3%, sendo que apenas a produção de refrigerantes, o coração de PET, despencou 6,3% no primeiro semestre. Na esfera dos artigos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, o movimento de embalagens declinou 3,2% e o de laminados, por seu turno, caiu 2% no período. A saia justa cobre também tubos e peças para construção civil, com retração projetada em 1,8% na primeira metade do ano, enquanto os materiais para o mesmo setor se saíram bem pior, com déficit de 9,8% nos mesmos seis meses iniciais de 2015. Quanto aos demais redutos de transformados, o estetoscópio da Abiplast captou recuo em autopeças, por conta do encolhimento de 20,3% constatado na produção de veículos na primeira metade do ano, mesmo período em que bens de capital e eletrônicos retrocederam 11% e 26,7% em suas respectivas vendas, fixa a entidade.
Ao varrer os estragos da crise, a Abiplast também flagrou queda de 8,5% na produção física de transformados no primeiro semestre perante os mesmos seis meses em 2014. Na esfera do consumo aparente desses produtos, segue a entidade, o volume despencou 5,8% na metade inicial de 2015, restringindo-se a 3,4 milhões de toneladas. Por obra do câmbio, as exportações de artefatos plásticos subiram 7,7% (119.703 toneladas) no comparativo enquanto as importações (345.411 toneladas), sob pressão também da recessão, desabaram 8,1% diante do semestre inicial de 2014. No plano geral, segundo análise da Abiplast, o atual desaquecimento do setor como um todo, com recuo na produção e importações, decorre da conjuntura econômica que arrasta para baixo a atividade industrial, aumentando a inflação e exigindo medidas contracionistas do governo para equilibrar as contas públicas, cujo efeito colateral é o engavetamento de planos de investimentos pelo empresariado. Descontada a inflação, estima a Abiplast, a indústria transformadora de plástico faturou R$ 28,4 bilhões no primeiro semestre ou 9,1 a menos que em igual período no ano passado.
Os ossos à mostra dos resultados de janeiro a junho levam a Abiplast a antever o PIB nacional negativo em 1,7% este ano e recuo de 4,5% para o PIB da indústria brasileira, cuja produção a entidade projeta que diminuirá 5% no exercício atual, à sombra de inflação de 9,15%. “Tivemos um primeiro semestre ruim e não há um plano encadeado, por parte da indústria ou do governo, que vislumbre melhorias no segundo”, constata José Ricardo Roriz Coelho, presidente da entidade. A crise política agrava de forma expressiva a situação econômica e o poder público está mais preocupado com os próximos mandatos do que em levar o país de volta aos eixos, ele desabafa. Para a transformação de plásticos, a conjuntura é ainda pior pois, conforme ele assinala, Petrobras e Odebrecht, os dois acionistas majoritários da Braskem, principal fornecedora de poliolefinas e PVC para o setor, passam um cortado na Lava Jato, com base na  contestada política adotada de preços da nafta, suprida pela sócia estatal.

Roriz: indústrias sem fôlego para cruzar 2016.
Roriz: indústrias sem fôlego para cruzar 2016.

Um alento de leve em meio à contração econômica foi o efeito do dólar valorizado sobre as importações e exportações de transformados. “O câmbio foi positivo, mas nossa indústria permanece sem competitividade, pagando impostos exorbitantes e mais caro por matéria-prima e energia”, Roriz reclama. No plano geral do mercado mundial, assinala, os transformadores têm acesso às resinas em condições mais vantajosas, a reboque da queda do petróleo superofertado e da continuidade da exploração do gás de xisto norte-americano, turbinando a competitividade do eteno e polietilenos do país. “Por que só o Brasil tem de ficar restrito a comprar de um só fornecedor local? Poderíamos usufruir desses investimentos globais e trazer matéria-prima a preços internacionais em vez de pagarmos um preço até 40% mais alto”, ele calcula. Enquanto cresce o suprimento global de termoplásticos como poliolefinas, reitera o dirigente, a cadeia transformadora daqui fica de mãos atadas em um país fechado ao comércio mundial, com sua indústria petroquímica sem horizonte de expansão de capacidade pelo menos na próxima década.
Nesse terreno minado , a indústria do plástico põe investimentos de lado e pensa apenas em chegar viva ao dia seguinte. “Economistas dizem que podemos esquecer 2015. Mas uma empresa não chega a 2016 se não passar pelo segundo semestre. Nossa indústria precisa pagar salários e manter a inovação do portfólio para não fechar as portas de vez”, Roriz acentua. Além do mais, ele encaixa, o ajuste fiscal, pensado para colocar o país nos trilhos e evitar a perda oficial do grau de investimento, não está surtindo os resultados esperados. “O aumento de juros já se tornou inflacionário. As fábricas precisam de crédito – caro e escasso – para capital de giro e repassam esse custo extra a seus produtos”. Outra reação indesejada do plano do ministro Joaquim Levy, emenda, é a queda de arrecadação justo quando o governo precisa de mais recursos para pagar os juros da dívida. “Quando empresas não ganham dinheiro, primeiro deixam de recolher impostos para depois mandar funcionários embora. Se a onda de demissões já atingiu patamares elevados, evidencia que os empresários deixaram de pagar impostos faz muito tempo”, deduz o presidente da Abiplast.
Também não há refresco à vista para os lados das resinas. “O consumo de termoplásticos deve murchar significativamente este ano, como indica nossa estimativa de queda próxima de 10% (ver quadro ao lado) no primeiro semestre frente aos seis meses iniciais de 2014”, expõe Solange Stumpf, porta voz da consultoria Maxiquim. Pelo jeito, ela antevê, o mercado retornará aos patamares de 2009, logo após a crise financeira mundial.

Solange Stumpf: consumo de resinas retrocede seis anos.
Solange Stumpf: consumo de resinas retrocede seis anos.

Em fases de crescimento econômico, repassa Solange, a demanda brasileira de resinas tende a usufruir boa relação com o PIB, com elasticidade de 1 a 2 vezes, a depender do polímero. Mas em períodos recessivos, coloca, o efeito do PIB negativo é agravado para o setor, “pois ocorre um processo de desestocagem em toda a cadeia de valor”. Mas se, a seguir, a economia se recupera, Solange entende que a reação no front do mercado pode ser ainda mais expressiva. “Parte dos produtos plásticos se destina a bens duráveis como eletrodomésticos e automóveis”, argumenta. “Nesses casos, a crise reprime a demanda a ser retomada tão logo o poder aquisitivo e a confiança do consumidor sejam resgatados”. No vai dessa valsa, Solange conta com crescimento econômico abaixo de 0,5% apenas na segunda metade de 2016, com consequente recuperação da demanda de resinas, embora ainda aquém dos níveis de 2014. “A indústria plástica não tem condições de resistir a uma retração além desse limite”, julga.
De todas as resinas commodities, polietileno (PE) foi quem saiu com menos escoriações do primeiro semestre, deixa patente o escrutínio preliminar da MaxiQuim. Enquanto amargou perda de um dígito percentual no período, os demais termoplásticos commodities engoliram o sapo de quedas com variações de 10% a 15%. “Claro, a crise afeta todas as resinas, mas nem todos os seus segmentos de aplicação”, ressalva Solange. “O agronegócio, por exemplo, deve crescer este ano, ajudando assim a compensar a queda em outros campos demandantes de poliolefinas”. Em contraste, nota, a política econômica sob Dilma 1, de estímulo artificial ao consumo, gerou bolhas de expansão nas vendas imobiliárias e de veículos até o ajuste fiscal decretar o fim da festa. “São estes os setores mais vulneráveis à crise, pois a base era forte”, ela completa.

