Na gestão anterior da Abief, intensificou-se a montagem em Manaus de filiais de transformadores capitalizados de flexíveis do Sul/SE. Este movimento tende a se esgotar a partir de 2025 ou deve continuar no mesmo pique presenciado nos últimos anos? Por quais motivos?
Grande parte das empresas já se instalou na região. Contudo, ainda temos outros transformadores estudando o mesmo movimento. A justificativa é simples: de alguma maneira todos buscam trabalhar em regiões que ofereçam incentivos, especialmente em momentos como o atual em que a macroeconomia segue incerta e há desaceleração no consumo das famílias. Além disso, cabe considerar a a reforma tributária, prevista para entrar em vigor, na sua totalidade, em 2033 e pela qual a Zona Franca permanecerá com todos os incentivos legais vigentes. Como bem lembrou meu antecessor, Rogério Mani, em recente entrevista a Plásticos em Revista, “as grandes empresas já se instalaram na região e as médias buscam seu espaço. Como o grande volume está nos grandes fabricantes e as exigências estão maiores, acredito que a tendência seja de uma diminuição considerável a partir de 2025, não esquecendo que os custos logísticos, de instalações, mão de obra, energia são elevados em Manaus, o que poderá reduzir essa atratividade.” Reforço a opinião do Rogério, pontuando que a decisão sobre o que produzir no polo de Manaus é uma equação que envolve custo x mercado x logística. Nesta ou em qualquer outra região, os transformadores sempre buscarão atender aos clientes da melhor forma possível; não importa onde produzam. É importante que todos os fatores envolvidos, incluindo a localização, resultem na melhor rentabilidade para ambos os lados.
À sombra do Mercosul, a Argentina tem sido o maior destino das exportações brasileiras de transformados de plástico, lideradas por bobinas de filmes. Quais as oportunidades e desafios percebe para nossas exportações de flexíveis na hipótese de o presidente Milei levar adiante sua intenção de afastar a Argentina do Mercosul em favor de opções como um acordo bilateral comercial com os EUA?
Tem diminuído o número de jovens interessados em cursos técnicos profissionalizantes ou no ensino superior ligado aos plásticos. Devido a isso, setores como o de flexíveis deparam com dificuldades para preencher vagas nas linhas de produção com pessoas da nova geração. Como a Abief poderia contribuir na prática para mudar este quadro preocupante?
Se por um lado, os jovens têm olhado mais para áreas como mercado financeiro e TI, por conta de um retorno mais imediato, por outro vemos que escolas técnicas como as unidades do Senai têm se esforçado para modernizar sua plataforma de cursos e áreas de atuação, justamente para atrair esses talentos mais digitais para setores tradicionais como a indústria de transformação do plástico. Por mais que as oportunidades das novas áreas sejam interessantes, ainda é fato que a indústria, inclusive a nossa, é uma grande geradora de postos de trabalho. Apenas no setor de embalagens plásticas flexíveis são quase 4.000 empresas gerando empregos. Estudo recém divulgado pela ABRE/FGV também mostrou que, em dezembro de 2024, foram registrados 273.967 trabalhadores no setor de embalagens como um todo, representando 3,4% da indústria de transformação. Se considerarmos que o segmento de embalagens plásticas (rígidas e flexíveis), responde por quase 35% do valor total da produção, dá para imaginar que o volume de postos de trabalho realmente é expressivo.
Por tudo isso, incentivo os associados da Abief e os fabricantes de embalagem em geral a apoiarem o desenvolvimento de novos talentos a partir das escolas técnicas. Iniciativa da mesma importância é trabalharmos a imagem do plástico para desmistificar o preconceito ente os jovens e evidenciarmos o valor do material. Boa parte da evolução da sociedade se deve ao plástico e o futuro do material pode ser valioso se associarmos seus benefícios intrínsecos à responsabilidade da indústria na construção de soluções ambientais que envolvam a cadeia de valor da embalagem, governo e sociedade.
Apesar das mudanças climáticas e do mega déficit na armazenagem de grãos, aplicações de flexíveis no agronegócio, como silos-bolsas, geomembranas e estufas, não deslancham com intensidade satisfatória devido à carência e complexidades de linhas de financiamento. Como a Abief poderia contribuir para ajudar a facilitar o acesso do agricultor menos capitalizado às soluções de flexíveis?
Em 2024, o governo elevou para 20% as alíquotas de importação de resinas. O ano fechou com a entrada de mais de 1 milhão de toneladas acima do saldo de 2023. Por que essa medida para refrear as importações não funcionou? Deveremos deparar, no setor de flexíveis, com resultados dessa mesma magnitude no exercício de 2025?
A Abiquim pediu em 2024 abertura de investigação antidumping para polietileno dos EUA, o maior fornecedor internacional dessa resina para o Brasil em 2024. Como avalia as possibilidades de a medida antidumping se concretizar este ano, sob o risco anunciado de réplica norte-americana, pela política de reciprocidade comercial instituída pelo presidente Trump?
Quais são as metas e principais ações de sua gestão no comando da Abief e quais os principais desafios concretos que enxerga pela frente?
Entre os pilares da minha gestão, destaco governança e sustentabilidade dentro de um modelo de trabalho que prevê um maior – e melhor – relacionamento entre todos os elos da cadeia de valor das embalagens plásticas flexíveis e do plástico em geral. Precisamos mostrar todos os atributos das embalagens flexíveis e valorizar o plástico e suas inúmeras vantagens. A partir de uma comunicação eficiente com o público interno (associados da Abief) e externo (mercado, consumidor final e governo), precisamos explorar conteúdos e canais que ajudem a educar a sociedade sobre o plástico e desconstruir inverdades ou preconceitos.
Também enxergo ser de extrema relevância nos preocuparmos com a entrada, em larga escala, de produtos transformados no Brasil, face ao ‘momento Trump’. Estamos lidando com fretes internacionais favoráveis, preço do petróleo estável e disponibilidade de matérias-primas a partir de novas plantas petroquímicas na Ásia. Ou seja, elementos que facilitam a viagem dos flexíveis para o Brasil. É sobre isso que precisamos estar atentos também.
Além disso, julgo fundamental para o meu mandato a interação com outras associações setoriais, para atender aos interesses em comum. Espero abrir as portas da Abief para entidades parceiras, cujos projetos e ações tenham um denominador comum: entregar os melhores produtos e as melhores embalagens para a sociedade, com foco na redução do desperdício de alimentos (save food) e na garantia de segurança alimentar (food safety), dois pilares cada vez mais fortes em termos globais totalmente alinhados aos princípios de ESG.