A pior recessão da história do Brasil pegou o setor plástico de guarda baixa, lesionado na demanda e no caixa e obrigado a repensar seu perfil para não cair do estribo nos novos tempos que se avizinham. Afinal, em meio à barafunda no charco da política e às contas públicas que não fecham, a cadeia do plástico sente os solavancos de uma repaginação na marra. Para começar, a falta de competitividade em matérias-primas no Brasil para duelar com o gás natural norte-americano, estancou, até segunda ordem, qualquer investimento na expansão da petroquímica nacional. Com isso, o país passou a figurar mais como mercado do que como produtor no cenário global dos termoplásticos.
Com pulmão de fumante em finanças, a indústria brasileira de transformação hoje presencia, atordoada, a pressão simultânea de uma série de revoluções que começam a virar, no mundo desenvolvido, os mercados, aplicações e o consumo final de ponta cabeça. Uma dessas bombas relógio chama-se impressão 3D e uma amostra do seu poder de influência é dada por uma aposta da grife Adidas, de roupas e calçados esportivos, na manufatura inteligente. Em sua sede na Alemanha, a Adidas criou Futurecraft 3D, série de tênis produzidos com impressão 3D e cuja sola pode ser confeccionada sob medida. Da fábrica para a loja será um pulo natural dessa tecnologia.
Outras reviravoltas já visíveis no horizonte do I Mundo, com consequentes sacolejos na indústria plástica global, chamam-se embalagem inteligente e mobilidade humana. A primeira embute uma faxina em regra nos conceitos norteadores do desenvolvimento de embalagens e do consumo dos produtos acondicionados.Isso decore da junção dos plásticos a especialidades químicas “inteligentes” e até internet das coisas para aprimorar requisitos como shelf life, reduzir o descarte orgânico, minimizar a quantidade de matéria-prima empregada no acondicionamento, monitorar a degradação do produto envasado ou indesejáveis variações térmicas capazes de incidir sobre ele. Por seu turno, a mobilidade urbana ruma para dar uma mexida de 180º na indústria automobilística, através de iniciativas afinadas com a economia circular, como o compartilhamento de veículos ou os carros elétricos e autônomos aposentando determinadas autopeças e alterando o espaço interno hoje preenchido com componentes de plástico. Do lado fabril 4.0, uma amostra do que vem por aí é a fábrica norte-americana da sistemista Faurecia, equipada com veículos autônomos capazes de aprender sozinhos as rotas internas de transporte de material.
Uma força motriz da mobilidade urbana é a saída do carro do pódio dos objetos de desejo da geração Y, deixando as montadoras numa enrascada. Afinal, do outro lado do ringue, há a crescente população da terceira idade, bem menos propensa a comprar carros novos e a esbanjar no consumo em geral. Retomando o fio, a nova geração de consumidores também prima por valores e comportamentos distintos dos antecessores, caso do seu engajamento na sustentabilidade e economia circular, exigindo que o setor plástico saiba dançar conforme a nova música.
O setor plástico do Brasil tem ao alcance da mão uma oportunidade única de imergir no caldeirão em brasa desses sinais de um admirável mundo novo. Eles dão forma às palestras, a cargo da nata dos experts, que integram o 7º Seminário Competitividade, realizado por Plásticos em Revista e a Abiplast e programado para 14 de setembro em São Paulo.
Ditado nerd: “conhecer é, literalmente, predizer”. •