 

Filme de suspense

Produção de flexíveis já caiu dois dígitos

filme-suspense

O reduto de flexíveis caiu de cama sob contágio da crise. Na primeira metade do ano, a produção de filmes recuou 17%, justo num momento de uma conjunção sulfúrica de fatores: subida nos custos, consumo ladeira abaixo e transformadores com alto nível de endividamento. Esses infortúnios convergem para a hibernação das operações até a saída de empresas da praça, observa Herman Moura, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) e diretor da Lord Plásticos, empresa com 40 anos de milhagem de voo no ramo. Quem trabalha com capital próprio e depende menos de crédito bancário, assinala o dirigente nesta entrevista, tem mais chances de resistir à passagem do tornado da recessão.

Moura: embalagens para alimentos de menor valor sofrem menos.
Moura: embalagens para alimentos de menor valor sofrem menos.

PR – Como avalia o impacto da recessão sobre o mercado de flexíveis no primeiro semestre?
Moura – Janeiro foi razoavelmente normal. De fevereiro até o presente momento houve queda significativa, em particular junho, que deve ter sido o pior mês do ano. O mercado, de forma geral, apresenta um primeiro semestre mais lento que o segundo, mas este ano o movimento ficou muito abaixo do esperado. Há empresas em situações melhores e outras piores. Na média, porém, a produção caiu entre 15% e 17%.

PR – Como avalia o número de pedidos de falência e de recuperação judicial na transformação de flexíveis na primeira metade do ano?
Moura – Significativo. As empresas já vinham com nível alto de endividamento devido a uma necessidade grande de capital de giro. Quando há redução do nível de atividade, a questão do endividamento fica mais evidente. É o limite final de funcionamento de muitas empresas.

PR – Como as empresas estão descapitalizadas e, segundo analistas, a crise prossegue 2016 adentro, como ter fôlego para resistir até lá?
Moura – Quem já está em processo de recuperação judicial afasta, no primeiro momento, a necessidade iminente de capital. Essas empresas colocam as dívidas no congelador e começam um novo dia e nele precisam olhar a questão do custo e, provavelmente, conseguirão se restabelecer nos próximos anos. O problema é que, quando a empresa fica sem crédito e está em recuperação judicial, passa por uma fase de descrença de fornecedores. Isso leva a um fornecimento com um preço diferenciado do praticado quando a empresa está bem. Se ela necessitar de capital de giro, vai pagar mais caro.

PR – Como analisa a situação das empresas dentro do seu setor?
Moura – Um quarto do setor é composto por empresas com dificuldades sérias. Outro quarto engloba transformadores que estão bem e terão mais oportunidades quando houver uma retomada. O restante, ou metade do setor, são players que apresentam alguma dificuldade, mas têm capacidade de se reinventar, cortar custos e lançar produtos. Com isso, possuem chances de atravessar bem a crise.

PR – Quais são essas empresas que estão realmente bem?
Moura – São empresas que cresceram sem necessidade de endividamento grande, aquelas que não arriscaram demais em financiamentos e em dependência de dinheiro de banco. Utilizaram capital próprio para fazer o negócio crescer. Esses transformadores podem ter um mês ou outro de resultado negativo, mas vão atravessar esse cenário com certa tranquilidade.

PR – Quais tipos de filmes mais e menos vulneráveis à crise no primeiro semestre?
Moura – Todos os filmes utilizados para embalar componentes automotivos e produtos de linha branca sofreram dificuldades expressivas. Enquanto isso, os filmes direcionados à indústria alimentícia, especialmente nos artigos mais populares, tiveram desempenho melhor. Já os itens de maior valor agregado, mesmo no alimentício, sofreram mais. A substituição é simples. As pessoas deixam de consumir o que é mais caro e migram para o mais barato.

PR – O mercado de descartáveis higiênicos vinha crescendo bem. Os filmes gofrados foram afetados pela crise?
Moura – Sim, foram muito afetados. Esses filmes vinham crescendo de forma consistente a reboque de investimentos fortes da indústria de descartáveis higiênicos. Mas, desde janeiro, houve uma desaceleração muito forte. Talvez com queda até superior ao índice de 15% generalizado no setor de flexíveis. No caso de fraldas descartáveis, as pessoas buscam alternativas e migram para produtos mais baratos, usam a mesma fralda por mais tempo e diminuem o número de trocas, ou até voltam para o paninho.

PR – Como você diz, a indústria precisa se reinventar e buscar alternativas. Como partir para esses movimentos?
Moura – Eu continuo a martelar na tecla dos custos porque, quando temos folga, dá para relaxar um pouco. Quando falo em reinventar, não necessariamente seria partir para um produto novo. Pode ser focar naquilo que você faz melhor, pois em regra é o que dá resultado. Às vezes, o caminho do encolhimento, deixando de lado produtos sem tanta representatividade no balanço, é uma maneira de reinvenção.

PR – No comparativo do primeiro semestre de 2015 versus o primeiro de 2014, os preços internos de PEBD subiram 2,9%, os de PEAD, 2,7%, os de PP, 2,6%, e os preços de PEBDL, 5,5%? Por que PEBDL sobe bem mais do que as outras poliolefinas?
Moura – Não é que o linear suba tanto em relação às outras resinas. Os preços de PEBD, especialmente, vinham com maior apreciação devido às condições apresentadas no ano passado, com dificuldade de compra no mercado internacional. Por isso, a apreciação do linear agora se deve à diminuição da diferença com relação ao PEBD. No momento, os preços das resinas estão se nivelando com base na oferta e na demanda.

PR – Com a elevação de preços de energia, matéria-prima e combustível, qual o aumento aferido nos custos totais de produção de flexíveis e como manter as margens?
Moura – Falando somente de energia, do ano passado para cá, houve um aumento de pelo menos 50%. Pelos nossos cálculos, a energia sozinha representava, em média, 3,5% do preço final do flexível base. Agora está entre 5% e 5,5%. Enquanto isso, todos os anos assistimos os custos de mão de obra subirem em torno de 8,5%. O aumento de custos consolidado, exceto matéria-prima, foi em torno de 7%. Incluindo matéria-prima, chegamos ao patamar entre 27% e 28%. Mas o fato é que, com demanda baixa, não vemos movimentação que consiga corrigir preços nessa proporção. As negociações estão abaixo desses números.

PR – Bobinas são um dos itens de transformados mais importados. O câmbio, ao lado da crise, reduziu algo dessas importações de flexíveis?
Moura – Na minha visão, a situação não mudou muito. O câmbio influencia tanto no valor dos importados quanto na formação de preços internos. Nossos preços, de maneira geral, também subiram alavancados pelo novo patamar de custos.

PR – E as exportações de produtos acabados?
Moura – Ficaram na mesma. Além do mais, os produtores locais não conseguem custo de frete favorável para exportação. O dólar valorizado favorece a entrada de mais reais, porém temos a dificuldade de frete.

PR – Como avalia o trabalho de pré-marketing feito no setor de flexíveis por produtores norte-americanos de PE pela rota do gás de xisto?
Moura – Essas empresas não começaram ontem. No momento tentam estabelecer uma base comercial com mais clareza e transparência. Antes, tinham perspectiva de oferta spot. Agora demonstram que gostariam de estar aqui com participação forte e com trabalho sólido, ofertando sempre os mesmos grades e com capacidade para atender aos volumes demandados. De qualquer forma, não acredito que o mercado vá mudar muito lá na frente com relação à razão de 70% (produto doméstico) e 30% (importado), como ocorre hoje, mesmo quanto esses produtores estiverem operando a plena capacidade nos EUA. A parcela de mercado nas mãos da revenda e de fornecedores internacionais será, na verdade, reorganizada.

