“O mundo faz muito menos sentido do que se pensa. A coerência vem do jeito que nossa mente funciona”. A frase do psicólogo Daniel Kahneman, Nobel de Economia e luminar da economia comportamental, cai feito luva para ilustrar um cenário na transformação empacado por quatro anos de alta ociosidade, crédito caro e seca nos investimentos. Mas três empreendedores resolvem dar as costas para ele e embarcar na aventura de um negócio metido num vespeiro de competidores: a montagem de equipamentos periféricos para pequenas e médias empresas. Pois não é a primeira vez que o bom senso geral apanha feio do faro pessoal. “Fechamos 2018 com o triplo do volume de vendas anterior”, comemora Marcel Brito, sócio executivo da Vizuri. “Nos últimos dois anos trabalhamos pesado na constituição do portfólio e desenvolvimento de parceiros de qualidade, pontualidade e custo. O próximo passo será criar receitas completas para cada máquina, permitindo seu auto ajuste conforme a ordem de produção na fila”. Não por acaso, Vizuri tem dois significados no dialeto africano suaíli: bem e visão.
“A decisão de criar a companhia numa conjuntura conturbada veio da certeza de tratar-se de um período passageiro de baixa demanda, suficiente para estruturar e preparar a fábrica para atuar na retomada”, racionaliza Brito. “Hoje em dia, nossa capacidade instalada está toda tomada, aumentamos o quadro de pessoal e, para não comprometer o cronograma das entregas, temos investido no estoque de equipamentos semi acabados”.
A razão de ser da Vizuri, ele sumariza, é oferecer serviço técnico diferenciado, soluções de automação e recursos para o transformador extrair a máxima performance de suas máquinas básicas. Sem discurso nem foguetório, a unidade da Vizuri largou em abril de 2017 em Mauá, Grande São Paulo, com o controle societário dividido entre Brito (82%), Fernando Nascimento (12%) e Adriano Vieira (6%). A propósito, Brito por ora se desdobra vestindo dois chapéus: além do balcão dos periféricos, permanece representante comercial no mercado paulista da Carnevalli, fabricante de extrusoras de filmes e flexográficas. “Como o mostruário da Vizuri complementa e automatiza as linhas de extrusão, levo aos clientes uma solução completa”.
Para intervir com ênfase em favor da subida na qualidade, controle do processo e redução de custos e tempos de set up, a Vizuri firmou aliança com a empresa de softwares Prodwin. “Isso abriu a possibilidade de oferecermos ao transformador a junção das máquinas com o sistema integrado de gestão (ERP) dele”, explica o diretor. “Por exemplo, através do nosso dosador gravimétrico e do sistema VZ plus controlamos todas as variáveis da extrusão de filmes mono e coex, como as temperaturas de cada zona e do ar de resfriamento, largura do balão, velocidade da linha, consumo energético, gramatura e composição de blends de resinas. “Através da incorporação do sistema de execução da manufatura (MES) criado pela Prodwin, incluímos o controle da aferição da eficiência do processo e dispomos de um módulo de planejamento e controle da produção, controle estatístico do processo e acompanhamento para manutenção preventiva e corretiva”.
Para Brito, os dosadores gravimétricos da linha Platino devem tornar-se o item-chave do mix a curto prazo. “Controlam o processo pela conexão com os inversores da rosca principal e do puxador, enviando assim a quantidade precisa de material para manter constante a gramatura”, ele descreve. “Podem ser acessados à distância, emitem relatórios de consumo de cada material dosado, mostram o gasto energético por quilo de filme produzido e possuem recursos de parada automática de máquina e de set up, reduzindo assim a quantidade de aparas geradas nas trocas de linha”.
O balcão da Vizuri também contém dosadores gravimétricos na linha Oro. “Seu foco é a mistura homogênea de granulados ou moídos e podem ser instalados sobre injetoras, sopradoras ou extrusoras, atuando ainda como central de dosagem para abastecer um silo”, sintetiza Brito.
Por seu turno, a linha Smart reúne cristalizadores de PET, desumidificadores e secadores de polímeros em geral. Já os dosadores volumétricos estão a postos na linha DV. “Atuam através de rosca especial, dosando principalmente aditivos e acenam com a possibilidade de salvar até 100 receitas”, atesta o dirigente. No embalo, ele distingue a oferta de soluções completas de alimentação centralizada, passando pelos sistemas de armazenagem, centrais de distribuição, tubulação, bombas de vácuo, filtros de ar e alimentadores. “O maior diferencial delas é o software com controle dos níveis de estoque, geração de relatórios de consumo e integração com o sistema ERP”, ressalta o fabricante, fechando o mostruário com a linha de esteiras.
A briga de foice no ninho doméstico de periféricos promete agravar-se no governo Bolsonaro, à sombra da apregoada redução gradual das alíquotas de importação num dos mercados mais fechados do planeta. Brito percebe na política econômica uma via para a Vizuri aumentar a competitividade se, em contrapartida, a indústria nacional como um todo tiver sua carga tributária reduzida. “No geral, o país só tem a ganhar e a Vizuri poderá agregar a seus equipamentos componentes eletrônicos de primeira linha tornados mais acessíveis pela abertura”. Na mesma trilha, ele não descarta a possibilidade de a empresa também operar como representante de marcas internacionais de periféricos fora do seu mix.
“Continuaremos ampliando o portfólio de fabricação própria, mas sempre receptivos à oportunidade de agregar ao fornecimento equipamentos de alta tecnologia, como medidores de espessura, anéis de ar automáticos ou linhas especiais para cristalizar flakes de PET”, estabelece Brito. •