Pente-fino do governo situou em torno de R$ 115 bilhões em 2018 a sonegação resultante de falsificações e fraudes à solta no Brasil. A gravidade do problema pode ser medida pela instituição da data de 3 dezembro, por lei promulgada em 2005, como Dia de Combate à Pirataria e Biopirataria. Pela calculadora da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a pirataria tolhe a criação de 1,5 milhões de empregos formais na média anual. O setor plástico não está imune a essas práticas ilegais e sua vulnerabilidade trouxe à superfície as soluções que mesclam química e TI da Ciclopack, empresa fundada pelo CEO Leonardo Roriz Coelho; seu pai, José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Basileira da Indústria do Plástico (Abiplast), exerce o posto de chairman; Cláudio Marcondes responde pelos encargos operacionais (COO) e Ricardo Leite pela área financeira (CFO). Nesta entrevista, Leonardo expõe como as inovadoras ferramentas de sua empresa podem contribuir para minar o contrabando e coibir fraudes e falsificações pelo controle da cadeia produtiva do cliente.
Qual a motivação para criar a Ciclopack?
Percebemos o rápido avanço do conceito da Indústria 4.0 e de premissas da economia circular, como a destinação de embalagens pós-consumo à reciclagem, no setor de manufatura. Por sua vez, estudos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) constatam crescimento do mercado de produtos ilícitos mas não indicam soluções para empresas reverterem esse quadro. Veio daí, portanto, a inspiração para fundarmos a Ciclopack. Ela possui tecnologias de marcação/traçadores e espectrofotômetros (portáteis e próprios), cujo uso em conjunto gera soluções de autenticidade, rastreabilidade e segurança para a embalagem e/ou produto.
Como são utilizados os traçadores nas suas soluções de autenticidade, rastreabilidade e segurança?
Os traçadores são entregues via masterbatch adequado a qualquer processo de transformação. Ele é inserido no funil de alimentação da máquina e a embalagem produzida fica 100% identificável pelo sistema Ciclopack. Também conseguimos definir concentrações específicas para cada produto ou família, caso se queira diferenciar linhas de itens para inibir fraude e falsificação. Nosso trabalho se estende ainda ao uso do Leitor Ciclopack, um exclusivo espectrômetro pericial, para checagens dos traçadores onde for conveniente, já que o equipamento é portátil. A propósito, o mercado internacional dispõe de empresas de marcadores/traçadores e de espectrometria laboratorial. Mas desconheço no exterior o modelo de negócio com base no leitor portátil.
Qual a estimativa de custos para uma empresa adotar a tecnologia da Ciclopack?
Esse foi um ponto crítico no planejamento do negócio, pois de nada adiantaria desenvolvermos a solução se ela encarecesse de modo significativo a unidade da embalagem e/ou o produto. Somos flexíveis para ajustar o valor de venda dos traçadores em masterbatches, aumentando o mínimo possível o valor unitário do artefato transformado. O espectrofotômetro terá um preço na faixa de R$ 10 mil a unidade, contra US$ 200 mil de um equipamento de laboratório. O software possui uma taxa de licença e uma taxa mensal para se manter no ar, permitindo ao cliente monitorar a operação em tempo real. No entanto, ele é um recurso opcional, pois enviamos relatórios semanais com as informações coletadas pelo sistema Ciclopack.
Como avalia a hipótese de produtores de resinas, por exemplo, contratarem a tecnologia de autenticidade, rastreabilidade e segurança para os materiais que vendem?
Se pensarmos nas tecnologias de traçadores Ciclopack, no final das contas saberemos se o produto é da petroquímica A ou B. Como temos uma família de traçadores e existem produtos de valor agregado muito alto, oferecemos alternativas de soluções mais específicas. Um copo descartável com traçador, por exemplo, não teria tanto sentido quanto um frasco de fertilizante, de valor agregado maior. Temos, portanto, a solução para atender o fornecedor de resina e o transformador.
Quais as vantagens acenadas pelas soluções da Ciclopack no âmbito do roubo de cargas ?
Não evitamos o roubo, porém – a partir de nossa solução de rastreabilidade com uso de datamatrix por unidade, ou seja, tendo cada embalagem um DNA e um CPF – a empresa consegue dar recall apenas nos produtos que foram roubados, não invalidando um lote inteiro que, muitas, vezes utiliza o mesmo código bidimensional (QR Code ou datamatrix).
Quais os diferenciais de suas tecnologias para impedir falsificação e fraude de produtos e embalagens?
Hoje em dia, a embalagem possui algumas tecnologias de segurança OVERT, ou seja, que são aparentes. Por exemplo, lacre, selo e holograma. Porém, todas essas soluções são fáceis de copiar e fraudar. Para conseguir blindar a cadeia de suprimentos do efeito dos ilícitos, uma empresa necessita de algumas tecnologias COVERT. Por meio delas, não é possível se enxergar e verificar a olho nu nem copiar ou fraudar. A Ciclopack entrega uma blindagem em nível pericial incopiável por falsificadores e fraudadores. Mesmo se, por acaso, alguém roubasse nosso traçador, não conseguiria definir a concentração exata dele na embalagem. Em suma, inserimos o masterbatch contendo nossos traçadores na máquina básica para transformação. Após o processo, as embalagens saem 100% traçáveis e marcadas. A seguir, distribuímos o Leitor Ciclopack nos pontos de interesse do cliente. Um responsável pela leitura da espectrofotometria realiza as verificações. Calculamos e organizamos as informações na nuvem (Cloud) e as disponibilizamos pelo nosso painel de controle ou relatórios. Vale o mesmo esquema para a tecnologia de rastreabilidade, diferindo apenas numa etapa seguinte à inserção do master com traçadores na máquina básica: a impressão de um código bidimensional com as informações unitárias de cada embalagem. Também dispomos de equipamentos para a leitura automatizada desses códigos.
Nosso diferencial é que até mesmo um leigo, de posse do nosso leitor e do aplicativo, pode dizer se uma embalagem é verdadeira ou falsa em 10 segundos – algo inédito e impensável até pouco tempo atrás. •