PR – As indústrias nacionais estão baratas em dólar e, apesar da crise, o Brasil não perde o charme de ser um grande mercado. Este é um bom momento para o transformador do Brasil buscar sócio capitalizado – de fora ou daqui – ou vender o negócio a um global player?
Moura – Há empresas mundiais que procuram aumentar a participação em mercados emergentes. O Brasil não está em um bom momento de expansão econômica, mas há oportunidades. Nossa situação econômica, por vezes, desmotiva empresários locais a continuar a tocar seus negócios e os impulsiona a passá-los a empresas que querem empreender. Além disso, há empresas dentro de outros países onde não há mais espaço e oportunidades e que querem expandir.

 

calmaVamos com calma

Braskem mantém expectativa de retomada em 2016

Preço do barril em queda livre e depreciação cambial formaram entre as justificativas brandidas para o lucro líquido da Petrobras entre abril e junho, R$ 531 milhões, ter sofrido um senhor recuo, de 89%, face ao resultado no mesmo período em 2014. Mas a montante da cadeia petrolífera, no elo da petroquímica, os mesmos motivos, alta do dólar e declínio das cotações do óleo influindo na diferença (spread) entre os preços da nafta e das resinas, levaram a Braskem, única produtora no país de poliolefinas e a maior das duas fontes de PVC, a surpreender os analistas ao fechar com lucro líquido de R$ 1,1 bilhão em um trimestre marcado pela redução de 10% nas vendas internas dos termoplásticos do grupo, calculadas em 792.000 toneladas. Esse revés nos volumes foi amortecido em boa parte pelo incremento das exportações da empresa, na garupa da sua rentabilidade aguçada pela desvalorização do real. Nesta entrevista, Luciano Guidolin, vice-presidente executivo da Braskem, radiografa o desempenho do mercado na via-crúcis de janeiro a junho e, rechaçando a corrente dos negativistas, tira da retração em curso a conotação de calamidade e põe fé na virada do jogo ainda no ano que vem.

Guidolin: projeções revistas de evolução da demanda.
Guidolin: projeções revistas de evolução da demanda.

PR – O primeiro semestre não configurou uma situação sui generis para a Braskem por vender menos em volume, mas garantir o lucro mediante a conjuntura a cambial e o spread entre nafta e a resina?
Guidolin – O desempenho da Braskem foi bom devido a um conjunto de fatores. Primeiramente, registramos níveis de produção positivos. Em segundo, os spreads internacionais da petroquímica se mantiveram ou tiveram aumento. Os derivados não caíram na mesma velocidade que o petróleo. Além disso, o volume de resina não vendido no mercado interno foi exportado com bons resultados devido à vantagem do dólar apreciado no trimestre. Vendemos em momento de dólar alto um estoque que foi produzido quando a divisa estava mais baixa. Isso nos proporcionou margens melhores. As operações da Braskem na Europa e Estados Unidos também registraram níveis positivos de produção em um momento em que o mercado está demandante de produtos petroquímicos. Esses fatores contrabalancearam a acentuada queda do mercado de resinas no Brasil no segundo trimestre versus o primeiro.

PR – Antes do ajuste fiscal, inflação e recessão, com qual taxa média de crescimento anual do mercado de poliolefinas e PVC a Braskem trabalhava para 2015-2020? E agora?
Guidolin – O crescimento de nossos mercados tem correlação grande com o PIB. No início do ano, projetávamos um PIB de perto de 2% e resinas, no total, um pouco mais do que isso. Hoje a visão é de um ano de retração de demanda. A demanda de PE, PP e PVC, em seu conjunto, vai ter uma queda em linha com o PIB ou um pouco pior. Se considerarmos queda de PIB entre 2% e 3%, os nossos produtos vão cair nessa proporção, ou talvez um pouco mais.

PR – Isso significa que o consumo das resinas retorna ao patamar de quantos anos atrás?
Guidolin – Seguramente, não só perdemos esse ano, mas outro de crescimento. Seria um ano para voltar dois. Nesse cenário, o que buscamos fazer é investir em lançamento de produtos e desenvolvimento de mercado.

PR – E a projeção para até 2020?
Guidolin – Não temos estimativas para um horizonte tão largo. Mas o Brasil tem capacidade de crescer sua demanda entre 3% e 5% ao ano. A retomada vai acontecer a partir de 2016 e 2017. Veremos crescimento menor em 2016 e maior a partir de 2017. Nesse período, o mercado brasileiro vai capturar dois ganhos. O primeiro é a substituição de importações de uma série de produtos que ocuparam o lugar de embalagens e plásticos brasileiros, movimento impulsionado pelo câmbio mais favorável. Falo da bolacha importada na gôndola do supermercado, que já vem embalada, por exemplo. Em segundo, haverá um incremento de exportações de transformados.

PR – Mas o Brasil sempre exportou muito pouco produto transformado, inclusive em momentos bons da economia.
Guidolin – Há um potencial enorme para crescimento das exportações dos transformados brasileiros. O desenvolvimento do mercado externo é uma das saídas para a crise. Daqui para frente, a indústria brasileira vai capturar uma parcela antes detida por importados com conteúdo plástico. A indústria também terá mais competitividade nos mercados internacionais de exportação com um real menos valorizado. Inclusive, um dos eixos do programa PIC é justamente alavancar exportações. Fizemos seminários com participação de pelo menos 150 empresas do setor. A Braskem, além do mais, oferece condições de preço incentivado para fabricação de produtos direcionados ao mercado externo.

PR – A Braskem tinha na Argentina, hoje com sérios problemas econômicos, seu maior cliente externo. A Braskem continua a exportar para lá ou buscou alternativas?
Guidolin – Continuamos atuando na Argentina. Nossos volumes de exportação para lá são estáveis. A Braskem tem uma relação de longo prazo com os clientes e continuamos a atendê-los contornando as dificuldades de aprovações de licenças e de pagamentos. Nosso volume permanece o mesmo. Se caiu, não foi algo significativo.

PR – Braskem produziu PVC com ocupação na média de 75% no primeiro semestre? Não é preocupante?
Guidolin – O mercado de PVC no Brasil tem sido impactado pela desaceleração econômica e por sua ligação com os segmentos de infraestrutura e construção civil. O mercado brasileior de PVC apresentou queda de 8% no primeiro semestre . Em face dessa retração de demanda, a Braskem reduziu seu nível de operação e iniciamos um programa de exportação da resina ao final do segundo trimestre.

PR – Mas a produção de PVC, com Braskem e Solvay juntas, não está aquém da demanda brasileira?
Guidolin – O Brasil será exportador de PVC durante o ano de 2015. É um momento de retração no mercado da resina e, por isso, o conjunto de produtores terá de exportar para poder rodar suas fábricas. É um ambiente diferente em comparação a 2013 e 2014, quando importações eram mais significativas e exportações, inexistentes.

PR – Embora favorecido pelo câmbio para exportar, o agronegócio se ressente do crédito restrito e caro e da dolarização de implementos, como fertilizantes. Em bens duráveis, a produção de carros acusa queda trágica desde o início do ano. Como contornar a retração nesses dois mercados vitais para PP?
Guidolin – A solução para a demanda interna é o contínuo investimento em novos mercados. Incluo a utilização de PP em sacarias de outros produtos, como para envase de cimento.

PR – Mas normalmente cimenteiras têm um braço no papelão, usado para produção de embalagens. Como contornar essa barreira?
Guidolin – A Braskem acredita na oportunidade de mercado e que o PP tem vantagens sobre a embalagem de papelão. É um segmento que tem de ser explorado.

