Por anos a fio, Plásticos em Revista manteve a seção Fábrica Modelo no conteúdo editorial. Como o nome já diz, o espaço destinava-se a apresentar ao mercado operações fabris da transformação cujas mostras de excelência poderiam inspirar outras indústrias a adotá-las, contribuindo assim para o progresso geral de um setor que, aliás, volta e meia enfia benchmarking, produtividade e coisa e tal nas suas falas, seminários e feiras.
Na prática, Fábrica Modelo era montada assim. Transformadores de todos os tamanhos (um critério democrático) constituíam o alvo de uma bateria de questões. Típicas indagações da pauta: a empresa dispunha de qual quantidade e idade média do seu parque de máquinas e a frequência com que ele era ampliado e modernizado, ou então, quais as ações tomadas ou planos para reduzir o refugo gerado em linha, controle de qualidade, economizar água e energia, incrementar a automação do processo, reciclar os conhecimentos do chão de fábrica e seus gestores. Para coroar a linha de passe com um alô à sustentabilidade, perguntava-se qual o destino dado às aparas da produção – se eram recuperadas internamente ou repassadas a recicladoras para reuso na mesma empresa ou venda na praça.
Está na cara que estrelar as páginas de Fábrica Modelo joga bons fluidos sobre a empresa e o entrevistado. Ambos saem bem na foto aos olhos de fornecedores e clientes, show sem contra indicações. Na prática, porém, a impressão é de que os convidados para a entrevista não achavam lá essas coisas aproveitar a deixa para dar um plus na imagem de sua indústria com base não em publicidade ou release, mas na credibilidade advinda de jornalismo sem rabo preso e chapa branca.
A cada edição era um parto a fórceps no escuro conseguir alguém para o espaço de Fábrica Modelo. De hábito, as fontes contatadas sequer respondiam ao pedido de entrevista ou, quando topavam, emudeciam diante do teor das perguntas e não davam mais a menor pelota à Redação. O quadro deu margem a algumas deduções tiradas de um ponto de vista generalizado ou realista – o leitor escolhe o adjetivo. Uma delas: hoje em dia, quem não sabe se comunicar não pode ser chamado de profissional. Outra: é uma noção 100% obsoleta inferir que as referidas perguntas da entrevista perigam escancarar um “segredo de fábrica”. Ora, ora, a informação do tipo em vista para a reportagem circula em tempo real no cotidiano do plástico. Em termos da concorrência na indústria, os homens são hoje separados dos garotos pela barreira tecnológica, que também é uma barreira de capital. Ela depende bem mais da lapidação dos conhecimentos de quem roda a planta do que nos equipamentos disponíveis, todos aliás resultantes de produção seriada, oferecidos a gregos e troianos e seus recursos e diferenciais são apregoados a torto e a direito.
A realidade transmitida pelo mercado assinou o atestado de óbito de Fábrica Modelo. Não vai lamento, ira ou desabafo neste comunicado à praça. Simplesmente o setor de transformação deixou claro durante todos esses anos em que a seção lutou – e como lutou – para viver que prefere deixar tudo quieto, do jeito que está. Ou seja, os arautos do ramo martelam com gosto a bigorna da falta de competitividade devido ao Custo Brasil, mas a indústria descarta a ideia de se deixar a conhecer um pitaco além da superfície e dos auto elogios. Até hoje, por exemplo, levantamento algum sobre o parque industrial da transformação de plástico foi feito.
Melhor mudar de assunto e de seção. •
2 Comentários
Lamento que esta seção tenha sido encerrada , e pelos motivos expostos não poderia ser diferente , acho que o uma parte do empresariado brasileiro tem muito que amadurecer , vejo no meu dia a dia , o medo que alguns dirigentes tem de falar do seu negocio , com medo que a concorrência possa se valer disso para se aproveitar de alguma brecha , infelizmente nem todos perceberam que o mundo esta globalizado , e todos tem acesso a tudo que queiram , as vezes com um simples click no teclado , ainda não perceberam que quando coisas boas são compartilhadas todos ganham , todos crescem e amadurecem , e hoje qualquer um que tem capital pode fazer o que quiser , porque temos acesso a tudo , o que diferencia uma empresa da outra é sua ética , seu profissionalismo e o compromisso com a qualidade de seus produtos , serviços e com a sociedade , e isto não se compra e não se cria nem se copia , isto se chama comprometimento !!!
É uma pena que esse protecionismo retrógrado atinja nossos empresários e ao invés de se orgulharem por serem pioneiros em suas técnicas se isolam dentro de um mundo contemporâneo voltado para o compartilhamento.
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