PR – Em quais outros redutos enxerga oportunidades?
Guidolin – É claro que não conseguimos substituir grandes mercados de maneira fácil. O caminho a ser buscado é o desenvolvimento de novos segmentos, como sacaria para cimento, algumas utilidades domésticas, bem como o nicho de móveis de plástico e utensílios em geral. Lançamos, inclusive, grades para esses dois últimos redutos. Outra oportunidade está na substituição de latas por baldes de PP no setor de tintas e massas corridas. Também apoiamos transformadores que querem exportar. O resultado disso tudo, em médio prazo, é a atenuação da queda de vendas aos grandes segmentos consumidores.

PR – Ainda no plano das poliolefinas, quais nichos considera mais afetados pela crise?
Guidolin – São aqueles ligados a aplicações de vida longa, como autopeças, bens duráveis e linha branca.

PR – E com relação a embalagens de maior valor agregado para alimentos?
Guidolin – Não temos visto uma grande disparidade em embalagens e também não temos dados que demonstrem um fenômeno de migração para marcas mais baratas. Isso não está claro também nos dados da própria Associação Brasileira de Embalagem (Abre).

PR – Quais segmentos estão indo bem?
Guidolin – Os ligados ao agronegócio continuam caminhando melhor do que a média, ainda que pesem atrasos com início de plantio de safra. O reduto de rotomoldagem, no semestre, ainda foi um destaque, embora acredite que vá desacelerar com a retração do programa Água Para Todos, que até agora impulsionou a fabricação de cisternas e reservatórios de água.

PR – A indústria transformadora está em geral descapitalizada a ponto de se começar a duvidar que terá fôlego para continuar a atravessar a crise em 2016. A Braskem crê que a crise vai acelerar a consolidação do setor mediante o fechamento, venda ou joint ventures de empresas?
Guidolin – As empresas estão muito focadas na busca de eficiência interna, na redução de custos e na gestão operacional e financeira. Eu as percebo um pouco menos inclinadas a fazer movimentos de consolidação. A prioridade é a sobrevivência.

PR – Acredita que ativos baratos em dólar possam atrair investidores de fora?
Guidolin – No momento em que as instabilidades econômicas e políticas diminuírem, acho que sim. No atual cenário é menos provável vermos novos entrantes. É possível, contudo, que empresas de participação transnacional já operando no Brasil vejam no momento uma oportunidade de aumentarem sua capacidade e posição no mercado. Novas empresas estrangeiras talvez cheguem em um segundo momento.

PR – Quantos clientes a Braskem atende diretamente?
Guidolin – Aproximadamente 1200 clientes.

PR – Como vê o risco de inadimplência nesse cenário de instabilidade econômica?
Guidolin – No plano geral, o cenário de inadimplência no setor de transformação em 2015 deve ser parecido com o de 2012. O ano passado e o anterior foram menos críticos. Em 2012, houve grande competição na transformação plástica. Naquele ano, altos investimentos em maquinário elevaram muito a capacidade instalada da indústria transformadora, porém a demanda não correspondeu.

PR – Considera 2015 mais ou menos agudo do que 2012?
Guidolin – A economia como um todo, transformação de plásticos inclusa, está mais propensa à inadimplência este ano. Todos os atores, inclusive os transformadores com seus clientes, estão mais preocupados.

PR – Quais medidas a Braskem antes não adotava e agora incorporou em seu dia a dia para controlar esse risco maior de inadimplência?
Guidolin – Aplicamos os mesmos procedimentos para concessão de crédito e a Braskem tem buscado, ao longo dos últimos anos, fortalecer suas garantias. Como medida adicional, temos adotado, de forma mais intensa, mecanismos de seguro do crédito.

PR – Toda semana recebemos notícias de novas aplicações de PE verde. Como conciliar tantas aplicações com uma capacidade limitada do material?
Guidolin – Continuamos desenvolvendo aplicações de PE verde e temos um processo contínuo de busca por novos clientes. A capacidade é compatível com o número de clientes e demandas de cada aplicação. Há muitos clientes porque o PE é verde é usado em nichos de menor volume unitário. Temos buscado mostrar as várias utilizações do produto, algumas de maior outras de menor volume. Por ser um produto único no mundo, não divulgamos nossos dados de produção e venda.

MaxiQuim: menos abalos em PE.

Polietilenos (PE) viraram a página do primeiro semestre como as resinas menos abalroadas pela recessão, com queda estimada em 4% perante os seis meses iniciais de 2014, constata Solange Stumpf, dirigente da consultoria MaxiQuim. “Neste semestre final, a expectativa é de que os baixos volumes dos termoplásticos no plano geral prossigam ao longo do terceiro trimestre e só acusem alguma melhora no quarto trimestre, por conta da demanda sazonal e não da recuperação da economia”, ela julga. Os grades de alta densidade (PEAD) e lineares (PEBDL), especifica Solange, mantiveram no primeiro semestre a dianteira histórica das importações de polietilenos. Na esfera de PEBDL, ela atribui aos tipos base octeno participação aproximada de 20% no consumo brasileiro da resina e fatia da ordem de 10% para os grades metalocênicos. “No ano passado, o Brasil consumiu cerca de 190.000 toneladas de PEBDL base octeno e perto de 85.000 do tipo metaloceno”, delimita.

 

À espera do degelo

Quando o poder aquisitivo fraqueja, poliestireno desmaia.

degelo

 

Nas espiadas preliminares da consultoria MaxiQuim, poliestireno (PS) só perde para PVC entre as resinas de pior performance no primeiro semestre. Nº1 no país em estireno e PS, uma vez que a Unigel desligou uma planta do polímero, a Innova não conta com trégua da borrasca tão cedo e constata o consumo dando ré com o pé no fundo . “A queda no mercado de PS entre janeiro e junho último girou em torno de 10% em relação ao mesmo período no ano passado”, situa Flávio Lucena Barbosa, presidente da empresa. Se considerarmos a manutenção dessa diferença, 2015 vai fechar muito próximo do cenário da resina em 2009”.
Barbosa racionaliza os percalços do alto da macroeconomia global para a arena doméstica do polímero estirênico. “Apesar de os EUA e parte da Europa demonstrarem sinais de recuperação, há países que seguem em crise e outros iniciam uma mudança na política econômica”, pondera. A China, ele exemplifica, tem perdido força em razão de modificações estruturais numa economia cujo crescimento antes pairava em dois dígitos “e agora não ultrapassa a marca de 7%”, completa. O Brasil, para quem a China é o maior parceiro comercial, sente na carne a puxada de freio oriental, encaixa o dirigente.”Mas além da redução das exportações, o país sofre com a alta da energia, retomada da inflação, alta de dois pontos percentuais na Selic e desvalorização do Real na casa de 15% face ao dólar durante o semestre passado”, retoma o fio dos pesares Barbosa. Aliados à crise política, emenda, esses fatores pesam para diminuir o consumo ao incutir na sociedade incerteza quanto ao futuro, “resultando em aumento de férias coletivas e demissões como parte da tentativa de empresas para manter os negócios”. Como PS bate ponto no cotidiano da população, lá se vai seu mercado pelo ralo, ele fecha.

Barbosa: consumo volta aos níveis de 2009.
Barbosa: consumo volta aos níveis de 2009.

Do observatório da Innova, Barbosa flagra recuo aproximado de 10% no plano geral do movimento de PS este ano. “Embalagens, aplicações na construção civil e descartáveis de PS devem manter este viés de baixa na mesma relação de 10% de diferença sobre o mercado total de 2014”, projeta o presidente da Innova. Já o reduto de geladeiras, o cartão de visitas do polímero em eletroeletrônicos, deve encolher por volta de 18% a sua participação no consumo nacional de PS este ano, antevê o analista, a tiracolo da indigesta mistura do crédito escasso, juros no cosmos e comprador empobrecido e arredio. “Essa queda na refrigeração deve ser compensada por outros segmentos de menor consumo da resina”, espera Barbosa.
Com a planta de 190.000 toneladas da Unigel fora de cena há cerca de dois anos, a relação entre a capacidade efetiva e o consumo nacional de PS ficou mais palatável. Mas esse equilíbrio volta a ser ameaçado pela noticiada intenção da Unigel de religar em parte a referida unidade em São José dos Campos (SP), ressuscitando o trem de 120.000 t/a, promessa antes agendada para março e descumprida. Para Solange Stumpf, diretora da MaxiQuim, o vermelho no qual imergem todos os segmentos de PS tornam esse alardeado compromisso da Unigel sem pé nem cabeça. “Só faria sentido no ambiente da retomada que espero para a segunda metade de 2016”. Barbosa envereda por outra frente de argumentação. “Convivemos desde 2001 com superávit estrutural de PS e ele não impacta diretamente nas margens do negócio”, assevera. “No entanto, elas têm diminuído devido ao impacto do dólar nos preços das matérias-primas, quadro que não deve mudar nos próximos anos mas, de outro ângulo, a valorização da moeda norte-americana reabre o canal de exportação para PS”. O histórico da resina, no entanto, revela que, fizesse sol ou chuva na economia, as exportações brasileiras de PS sempre foram micrônicas. A crise atual, aliás, também mantém hibernando, segundo confirmou Barbosa na mídia, a acalentada duplicação da capacidade de estireno da Innova, hoje na faixa de 260.000 t/a.
PS também é o trampolim de um agito em andamento na Innova. Barbosa confirma a montagem, no integrado complexo sede em Triunfo (RS), de uma unidade de 30.000 t/a de poliestireno expandido (PS) a partir do polímero e não de estireno, conforme a tecnologia tradicional. Manda a lógica, portanto, que esse método reduzirá a produção nacional de PS, o que também aliviaria um pouco, caso saia da retórica, o excedente causado pela promessa da Unigel de reativar em setembro seu maior trem da resina em São José dos Campos. “Nossa produção de EPS não nos afetará no mercado de PS, pois a sobra na oferta dessa resina é maior que as atuais 30.000 toneladas utilizadas na produção do expandido”, racionaliza Barbosa. A oportunidade de investir nesse nicho, ele repisa, decorre das substanciais importações de EPS “e da falta estrutural da sua capacidade produtiva local”. Nesse contexto, a Innova despontará em 2016, na voz corrente do ramo, como único produtor do expandido verticalizado na matéria-prima.
“Para os próximos anos, não vemos crescimento acelerado da demanda capaz de justificar mais capacidade ofertante de PS no país”, sustenta o dirigente. Em 2014, rememora, o consumo total do polímero no Brasil acercou-se das 390.000 toneladas, volume que Barbosa julga sem chance de bis a curto prazo, em razão do AVC da economia hoje em dia. Com a migração de 30.000 toneladas para formular o expandido da Innova, pontua o presidente, a capacidade doméstica de PS, mesmo desprovida da fábrica paralisada da Unigel, continuará acima do consumo interno.

Master não desbota

Está para nascer a crise capaz de baixar a crista e o pique dos desenvolvimentos da Cromex, ativo fixo no trono nacional de masterbatches e há 40 anos na ativa. De olho em alguma reação na segunda metade do ano, período de histórico aquecimento da demanda, a componedora introduziu entre janeiro e junho mais cores e aditivos para os segmentos de eletroeletrônicos, alimentos e construção civil. “É importante destacarmos os produtos exclusivos criados para alguns clientes”, frisam Roberto Jacomini e Marcio Figueiredo, respectivamente diretores comercial e da área técnica. No plano geral, eles projetam recuo de 6% a 8% no setor brasileiro de masters no exercício atual, acentuando a queda registrada em 2014. “Os resultados do ano passado já ficaram abaixo do esperado”, relembram.
Pelo acompanhamento dos especialistas, de janeiro a junho os redutos menos afetados pela recessão foram os de embalagens flexíveis e de fármacos. “Já o mercado de construção tem peculiaridades que complicam sua situação”, eles notam, em alusão ao evidente ao crédito caro e escasso e debandada das verbas públicas. Jacomini e Figueiredo também reconhecem as agruras sentidas pelo reduto de eletroeletrônicos e seu segmento de linha branca, quintal de polipropileno e poliestireno, alvejado em pleno voo pela inflação à solta e nas alturas. Outro nicho de masters golpeado pela contração econômica, eles encaixam foi o de autopeças, na rabeira da tragédia da queda de 18,5% captada na produção das montadoras no primeiro semestre.
As vantagens do dólar apreciado foram contrabalanceadas pela elevação de custos locais, especialmente de frete, energia e matéria-prima, e assim as exportações da Cromex fecharam o semestre inicial no mesmo patamar dos seis primeiros meses de 2014. “A efetivação de novas alianças gera expectativa de melhora de julho a dezembro deste ano”, acenam os porta-vozes. Por sinal, segundo atestam, a crise atual não deve influenciar a continuidade da consolidação da indústria do plástico, com fornecedores de masterbatches inclusos no movimento. “Isso é uma tendência no Brasil e não seria diferente em nosso ramo”.

 

garrafasGarrafas caem no beco

Crise tira o gás do consumo do poliéster

Ficou o dito por não dito. Agendada para o primeiro semestre, a partida do segundo trem de 225.000 t/a de PET da PetroquímicaSuape (PQS) não pintou e assim permaneceu até o fechamento desta edição. “O mercado interno caiu muito e os preços internacionais do poliéster estão muito ruins para a PQS exportar, em razão da oferta abundante”, interpreta Solange Stumpf, diretora da consultoria MaxiQuim. Em contraponto, ela nota, a empresa, única controlada da Petrobras em termoplásticos no país, acumula prejuízos com esse ativo imobilizado. A PQS se debate, portanto, numa escolha de Sofia – a necessidade de decidir entre duas opções cabeludas. Procurada por Plásticos em Revista, a empresa não deu entrevista.

Marçon: importações de pré-formas diminuem.
Marçon: importações de pré-formas diminuem.

“Estimamos na casa de 10% a queda no consumo interno de PET de janeiro a junho último”, calcula Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). “Na primeira metade de 2014, a queda ficou ao redor de 2%, mas deve-se levar em conta que a redução do peso da embalagem, mérito da evolução da tecnologia, contribuiu na prática para diminuir o consumo do poliéster, declínio compensado com o aumento no número de recipientes vendidos”. Nos últimos 10 anos, ele situa, a leveza das garrafas aumentou em média 30%. Theresa Cristina Lopes de Moraes, gerente comercial da M&G do Brasil, dona da pole na produção nacional de PET, endossa percepção de recuo no movimento da resina, mas discorda da queda da ordem de 13% calculada de forma preliminar pela MaxiQuim. Com base na inescapável sazonalidade da demanda da resina, Theresa considera muito bom o balanço do primeiro trimestre,”acima da nossa previsão”, diz. A retração ocorreu a partir do segundo trimestre, ela especifica.
Propulsora de uma banda larga de produtos acondicionados em PET, a classe C presencia, empobrecida, o fim de 12 anos de festa de consumo no primeiro semestre. “Embora tenha retraído, esse consumidor não sinaliza tanto a desistência de comprar, mas de trocar por um similar mais barato”, defende a gerente da M&G. Água mineral, ela exemplifica, continua com crescimento acentuado devido ao culto da saudabilidade, crise hídrica no Sudeste e inverno quente por artes do El Niño.
Na esfera dos refrigerantes, vitrine nº1 da resina, Marçon enxerga um mercado amadurecido, condição que limita seu crescimento. “Enquanto isso crescem com força, embalados em novas e levíssimas garrafas, segmentos como água, sucos, chás e leite longa vida”, ele assinala. Apesar disso, o presidente da Abipet vê solidez na liderança dos refrigerantes entre os mercados de PET. “Respondem por mais de 55% das embalagens da resina produzidas no país”, ele projeta. Embora contestada pela Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais, essa dianteira dos refrigerantes é endossada por Theresa. “Seu consumo de PET ainda é muito maior que o da água”.
A depreciação ao extremo do Real face ao dólar em nada afetou as importações brasileiras de pré-formas, há anos na média de 100-150.000 t/a. Para Theresa, continuam na mesma esses desembarques, a maioria originários de países membros do Mercosul, à sombra das isenções tarifárias do bloco comercial. Por seu turno, Marçon lembra que o consumo brasileiro do poliéster virgem caiu 5,5% em 2014,enquanto as importações de pré-formas pularam então 11%. “Sob a paralisia geral da economia no primeiro semestre, as compras externas de pré-formas diminuíram perto de 9%”, ele estima.

Theresa Moraes: crise afeta menos óleo vegetal.
Theresa Moraes: crise afeta menos óleo vegetal.

Água à parte, Theresa elege óleo comestível, “dada a estabilidade da demanda”, como nicho de PET mais imune ao amargor da era Dilma 2.0. “Os campos de maior expansão hoje em dia são lácteos, sucos naturais prontos para beber, chá, energéticos e, empurrada pela crise hídrica e qualidade insatisfatória do produto da rede pública, água mineral”, indica Marçon. “Mas se a situação atual se estender por muito mais tempo, setor algum de PET seguirá invulnerável à crise, incluso o de alimentos, em regra o último a sentir os efeitos de uma retração”.

 

Fiat-Motor-turbo-2015Turboesperanças

Carros mais potentes são boas novas para resinas nobres num ano duro de engatar

No mercado brasileiro, plásticos de engenharia coexistem em vasos comunicantes com a indústria automobilística. O tombo na produção de veículos de janeiro a junho, 18,5% abaixo do mesmo período em 2014, foi considerado o pior semestre no gênero do setor em nove anos. Os reflexos na raia de resinas nobres foram automáticos, como deixa claro Marcos Curti, diretor para as Américas da unidade global de plásticos de engenharia do Grupo Solvay, hoje o único produtor de polímeros dessa categoria no Brasil. “Readaptamos as previsões para 2015 devido à demanda abaixo do esperado no primeiro semestre, em especial em relação ao setor automotivo”, admite o porta-voz da empresa. “Mas mantemos alguma expectativa positiva para o semestre atual, com base na chegada de carros com novas tecnologias que exigem poliamidas, a exemplo dos motores turbo de novos compactos”.

Curti: câmbio favorece nacionalizações.
Curti: câmbio favorece nacionalizações.

Em paralelo, repisa Curti, prossegue o esforço para capturar oportunidades em outros segmentos. Entre os exemplos, o diretor aponta para o câmbio favorecendo a nacionalização de componentes eletrônicos antes domínio de importações em especial da China. “Essa é a nossa expectativa, embora exija uma estratégia industrial de médio prazo para cativarmos os produtores desse segmento. “Precisamos aguardar mais um pouco para obter uma visão mais clara do mercado, se bem que nossas equipes já estejam ainda mais próximas dos clientes para apresentar os benefícios que esses produtos locais podem aportar às suas linhas de fabricação. A mudança no patamar de câmbio pode colaborar nesse processo”. Outra frente prospectada pela Solvay, emenda Curti, é o mercado denominado por ele bens industriais de consumo. “Algumas nacionalizações já foram concretizadas com nossos produtos, como algumas tampas de comando de válvula, peças da linha branca e sistemas de pedais automotivos”.
Ventilada no primeiro semestre, a notícia do encerramento das atividades da fábrica de poliamida 6 (PA 6) da Basf, deixa a Solvay, com sua unidade de PA 6.6, sozinha no time de quem produz resinas nobres no país num momento de elevação da temperatura no debate se vale mais a pena, dados os custos e o risco Brasil, formular aqui ou importar essas especialidades plásticas. Curti não titubeia. “Esta é a nossa tarefa permanente: mostrar aos clientes que permanece melhor para eles se abastecerem com um fornecedor local do que importando”.

 

A foto desfocou

A disputa aumenta enquanto a demanda encolhe no varejo de resinas

distribuicao

Empreendida no quarto trimestre do ano passado, uma sondagem entre os agentes autorizados desembocou na aposta de que o faturamento e volume de vendas da distribuição saltariam 9% sobre os índices de R$ 2,8 bi e 408.000 toneladas registrados em 2014. “O cenário era outro”, suspira Laércio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas e Bobinas de BOPP e BOPET (Adirplast) e comandante de uma referência do setor, a Activas. O balde de água fria foi jogado na primeira metade deste ano. Varredura da Adirplast no varejo constatou então queda de 0,3% nas vendas de polietileno (PE); de 1,4% em poliestireno (PS); de 28,2% em policarbonato (PC), de 0,5% em poliamida (PA) e de 9% em copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS). A solitária exceção azul coube ao aumento de 5,4% na distribuição de polipropileno (PP). “O primeiro semestre apresentou o menor giro percentual dos últimos cinco anos”, lastima o porta voz do setor. Na entrevista a seguir, ele analisa esse trompaço no ânimo dos varejistas tomando como base a atuação da Activas.

Gonçalves: inadimplência cresce e informalidade permanece.
Gonçalves: inadimplência cresce e informalidade permanece.

PR – Quanto% caiu em média o giro mensal da distribuição da Activas no primeiro semestre versus o mesmo período em 2014?
Gonçalves – O primeiro trimestre deste ano foi melhor que o de 2014, especificamente no mês de março. Porém, o segundo trimestre foi bem mais difícil e a queda nos volumes, se compararmos aos mesmos três meses no ano passado, foi em torno de 20 a 22%. Percebemos que a crise chegou no setor a partir de abril.
PR – Qual a expectativa para o segundo semestre?
Gonçalves – Finalizamos a revisão das nossas estimativas para 2015. Adequamos as previsões à realidade do mercado e isso nos fez reduzir em 20% as nossas projeções iniciais de volume.

PR – Como avalia a inadimplência na clientela da distribuição aferido de janeiro até agora?
Gonçalves – Em análise feita no segmento, os clientes falam sobre uma queda de 30% a 50% do faturamento, ou seja, algo realmente preocupante, principalmente para as empresas não capitalizadas ou preparadas para gerir uma situação como esta. Acredito que o maior reflexo da alta da inadimplência será percebido pela maioria ao longo do semestre atual. Afinal, o mês de junho já deu fortes sinais de piora no índice de inadimplência.

PR – Quais os meios ao alcance do distribuidor para lidar com esse agravamento do risco de calotes?
Gonçalves – As medidas de controle e concessão de crédito caminham de forma lenta na distribuição de resinas, pois ainda não estão de acordo com as práticas de outros segmentos. Isso vale em especial quanto aos critérios para liberar crédito. As bases dos valores deveriam levar em consideração uma régua de política de crédito com base em pelo menos três parâmetros: faturamento, segmento da empresa e score/risco sobre a gestão dela. A partir desses fundamentos, as concessões do setor seriam mais lineares e coerentes com o propósito de minimizar possíveis perdas. Na distribuição de resinas, no entanto, cada agente busca aquilo que considera importante para seu negócio de maneira isolada. É visível que o segmento está mais atento e restritivo na concessão do crédito, buscando alternativas/instrumentos redutores do risco nas transações, mas cada distribuidor age a seu modo.

PR – A recessão freou ou turbinou a venda informal no varejo de resinas?
Gonçalves – A Activas não tem números exatos para essa resposta. Como o mercado está em recessão e houve queda para todas as empresas, não conseguimos mensurar se a venda informal aumentou no varejo. Particularmente, acho que a revenda marginal continua participando com a mesma proporção de volume que sempre atuou no mercado.

PR – Quais as principais ações concretas tomadas pela sua empresa para cortar ainda mais seus custos no primeiro semestre?
Gonçalves – Em função da constante necessidade de controle e de redução dos custos, ainda mais sob o atual cenário econômico, a Activas tomou ações como redução do prazo médio de recebimento e nos dias do indicador de giro de estoque; gestão sobre os gastos e custos internos; adequação do número de funcionários à operação e estímulo às vendas com o cartão BNDES, por se tratar de transação sem risco financeiro.

PR – Quais as ações concretas adotadas para estimular suas vendas?
Gonçalves – Os gestores da Activas criaram um sistema de ranqueamento no nosso planejamento de recurso corporativo (ERP), pelo qual avaliam cada cliente em quesitos como volume, margem, prazo médio, risco financeiro, tipo de frete e atrasos no pagamento. A partir dessa pontuação por estrelas, temos estratégias internas de bonificação por tipo de cliente. Outra ação que tem dado resultado é a Campanha de Incentivo a Vendas, promovida em nosso Contact Center. Em geral, é realizada mensalmente, destacando e premiando com bonificação extra os três melhores funcionários dessa área no período.

PR – No âmbito de PP e PE, a recessão reduziu ou aumentou a disputa de distribuidores com revendedores dessas resinas importadas no primeiro semestre?
Gonçalves – Antes tínhamos uma pizza grande, de oito a 8 a 10 pedaços, e agora temos uma brotinho…. Brincadeiras à parte, em períodos difíceis como agora, com os transformadores diminuindo a produção, a disputa entre todas as empresas que comercializam resinas aumenta muito.

PR – O consenso entre os analistas é de que a recessão prossegue por 2016 adentro. Se assim ocorrer, quais as probabilidades de diminuir o número dos distribuidores oficiais de resinas nacionais de PP e PE?
Gonçalves – Não vejo essa possibilidade, pois já estamos atuando em número muito pequeno de agentes. O que pode acontecer é o desinteresse de revendedores autônomos pelo negócio.

PR – Como a distribuição deve fechar 2015?
Gonçalves – Não creio nas projeções de aumento de volume feitas no final do ano passado. Já o faturamento vai ter crescimento de leve, devido ao aumento do dólar.

 

Parada forçada

Seca nos pedidos pressiona botão de alarme na oferta de equipamentos

A crise derruba o consumo que derruba a produção que derruba a competitividade. Esse efeito dominó pega no peito das máquinas básicas para transformação de plástico, material cuja diversidade de mercados o torna um radar informal da economia em geral. Com pedidos à míngua nas carteiras, os transformadores em geral penam com ociosidade recorde e o temor de ameaças como recuperação judicial ou falência baterem à porta. Nesse clima, comprovou o primeiro semestre, comprar máquinas passa de prioridade a temeridade.
“De modo geral, toda a indústria de bens de capital sentiu a recessão nos primeiros seis meses e, na esteira, a redução de vendas no período apanhou injetoras e sopradoras, estas algo menos por atenderem principalmente o mercado de embalagens”, pondera William dos Reis, diretor da unidade de negócios de máquinas para plásticos da nº 1 nacional, a Romi. No primeiro semestre, ele toca em frente, seu volume médio de pedidos em carteira caiu sem escapatória versus o mesmo período em 2014, “mas aumentou a procura, movida pela necessidade de aumentar a competitividade, por máquinas mais rápidas, precisas e econômicas na energia”, ressalva. Para esta metade final do ano, Reis não entrevê melhora no balanço perante os índices do segundo semestre do ano passado, efeito inclusive da capacidade de investimento do empresariado recuar sob crédito caro e escasso.

Romi EL: demanda menos afetada no primeiro semestre
Romi EL: demanda menos afetada no primeiro semestre

Entre mortos e feridos, Reis elege como locomotiva das suas vendas de injetoras de janeiro a junho último a máquina elétrica EL 300 speed, o fino em desempenho energética sob ciclo rápido com artefatos de parede fina. “Exceto quanto ao encosto de bico e machos, todos os movimentos contam com acionamento elétrico”, intervém Reis. Os mesmos atributos da EL, ele encaixa,também estão por trás da saída expressiva, nos seis meses iniciais, da série EN, por sinal equipada com guias lineares e cuja placa móvel mantém limpo o ambiente do molde por movimentar-se sem contato com os tirantes. “Os sistemas servo bombas dos novos modelos EN, de 600, 800 e 1.100 toneladas, asseguram simultaneidade de movimentos entre a unidade injetora e o fechamento”, esclarece o diretor. “Já a eficiência energética, repetitividade e velocidade aos movimentos são mérito do sistema ‘Stop and Go’”. Na esfera das sopradoras, Reis coloca dois tipos de equipamentos no topo do ranking de vendas de janeiro a junho último. “A procura por sopradoras por acumulação MX20L sobressaiu em água mineral e vale encaixar ainda a aceitação do modelo por extrusão contínua C5TS, a reboque de sua capacidade de sopro de até 10 litros, força de fechamento elevada, área de molde maior, perfil de parison para até 512 pontos e controle proporcional nos movimento hidráulicos”, fecha Reis, acenando com a viabilidade de produção de frascos duplos com alça de até cinco litros.

Engel victory: fechamento sem colunas atrai pedidos.
Engel victory: fechamento sem colunas atrai pedidos.

“O principal fator a influenciar a demanda brasileira de injetoras não é a situação do crédito ou câmbio, mas o mercado em si”, considera Udo Loehken, diretor do escritório comercial da Engel, pilar da Áustria em injetoras. “Se houver necessidade de investir e o ambiente econômico incute confiança no empreendedor, a demanda por máquinas como as nossas acontece”. Ele sentiu a falta desses ingredientes na praça em sua carteira no primeiro semestre. “O histórico mostra o segmento automotivo como o maior mercado da Engel no país, razão pela qual sofremos com retração no número médio de pedidos em carteira desde 2014”, repassa o diretor. Entre essas encomendas, ele saca o predomínio, no primeiro semestre, da série victory, relativa a injetoras de 28 a 500 toneladas, diferenciadas pelo patenteado fechamento sem colunas.

O mesmo filme do desempenho de 2014 passa pela mesa de Loehken este ano, “agravado pelo fato de mercados que andavam mais robustos em 2014 terem sido tragados pela retração existente”, completa. Em busca de um respiradouro para a Engel, ele enxerga a existência de alguns poucos segmentos de injeção que, em caráter eventual, se beneficiam de alguma crise em cena, a exemplo da pane hídrica ou elétrica. Muitas vezes, diz, esses redutos procuram por máquinas de mais tecnologia, como as suas.
Modelos híbridos e elétricos têm cadeira cativa na tribuna das injetoras de maior teor tecnológico. Em 2014, eles compuseram 70% do movimento em 2014 adjetivado como excepcional por Christoph Rierke, diretor da filial comercial da nipoalemã Sumitomo-Demag. “Já em 2015, com resultados abaixo do planejado, sentimos as linhas elétricas mantidas em alta pelo encarecimento da energia”. O peso do câmbio no cenário não é o que aparenta, ele julga”. Já passamos por situações parecidas de valorização do dólar frente ao Real e, de modo geral, os preços se acomodaram”, rememora Rierke. “O grande problema, claro, é a incerteza gerada no investidor de equipamentos de fora quanto ao patamar em que o dólar irá se estabilizar”. No entanto, ressalva, o impacto da subida da moeda norte-americana não incide tanto assim na compra de um bem de capital. “Afinal, são enormes as influências do custo Brasil, dos reajustes da energia e dos gastos com matéria-prima no custo da peça injetada por máquinas em regra depreciadas em cinco anos, diluindo assim o investimento inicial no equipamento”.

Toshiba: custo/benefício escora injetoras elétricas.
Toshiba: custo/benefício escora injetoras elétricas.

Na linha de argumentação de Rierke também há lugar para o chamariz da produção com eficiência, a exemplo de baixar o custo da eletricidade. É por aí que ele justifica a dianteira em suas vendas das máquinas híbridas El-Exis SP e elétricas SE-HSZ, ambas as séries com modelos de 280 a 420 toneladas.
Hércules Piazzo, agente das injetoras elétricas da japonesa Toshiba, atribui a anorexia da demanda de injetoras em geral ao setor automotivo em particular, “como engrenagem de grande parte da indústria nacional como um todo”. O sumiço do crédito e o dólar nas nuvens, concorda, refreiam as compras de maquinário importado. “Mais que isso, porém, é a situação econômica quem inibe os investimentos, pois se houvesse necessidade de novas linhas ou de aumentar a produção, o mercado encontraria uma forma de comprar, mesmo com o câmbio no patamar atual”. Na foto sem luz e cor do momento, Piazzo considera sofrerem menos as injetoras orientais hidráulicas, dotadas de servo motor na bomba . No compartimento das elétricas, afirma, os danos foram piores por se tratarem de máquinas mais caras, embora de custo de produção inferior ao das injetoras hidráulicas, na garupa da economia energética proporcionada. No olho desse redemoinho, o agente destaca as portas abertas para sua injetora elétrica EC 180S, amparada pela sua excelência e um preço condizente com esses tempos de vacas de costelas à mostra.

Sopradora híbrida Pavan Zanetti: largada das vendas.
Sopradora híbrida Pavan Zanetti: largada das vendas.

“Será que a queda nas vendas no primeiro semestre continua, se estabiliza ou retornaremos ao crescimento”, deixa no ar sem resposta Newton Zanetti, diretor da Pavan Zanetti, motor 4.0 das sopradoras nacionais. “O que sentimos é forte crise de confiança no governo e daí não haver clima para investimentos”, ele sintetiza. “Crédito oneroso e restrito pesa para aprofundar a crise, mas o principal fator é a questão da confiança em um governo fraco e sem rumo, sem resultados imediatos capazes de propiciar uma inversão na redução do PIB e na curva da inflação”.
Ao debruçar-se sobre seu portfólio, Zanetti consta maior demanda no primeiro semestre por suas sopradoras de PET. “Estão intimamente ligadas a setores menos abalados pela redução do consumo, entre eles água, domissanitários e alimentos”, ilustra. “Tem havido crescente migração de envases de polipropileno (PP) e polietileno de alta densidade (PEAD) para PET”. Para envenenar seu carro na disputa desse rali, a Pavan Zanetti introduziu no primeiro semestre a sopradora Petmatic sistema 7.000. “Tem capacidade horária média de 7.000 frascos com cerca de 13 g para envase de 500 ml e dá conta de recipientes de até 1.500 l”. Entre os plus do lançamento, visando produtividade e redução do ciclo, Newton Zanetti atenta para o CLP nacional; fechamento mecânico- elétrico, equipado acionamento de um motoredutor com travamento mecânico e a mudança do sistema de transferência do carrossel para o deslocamento acionado por servo motor. Apesar da sibéria de janeiro a junho passado, a Pavan celebrou um golaço ao vender a duas primeiras unidades de sua recém-chegada sopradora híbrida. “Não fosse a retração, as vendas seriam maiores”, lamenta o diretor. “Não posso abrir os clientes, mas uma das linhas seguiu para o Uruguai e a outra já opera numa indústria daqui, forte no mercado de produtos de limpeza”.

Hece: sem entregas de termoformadoras até junho.
Hece: sem entregas de termoformadoras até junho.

Termoformadoras são aves de outra plumagem, de mercado bem mais afunilado que o de injetoras e sopradoras. As diferenças, porém, não livram o segmento dos socos desferidos pela crise com a mesma intensidade dos recebidos pelas demais máquinas. “Vendemos e entregamos 10 termoformadoras em 2014 e zero no semestre passado”, sintetiza Luiz Fernando do Valle Szverzut, diretor da Hece, aliviando de leve o drama ao revelar a produção de três máquinas de janeiro a junho último, uma delas com entrega agendada para julho. “Hoje estamos num cenário sem hipocrisias governamentais, sob taxas de juros mais altas, sem geração de empregos e arrecadação em queda”, descreve. “Assim fica muito difícil para o transformador investir na renovação ou aumento do seu parque fabril”. Apesar dos pesares, Szverzut salienta o empenho da Hece em lapidar a produtividade de suas termoformadoras para copos, potes e tampas industriais mediante recursos como sistemas de empilhamento de ponta e baixando o consumo de energia por obra de resistências superiores, de modo a duelar no patamar da concorrência importada, em especial as linhas alemãs, ele distingue.
Referência nacional em linhas de rotomoldagem, a Rotoline sente um choque na carteira. “Viramos o ano passado com toda a produção da primeira metade de 2015 garantida, mas de janeiro a março último as vendas foram muito baixas, afetadas pela crise econômica e política”, expõe a gerente comercial Kadidia Umar, repartindo por igual seu movimento de janeiro a junho entre máquinas pra laboratórios e versões de grande porte, como o automatizado modelo carrossel CR 5.20/3.

Rotoline: vendas de linhas de rotomoldagem travadas pela falta de financiamento.
Rotoline: vendas de linhas de rotomoldagem travadas pela falta de financiamento.

“Ainda passaremos por alguns meses de recessão e com o empresário temeroso em investir; mas precisamos estar preparados para a retomada”. Essa esperança, ela deixa calro, é o mote de melhorias recentes nas linhas da Rotoline, a exemplo do sistema automático de pesagem, alimentação, abertura e fechamento de moldes. Kadidia também acena com o sistema semiautomático de pesagem e alimentação, dotado de software de interface facilitada para o operador. O desenvolvimento se aplica à modernização de qualquer linha de rotomoldagem e é visto por Kadidia como solução para eliminar o método arcaico do baldinho.
Como a crise chegou à agricultura e como secaram as verbas do governo para combater o déficit habitacional no país e a estiagem no semiárido, o negócio de cisternas e caixas d’água de polietileno, a menina dos olhos da rotomoldagem, levou traulitada abaixo da medalhinha. Não foi outro o motivo pelo qual uma fera nesses reservatórios no país, a Acqualimp, fechou operações como sua unidade na mineira Montes Claros. “A venda de máquinas depende muito de crédito, hoje caro e limitado”, ela reconhece. “Muitas das nossas vendas no semestre passado foram fechados com recursos dos próprios clientes e, infelizmente, vários deles seguem aguardando a liberação de financiamento para comprar a máquina”. O campo promete ter boa safra este ano, considera Kadidia, e o agricultor precisa investir em sua estrutura para assegurar resultados. “Mas sem crédito ele não vai crescer e isso acaba afetando outros setores”. Mas a executiva não atira a toalha. “Com a chegada do verão e a crise hídrica não solucionada, o aumento do consumo de caixas d’água e cisternas reverterá em expansão da sua produção e, nesse contexto, o transformador poderá aproveitar a oportunidade para ampliar seu parque de rotomoldagem”.
Na raia das extrusoras, Rulli Standard e Minematsu não deram entrevista, assim como a Intermarketing Brasil, agente de diversos tipos de máquinas importadas, e a base de vendas no país da Husky, grife canadense de injetoras. Por seu turno,foi noticiada em 5 de agosto a falência decretada da subsidiária da alemã Bekum, ex-fabricante de sopradoras por extrusão contínua em São Paulo. •

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